|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AVIAÇÃO
Lista técnica da Aeronáutica traz o Sukhoi Su-35 como favorito, mas negócio pode depender de carne e foguete
Russos lideram relatório para caça da FAB
IGOR GIELOW
COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA
A licitação para a compra dos
novos caças da Força Aérea Brasileira chega à sua semana decisiva
com o concorrente russo, o Sukhoi Su-35 Super Flanker, uma
cabeça à frente de seus adversários -o que não significa que ele
será o vencedor. Para ganhar, ele
conta agora com a tecnologia espacial russa e com a carne de porcos, frangos e bois brasileiros.
Isso porque o Su-35 está no topo
da lista técnica, elaborada pelo
Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento da Aeronáutica
que leva em conta apenas as capacidades militares dos concorrentes. A venda, estimada em US$
700 milhões, prevê a compra de 12
a 24 aviões que devem operar por
30 anos, substituindo os atuais
Mirage IIIEBR, quase caducos.
Segundo a Agência Folha apurou, o grande caça russo superou
seu principal adversário, o francês
Mirage 2000BR. Atrás dos dois, o
norte-americano F-16 C/D. Praticamente descartados estão o sueco-britânico Gripen, por seu alcance limitado, e o russo MiG-29,
que está ficando obsoleto. Todos
os aviões foram avaliados por pilotos e técnicos da FAB.
O Su-35 tem dois pontos fortes.
Primeiro, seu raio de combate
(1.500 km carregado) e alcance
(4.000 km) ideais para o tamanho
do Brasil. Segundo, seu sistema de
radar é o mais potente do mercado -pode rastrear 15 alvos e
""marcar" para abate até 6 ao mesmo tempo. Mas não é só a parte
técnica que interessa. Amanhã, o
relatório será entregue para o Alto
Comando da FAB, composto por
oito brigadeiros e o comandante
da Força, tenente-brigadeiro-do-ar Carlos Almeida Batista.
Na mesa, eles analisarão outros
fatores. Primeiro, o chamado offset, a política de compensação do
negócio que prevê retornos equivalentes ao que o Brasil vai gastar.
Aí entram os foguetes e os bichos. Os russos estão dispostos a
transferir tecnologia para veículos
lançadores de satélite. Isso resolveria uma dor de cabeça do programa espacial brasileiro, que há
anos tenta sem sucesso colocar
seus satélites com meios próprios
em órbita. E mais: prometem acelerar a abertura do seu mercado à
pecuária brasileira, uma prioridade recente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Em 1999, por exemplo, o Brasil
exportava 24 toneladas de carne
suína congelada para a Rússia. No
ano passado, foram 148 mil toneladas, gerando US$ 229 milhões
dos US$ 500 milhões que o país
registrou de superávit em relação
aos russos.
Também vende-se cada vez
mais frango para os russos. O Brasil vendeu US$ 67 milhões em
2001, contra apenas US$ 12 milhões em 2000. O problema é que
quase não se vende carne bovina,
porque Moscou sobretaxa em
65% essa importação. É aí que entra a negociação. Com um relaxamento nas sobretaxas bovinas e
ainda maior abertura para frangos e porcos, estima-se que o Brasil poderia exportar até US$ 700
milhões anuais em algum tempo.
Mirage-2000-5
O adversário mais duro na disputa com os russos é o Mirage
2000-5, versão BR de Brasil. É oferecido pelo consórcio da francesa
Dassault Aviation e a brasileira
Embraer e se encaixa no que a
FAB quer, ainda que não brilhe
tanto como o Su-35.
O que os franceses ofereceram é
diferente. Prometem montar uma
base de produção no Brasil para
transformar o país em exportador
do avião e também dizem que vão
abrir os códigos-fontes do software que integra o aparelho aos seus
armamentos e radares.
Na prática, permitiria ao Brasil
adaptar o avião a algumas realidades -assim como a Índia fez com
seu Mirage, que foram modificados com sucesso para receber
bombas antigas, sem eletrônica.
Os franceses argumentam que
sua abertura tecnológica é maior
do que a que os russos oferecem.
A Rosoboronexport, que vende o
Sukhoi, diz que sua associação em
consórcio com a Avibrás elimina
qualquer dúvida nesse sentido.
O mercado de aviação de caça é
um negócio que, segundo estimativas do setor, movimentará algo
como US$ 350 bilhões nesta década. As frotas da América Latina
estão envelhecendo, e a idéia de
produzir Mirage na nova fábrica
da Embraer em Gavião Peixoto
(SP) para esses consumidores pode pesar na escolha.
No meio da discussão estará a
posição dos EUA. O F-16 C/D é
considerado um bom avião, mas
nada foi oferecido como compensação de política industrial ou comercial. E há o temor sobre a real
intenção dos EUA em fornecer
mísseis e radares avançados.
Após a análise dos brigadeiros,
será feito o relatório final da FAB.
Ele será entregue ao Conselho de
Defesa Nacional, que é composto
pela cúpula dos ministérios da
Defesa, Justiça, Fazenda e Relações Exteriores, presidentes do
Senado e da Câmara e é encabeçado pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso.
Embora nenhum fabricante fale, todas as propostas têm preços
semelhantes, entre US$ 800 milhões e US$ 900 milhões -acima
do que o edital determinava, e isso
pode trazer alguma resistência da
equipe econômica. A decisão deverá sair entre os dia 11 e 15.
Texto Anterior: Rumo às eleições: Nizan quer explorar na TV atuação de Rita contra FHC Próximo Texto: Bolão dos presidenciáveis Índice
|