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"CAPITÃO EM CAMPO"
Afirmações foram em jantar com amigos na sexta-feira em SP
Dirceu ameaça intensificar críticas a tucanos até eleição
VALDO CRUZ
EM SÃO PAULO
Homenageado por amigos em
jantar na sexta no apartamento
do jornalista-escritor Fernando
Morais, o ministro José Dirceu
(Casa Civil) prometeu uma série
de críticas aos tucanos e revelou
que foi a conjuntura internacional
que impediu um aumento maior
para o mínimo. Terminou a noite
numa mesa de bilhar sem ganhar
uma partida.
Defendendo a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
Dirceu disse que, se não fosse a
conjuntura internacional, "teríamos dado um aumento para o salário mínimo maior do que os
R$ 260". Era uma referência às
turbulências no mercado financeiro provocadas, em boa parte,
pela iminência de uma subida nos
juros dos Estados Unidos.
"Olha, somos um governo com
autocrítica. Sabemos as conseqüências de um mínimo de
R$ 260. Mas sabemos também
aonde queremos chegar. De nada
adiantaria fazer demagogia."
Durante o jantar, organizado
por Morais e Consuelo de Castro,
pouco se falou do caso Waldomiro Diniz. "Estou curado, é uma
página virada", disse Dirceu ao
tratar do episódio que o abalou
politicamente e levou o anfitrião a
reunir alguns amigos do chefe da
Casa Civil para homenageá-lo.
Já de governo, oposição e futuro, muito se disse. "Estou preocupado em fazer o governo andar.
Penso nisso 24 horas, nas obras de
infra-estrutura, saneamento. Vamos trabalhar para superar o desgaste", afirmou Dirceu.
Sobre oposição, ele acredita estar restrita aos tucanos. Questionado sobre a possibilidade de eles
derrotarem o PT em 2006 na disputa pela Presidência, foi irônico:
"O PSDB eleger o presidente em
2006? Esquece, é mais fácil o [Anthony] Garotinho se eleger".
O chefe da Casa Civil fala com
certa satisfação do que ele chama
de "pretexto" dado pelos tucanos
quando fizeram recentemente
críticas ao governo Lula. "Vamos
mostrar tudo de errado que eles
fizeram. Vamos comparar o que
estamos fazendo e os erros cometidos por eles. Tudo."
Mas por que não adotaram essa
estratégia na transição e no início
do governo Lula? "Ah, o país quebrava. Criava um clima que o país
não iria suportar", disse Dirceu.
Ao prometer críticas contra os
tucanos, comentou que vai começar a falar "aos poucos", insinuando que o tom vai crescer até
as eleições municipais. Disse também que, a partir de agora, vai
cuidar mais de sua "retaguarda".
Do que ele está falando? "Da bancada, do PT e da eleição em São
Paulo." Para isso, vai passar mais
fins de semana em São Paulo para
solidificar o que ele crê já estar ganho: a reeleição de Marta Suplicy.
"Espuma"
O ministro não acredita que a
fase ruim do governo, com a onda
de invasões de terras, greves de
servidores, desemprego em alta,
pressões de aliados por verbas e
cargos, possa afetar as chances do
PT nas eleições. "Não se pode
confundir desgaste governamental com potencial eleitoral. Isso é
espuma. Vamos trabalhar e, daqui a alguns meses, estaremos
bem melhores."
Conhecido crítico da política
econômica, o chefe da Casa Civil
evitou dar alfinetadas no colega
Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Disse estar afinado com Palocci
inclusive na questão do mínimo.
O mesmo não aconteceu com os
convidados, que estavam ali para
um ato de homenagem a Dirceu.
Sentados próximos, o economista João Sayad e o teólogo Leonardo Boff faziam críticas ao governo petista. "O risco congelou a
esperança. O Lula tem de ousar",
disse Boff. "Estou pessimista. Os
juros precisam baixar", comentou Sayad, ex-secretário de Finanças de Marta Suplicy.
Em outra roda, o ator Paulo Betti lembrava que o dia seguinte, sábado (ontem), era 1º de maio, Dia
do Trabalho. "Se o Lula comparecer às comemorações do 1º de
Maio, vai levar a maior vaia. Com
esse salário mínimo, é vaia na certa", disse Betti, ressalvando, porém, compreender não ser fácil
dar um aumento maior.
Por volta da meia-noite, o fotógrafo Sebastião Salgado desafiou
o ministro para uma partida de sinuca. Dirceu lembrou que costumava jogar em sua cidade natal,
Passa Quatro (MG). Acabou perdendo as duas partidas.
Acompanhado da mulher, Maria Rita, Dirceu foi um dos últimos a deixar o apartamento de
Fernando Morais, que fica bem
próximo ao do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em Higienópolis. O primeiro a sair foi o
arquiteto Oscar Niemeyer. Gripado e vindo do Rio de carro, Niemeyer foi escolhido por Dirceu
para agradecer a todos os convidados pelo apoio.
Algumas ausências foram notadas. O líder do MST, João Pedro
Stedile, telefonou pedindo o endereço. Não apareceu. Chico
Buarque disse que viria, mas acabou alegando problemas com
agenda para justificar sua falta.
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