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RUMO ÀS ELEIÇÕES
Para publicitário, passado oposicionista da vice de Serra "agrega"
Nizan quer explorar na TV atuação de Rita contra FHC
Ana Ottoni/Folha Imagem
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O publicitário Nizan Guanaes, no gramado de sua casa, nos Jardins, em São Paulo, acompanhado de seu cachorro, de raça white terrier |
RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL
Engana-se quem espera da campanha de José Serra constrangimento, ou no mínimo discrição, a
respeito do prontuário de votos
contra o governo de Rita Camata,
escolhida vice do tucano.
Nos planos de Nizan Guanaes, a
deputada peemedebista irá à TV,
quando chegar a hora, e assumirá
de forma explícita sua atuação
oposicionista no Congresso. Para
o publicitário, "isso mostra que
Serra vai agregar valores diferentes, promover mudanças".
Embora sustente que a crônica
política errou ao lhe atribuir a escolha de Rita em detrimento de
Pedro Simon, Nizan não economiza entusiasmo quando se refere
a ela. "Não é uma bonequinha."
Homem de FHC na campanha,
considera equivocado dizer que
suas conhecidas diferenças com o
pré-candidato foram colocadas
de lado na tentativa de manter o
PSDB na Presidência.
"Acho que foi tudo colocado
frente a frente mesmo. Ele está a
fim, e eu não quero ver o Brasil
mudar de rumo", disse.
Aos 44 anos, o marqueteiro espera não engordar na atual disputa os mais de 20 kg adquiridos nas
de 94 e 98. Nessa meta, conta com
o auxílio de um balão implantado
por endoscopia em seu estômago.
Espera também agregar ao Serra "capaz" o "sensível". Para tanto, já o mostrou brincando com
um bebê na televisão. Vai revelar
que o tucano é fã de Luiz Gonzaga. Tudo acrescido do fator Rita.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista feita na terça-feira, logo depois da primeira reunião do publicitário com Antônio
Lavareda, que assumiu a coordenação de pesquisas da campanha.
Como Nizan, o sociólogo trabalhou para Roseana Sarney e é
mais um dedo do Planalto na
equipe que tentará eleger Serra.
Folha - Por que tanta discussão
sobre colar ou não a imagem de
Serra na de FHC?
Nizan Guanaes - Acho que tem
de ser uma coisa ponderada. Nem
colar nem esconder. Serra não é
clone de FHC. Todos sabem que
ele sempre teve pontos de inflexão
em relação ao governo. Agora, é
claro que ele é governo.
Estamos diante de um falso dilema. O Serra definiu o posicionamento dele desde o início: continuidade sem continuísmo.
Folha - O sr. gosta desse slogan?
Nizan - Não. Isso não é slogan.
Tenho certeza, pelas pesquisas,
que as pessoas não querem mudanças bruscas. Elas querem
avanços. Se quisessem mudanças
bruscas, o PT estaria descendo o
cacete no governo. E você não vê o
PT fazendo isso.
Basta olhar esta declaração do
deputado Aloizio Mercadante: "O
Brasil melhorou muito". Ele diz
porque sabe, pelas pesquisas, que
dona Maria acha isso.
Agora, dona Maria também
acha que ainda tem muito para fazer. O PT vai mostrar o que falta
ser feito. Quanto falta para a gente
chegar ao porto. E nós vamos
lembrar o quão distante já estamos do cais. Esse vai ser o debate.
Colar ou não é uma falsa discussão, até porque o presidente agrega m-u-i-t-o. Tanto que, quando
ele começar a aparecer na campanha, você vai ver a oposição gritar.
Folha - Colar a campanha no governo é positivo para o legado de
FHC. Mas, diante do cenário econômico desfavorável e de um ambiente em que 50% das pessoas rejeitam votar em alguém apoiado pelo
presidente, não se trata de operação de risco para o candidato?
Nizan - Você tem 50% que não
pensam assim, e isso é um mar de
gente. Fazer o que Al Gore fez
com Clinton, afastar-se do presidente, é maluquice total.
Folha - Tucanos têm dito que pretendem polarizar a disputa com Lula, ignorando Garotinho e Ciro. Dada a situação embolada do segundo lugar, é viável essa estratégia?
Nizan - Se você observar os novos comerciais, verá que não estamos polarizando com ninguém.
No momento, estamos apresentando o Serra.
Agora, a polarização política
não foi criada por nós. Está aí há
oito anos. De um lado você tinha a
base aliada. Do outro, quem representava o confronto era o PT.
Folha - Suas campanhas para FHC
em 94 e 98 foram, ainda que em
medidas diferentes, dois vôos de
cruzeiro. Esta se dará na adversidade. Haverá sangue frio suficiente?
Nizan - Política é isso. Você não
pode achar que a vida inteira será
um passeio. Aliás, você não deve
achar isso nem quando está na
frente. Eu não engordei 20 kg, 30
kg à toa nas outras duas disputas.
Eleição é cabeça fria. Não é 100 m
rasos. É maratona.
E, se ainda enfrenta dificuldades, o Serra por outro lado já resolveu questões importantes.
Tem uma vice da melhor qualidade, com empatia, carisma, opinião e passado de luta social.
Folha - Para quem afirma que não
trabalhou pela indicação de Rita
Camata, o sr. demonstra bastante
entusiasmo com a escolha.
Nizan - Aonde Rita vai, sinto como mexe com as pessoas. O fato
de ela ter votado contra o governo
é muito interessante. Mostra que
o Serra vai ampliar o leque, agregar valores diferentes, promover
mudanças.
Eu não vou esconder as votações de Rita com a oposição. Pelo
contrário. Vou colocá-la na TV
dizendo: "Eu votei contra o governo FHC". É esse o papel da mulher. Mulher é ombudsman da vida. Diferentemente do que diz o
folclore, essa não foi uma escolha
de imagem, e sim política.
Folha - Por que política?
Nizan - Porque foram os políticos que tomaram a decisão, baseados em consultas e em critérios de viabilidade. É claro que
ouviram a opinião de pessoas de
marketing, de pesquisas, mas depois sentaram lá e decidiram.
É evidente que Rita soma. Basta
ver as reações elogiosas de gente
do PT, de Ciro. Ela tem uma história, não é uma bonequinha.
Folha - De Roseana Sarney, sua
cliente anterior, muitos diziam que
era uma bonequinha.
Nizan - A Roseana foi vítima de
alguns preconceitos ligados ao fato de ela estar em um partido mais
à direita, de ter origem nordestina, de ser filha de quem é.
A inteligência brasileira tinha
mais restrições.
Folha - Como o sr. interpretou a
morte de uma candidatura que
cresceu em suas mãos? A imagem
de Roseana construída nos comerciais poderia de alguma forma sobreviver ao episódio Lunus?
Nizan - Tomo cuidado para analisar. Se aquele caso tivesse ocorrido em ano não eleitoral, não sei se
teria sido abordado e julgado com
a violência que foi.
Ano de eleição é ano de muitas
injustiças. Não quero julgar a Roseana, até porque tenho uma simpatia enorme por ela. Vou fazer a
campanha dela para o Senado. A
dela e a do Tasso. Acho que um
dos meus papéis é agregar.
Folha - O sr. costuma dizer que esta eleição será um plebiscito. Mas
plebiscito não foi a de 98?
Nizan - Foi em 98, e continua
sendo. Porque o Brasil está num
processo. Tanto o PT compreende isso que mudou muito o seu
discurso. Só que o programa de
TV não combina com o programa
do partido.
"Quero aumentar o salário mínimo." Todo mundo quer. Mas,
se você quer aumentar o mínimo
sem fazer a reforma da Previdência, isso se chama João Goulart.
Nesse sentido, acho mesmo que
será um plebiscito. O Brasil precisa voltar a crescer? Sim. Tem de
gerar mais empregos? Sim. Qual
desses dois homens é mais preparado para fazer essas mudanças?
Folha - Pesquisas qualitativas
mostram que a dificuldade de fundo de Lula é o que analistas chamam de "problema de credenciamento", ou seja, parte expressiva
do eleitorado julga que ele não está preparado para exercer a Presidência. Quando esse fator começará a ser usado pelos adversários?
Nizan - O trabalho agora é apresentar nosso candidato. Mas essa
é uma preocupação das pessoas
que sempre pesa na hora H. O Lula está hoje em situação confortável porque não foi submetido a
nenhum questionamento fundamental. Em um dado momento,
isso vai acontecer.
Folha - E qual é a estratégia de
Duda Mendonça? Construir um colchão de adesão emocional que resista a esses questionamentos?
Nizan - Eu acho que é isso. Com
muita habilidade, com muita
competência, o Duda tenta preparar um estoque de apoio suficiente para aguentar o desgaste que virá com esse processo.
Folha - Há dois meses, o sr. declarou em palestra que o pior momento de sua carreira no marketing político foi o trabalho com Serra na
campanha de 96 para a Prefeitura
de São Paulo. As diferenças foram
superadas ou colocadas de lado?
Nizan - Não. Acho que foi tudo
colocado frente a frente mesmo.
Foi muita conversa. Ele está a fim,
e eu não quero ver o Brasil mudar
de rumo.
Folha - Causou espécie que o sr.
tenha recebido do governo a concessão de uma emissora de TV na
mesma semana em que foi formalizada sua ida para a campanha do
candidato oficial.
Nizan - Fui o primeiro a dizer
que o momento da concessão não
poderia ter sido pior, mas não
controlo isso. São coisas da vida.
Ganhei, como perdi outras vezes.
Uma coisa não tem nada a ver
com a outra. Se algumas pessoas
acham que tem, o que vou fazer?
O que pode haver de tão importante em uma emissora de UHF
em Santo André (BA)?
Folha - Gilberto Gil está com Lula.
Caetano Veloso ameaça ir de Ciro.
Antonio Carlos Magalhães aceita
tudo, menos o candidato do governo. O sr. é o último baiano ilustre a
permanecer com FHC?
Nizan - Você ainda vai ter surpresas nesta campanha.
Folha - Com algum dos citados?
Nizan - Não estou dizendo isso
(rindo). Este é um país livre. Mas
muito voto vai ser virado. A campanha mal começou. Agora estamos na Copa. Faltam 60 dias para
apitar o primeiro minuto do jogo,
a ser decidido em 6 de outubro. É
uma eternidade.
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