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NO PLANALTO
Governo impõe mordaça ao funcionalismo
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No passado recente, a junção do PT com a máquina
de xerox interrompeu a carreira
de vários segredos nas repartições
públicas de Brasília. Infiltrado na
engrenagem do Estado, o petismo
abiscoitou dados sigilosos de sucessivas administrações, de Sarney a FHC.
Receando provar do próprio veneno, o governo do ex-PT adotou
a política da língua presa. Submetidos a uma espécie de centralismo informativo, os funcionários públicos são "aconselhados"
a evitar contatos com jornalistas.
Justo, muito justo, justíssimo.
Sob Lula, Brasília vive uma fase
de oba-oba. Que não pode ser
conspurcada pela desenvoltura
de jornalistas fuçadores. Ir muito
fundo na investigação de qualquer tema é um desserviço à causa da unanimidade.
O repórter que pergunta demais
é um chato que deve ser contido.
Pelo menos até entender que o
ambiente de oba-oba não comporta a velha dicotomia entre certo e errado. Agora só há o conveniente e o inconveniente. E a crítica não convém.
A situação de Lula reclama
compreensão. É dura a vida de
um presidente que luta para salvar a biografia ao mesmo tempo
em que cuida da unidade do
PMDB, que quer um ou dois ministérios, não uma boa reputação. Não é fácil dividir uma cena
que se pretendia renovadora com
atores antiquados como José Sarney.
A hora é mesmo de ajudar o governo. Vai aqui, a propósito, uma
sugestão: a censura deveria ser estendida ao primeiro escalão.
O que se depreende das declarações oficiais é que presidente e ministros não têm nada a dizer. Repetem idéias e conceitos de governos anteriores, sobretudo da gestão FHC.
A estratégia da língua presa pode estimular a suspeita de que a
administração petista se autoconsidera impublicável. Mas não se
deve enxergar na medida um viés
antidemocrático.
Está preservado o direito de
qualquer um de concordar inteiramente com o governo.
Iniciada na Presidência, a política da língua sitiada escala a Esplanada. É o que demonstra o documento reproduzido nesta página. Na SDE (Secretaria de Direito
Econômico), órgão que pende do
organograma da pasta da Justiça,
os funcionários já não podem dizer um "olá" aos jornalistas sem
pedir autorização aos superiores.
Justo, muito justo, justíssimo.
A SDE está na bica de analisar a
fusão Varig-TAM. O negócio tende a impor ao consumidor passagens mais caras e serviços mais
vulgares. Mas a transação é costurada sob os auspício$ do bom e
velho BNDES. De modo que o
questionamento não convém.
No Planalto, a gestão do cercadinho da informação foi confiada
ao general Jorge Armando Félix,
chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional). O correio
eletrônico dos funcionários vem
sendo bombardeado com orientações sobre o que convém: evitar
jornalistas, trancar portas e gavetas etc, etc, etc...
Informou-se em nota: "Eventuais indiscrições e inconfidências
podem prejudicar os órgãos detentores do conhecimento, as autoridades responsáveis, o governo
e o país".
O mais provável é que o esforço
se revele inócuo. Em pouco tempo, o ex-PT vai descobrir que os
funcionários "impatrióticos" são
tantos que não há número suficiente de militares para controlá-los. Sempre restará a alternativa de levar as línguas rebeldes ao paredão.
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