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JANIO DE FREITAS
A indagação
Passado menos da metade do mandato, a incógnita essencial que emerge do governo não se refere mais à parcela que, afinal, será cumprida
-supondo-se ainda que alguma coisa o seja- dentre as
promessas e compromissos
com que Lula atraiu o eleitorado a fazê-lo presidente.
Tal incógnita, comum a todos os governos eleitos, está suplantada pela variedade de indagações, menos ou mais inquietantes, que o fracasso de
Lula e seu governo impõe a
parcelas cada vez maiores da
população, como verificam as
pesquisas de opinião pública.
Nesse sentido, a semelhança
maior de Lula e seu governo
não é com Fernando Henrique
e o neoliberalismo. É com Collor e o governo que traria prodígios de justiça social e moralidade pública, e só produziu
decepção. Fernando Henrique
não produziu expectativas otimistas no eleitorado: foi eleito
pelo plano real, e nenhum segmento do eleitorado demonstrou, jamais, a esperança de
que governasse em contradição com o conservadorismo.
O PT e Lula, mas não só Lula
no PT, tornaram-se para o
eleitorado não conservador,
em seus diferentes matizes, a
alternativa derradeira. Eleitorado que cresceu com a saturação dos planos frustrantes e
dos problemas crescentes e se
tornou maioria. Por mais que
uma parte dessa maioria relute ainda em admitir que as
suas frustrações estão fortalecidas e agigantadas, talvez como nunca, pelo governo Lula,
frustrações não precisam ser
racionalizadas para serem efetivas.
É só observarmos, a propósito, que a proporção dos que
perdem a confiança em Lula e
no governo, seja qual for a pesquisa, é muito maior do que o
segmento da população informada pela mídia de que, apesar do arrocho sem precedente
nos gastos governamentais para pagar dívida e juros, a dívida em títulos saltou, com Lula,
de R$ 637 bi para R$ 760 bi no
mês de março. O próprio patrono da política econômica
de Lula, o FMI, reafirma que o
Brasil continua tão "significativamente vulnerável" quanto
estava antes de Lula.
Ou seja, a maioria eleitoral
não sabe que o argumento e a
finalidade da política recessionista não se confirmam na
prática. Mas, por seus mecanismos próprios, constata motivos para a perda progressiva
de confiança no que era a sua
alternativa restante. Se Lula e
o PT se revelam idênticos aos
governantes e partidos repelidos pela aspiração de alternativa, apesar da resistência conservadora a tal experiência, o
que decorrerá do fracasso
também da alternativa? O que
poderá advir, tanto do ponto
de vista institucional como do
ponto de vista da maioria, é a
incógnita principal que emerge, com presença crescente nas
reflexões suscitadas pelo governo Lula, na evidência da
grande frustração que se dissemina.
Os efeitos de grandes frustrações desse gênero são sempre
imprevisíveis. Mas nunca as
hipóteses mais consideráveis
são as mais otimistas. Sobretudo quando os sinais de exasperação predominam no campo
e nas cidades, e a descrença, na
política, como meio de solução
de problemas, é unânime.
O fracasso que Lula e seu governo constroem terá, se consumado como se prenuncia,
alcances muito além de um e
de outro.
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