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Nos últimos 30 dias, cerca de 6.000 pessoas chegaram à região, parte delas viveu o auge do garimpo nos anos 80
Serra Pelada vive segunda "febre do ouro"
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SERRA PELADA
Como dizem os garimpeiros de
Serra Pelada, "o ouro pode ter trazido mais miséria do que riqueza", mas 22 anos depois do início
da exploração do minério no local, parte da primeira geração de
garimpeiros retorna à área, no
que está sendo considerada a segunda "febre do ouro" na região.
Eles voltam com uma média de
idade entre 50 e 70 anos e com histórias, na sua maioria, de sofrimento e miséria.
Localizada no sudeste do Pará,
atualmente Serra Pelada é um distrito de Curionópolis, cidade localizada a 150 quilômetros de Marabá e 800 quilômetros de Belém.
Nos últimos 30 dias, cerca de
6.000 garimpeiros voltaram para
Serra Pelada -incluindo os 4.000
que estavam acampados do lado
de fora e entraram após longa negociação. A população local dobrou para mais de 12 mil pessoas.
A maioria deles vem de trem do
Maranhão até Marabá e depois
segue mais duas horas de viagem
de ônibus até Serra Pelada.
Nada comparável, ainda, ao auge do garimpo, em 1983, quando
estima-se que mais 80 mil pessoas
estavam atrás do tão sonhado filão de ouro, e Serra Pelada ficou
imortalizada pelas imagens de
um ""formigueiro humano".
O que está trazendo os garimpeiros de volta a Serra Pelada é a
reabertura de cem hectares do garimpo para a exploração, autorizada em setembro passado por
um decreto legislativo aprovado
pelo Congresso Nacional.
Há os que chegam dispostos a
explorar a terra manualmente em
pequenas cavas e também aqueles
que, mais idosos, apenas desejam
ser anistiados pela cooperativa do
garimpo para receber o direito da
parte do que for extraído mecanicamente a partir do próximo ano.
A chegada gerou um clima de
tensão no local, e o Exército e a
Polícia Militar tiveram que intervir (leia texto nesta página).
Sonho
Apesar das histórias de insucesso, a possibilidade de encontrar o
tal filão de ouro tem um fascínio
que "tira a razão", como se diz lá,
dos garimpeiros que chegam com
a esperança de ficar milionário.
"Vi muita gente ganhar dinheiro aqui, mas poucos ficaram ricos. Onde há ouro tem miséria
também. Conheci garimpeiros
que fretavam dois aviões: um para
ele e outro para levar só chapéu",
conta o garimpeiro Clarindo Bezerra Jardim, 65.
A aparente contradição de associar ouro e miséria se dissipa
quando se ouve casos contados
por Jardim de fortunas ganhas e
perdidas do dia para a noite.
Histórias como a do ""seu Julinho". O garimpeiro Fernando
Barbosa Gomes, 56, conheceu o
garimpeiro conhecido como "seu
Julinho", assassinado na década
de 80 após ter encontrado, diz ele,
a maior pepita de ouro de Serra
Pelada, que tinha mais de 50 quilos. "Ele tinha tudo para ficar milionário, mas quis continuar aqui
e se envolveu em brigas. Já vi o assassino andando livremente por
aqui", disse Gomes.
Os cem hectares autorizados
para a exploração estavam sob
concessão da CVRD (Companhia
Vale do Rio Doce), que continua a
explorar minérios como ferro e
cobre existentes nas serras no entorno do garimpo. Desta vez, a
Coomigasp (Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra
Pelada) planeja a extração mecanizada do garimpo com contratação de pouca mão-de-obra.
"Já carreguei muitos sacos de
terra e pedra na cabeça e até fraturei o pescoço em uma queda, mas
agora não tenho a mesma vitalidade de antes. Quero voltar a ser
um garimpeiro associado para ter
direitos por todo o sofrimento
que passei aqui", disse Francisco
Batista Lima, 74, um dos mais antigos da área.
A mecanização será necessária
porque, na antiga cava onde existiu o maior garimpo a céu aberto
do mundo, em meados da década
de 80, hoje existe apenas um lago
de quase cem metros de profundidade e contaminado pelo mercúrio, utilizado no processo de
purificação do metal.
Hoje, pelo menos mil garimpeiros ainda extraem ouro em escavações. Juntos, eles extraem em
média 500 gramas do metal por
mês. Levantamento do sindicato
da categoria aponta que, desde o
início do garimpo, cerca de 24 toneladas de ouro já foram extraídas da área e pelo menos 50 homens morreram no local por
questões ligadas à exploração.
Licença
Dados do DNPN (Departamento Nacional de Produção Mineral)
indicam que, de 1980 a 1990, o total de ouro extraído de Serra Pelada passa de 41 toneladas.
Mesmo sem a licença ambiental
do Ministério do Meio Ambiente,
que autoriza a exploração da área,
pelo menos mil garimpeiros já começaram a explorar o barranco
no entorno da cava.
"Já cavamos cerca de oito metros de profundidade e mais um
pouco vamos chegar no grande filão de ouro", aponta o garimpeiro
Antônio da Costa Cavalero, 63,
que improvisou um garimpo no
quintal de casa há uma semana.
Com a superpopulação, as autoridades locais temem o surgimento de doenças decorrentes de subnutrição e falta de higiene. Já falta
comida no garimpo, e o governo
estadual tenta minimizar o problema distribuindo cestas básicas.
Com a dificuldade de acesso, as
cestas não chegam de forma regular -na quinta-feira da semana
passada, 1.500 foram distribuídas.
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