São Paulo, domingo, 02 de junho de 2002

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AVIAÇÃO

Lista técnica da Aeronáutica traz o Sukhoi Su-35 como favorito, mas negócio pode depender de carne e foguete

Russos lideram relatório para caça da FAB

IGOR GIELOW
COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA

A licitação para a compra dos novos caças da Força Aérea Brasileira chega à sua semana decisiva com o concorrente russo, o Sukhoi Su-35 Super Flanker, uma cabeça à frente de seus adversários -o que não significa que ele será o vencedor. Para ganhar, ele conta agora com a tecnologia espacial russa e com a carne de porcos, frangos e bois brasileiros.
Isso porque o Su-35 está no topo da lista técnica, elaborada pelo Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento da Aeronáutica que leva em conta apenas as capacidades militares dos concorrentes. A venda, estimada em US$ 700 milhões, prevê a compra de 12 a 24 aviões que devem operar por 30 anos, substituindo os atuais Mirage IIIEBR, quase caducos.
Segundo a Agência Folha apurou, o grande caça russo superou seu principal adversário, o francês Mirage 2000BR. Atrás dos dois, o norte-americano F-16 C/D. Praticamente descartados estão o sueco-britânico Gripen, por seu alcance limitado, e o russo MiG-29, que está ficando obsoleto. Todos os aviões foram avaliados por pilotos e técnicos da FAB.
O Su-35 tem dois pontos fortes. Primeiro, seu raio de combate (1.500 km carregado) e alcance (4.000 km) ideais para o tamanho do Brasil. Segundo, seu sistema de radar é o mais potente do mercado -pode rastrear 15 alvos e ""marcar" para abate até 6 ao mesmo tempo. Mas não é só a parte técnica que interessa. Amanhã, o relatório será entregue para o Alto Comando da FAB, composto por oito brigadeiros e o comandante da Força, tenente-brigadeiro-do-ar Carlos Almeida Batista.
Na mesa, eles analisarão outros fatores. Primeiro, o chamado offset, a política de compensação do negócio que prevê retornos equivalentes ao que o Brasil vai gastar.
Aí entram os foguetes e os bichos. Os russos estão dispostos a transferir tecnologia para veículos lançadores de satélite. Isso resolveria uma dor de cabeça do programa espacial brasileiro, que há anos tenta sem sucesso colocar seus satélites com meios próprios em órbita. E mais: prometem acelerar a abertura do seu mercado à pecuária brasileira, uma prioridade recente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Em 1999, por exemplo, o Brasil exportava 24 toneladas de carne suína congelada para a Rússia. No ano passado, foram 148 mil toneladas, gerando US$ 229 milhões dos US$ 500 milhões que o país registrou de superávit em relação aos russos.
Também vende-se cada vez mais frango para os russos. O Brasil vendeu US$ 67 milhões em 2001, contra apenas US$ 12 milhões em 2000. O problema é que quase não se vende carne bovina, porque Moscou sobretaxa em 65% essa importação. É aí que entra a negociação. Com um relaxamento nas sobretaxas bovinas e ainda maior abertura para frangos e porcos, estima-se que o Brasil poderia exportar até US$ 700 milhões anuais em algum tempo.

Mirage-2000-5
O adversário mais duro na disputa com os russos é o Mirage 2000-5, versão BR de Brasil. É oferecido pelo consórcio da francesa Dassault Aviation e a brasileira Embraer e se encaixa no que a FAB quer, ainda que não brilhe tanto como o Su-35.
O que os franceses ofereceram é diferente. Prometem montar uma base de produção no Brasil para transformar o país em exportador do avião e também dizem que vão abrir os códigos-fontes do software que integra o aparelho aos seus armamentos e radares.
Na prática, permitiria ao Brasil adaptar o avião a algumas realidades -assim como a Índia fez com seu Mirage, que foram modificados com sucesso para receber bombas antigas, sem eletrônica.
Os franceses argumentam que sua abertura tecnológica é maior do que a que os russos oferecem. A Rosoboronexport, que vende o Sukhoi, diz que sua associação em consórcio com a Avibrás elimina qualquer dúvida nesse sentido.
O mercado de aviação de caça é um negócio que, segundo estimativas do setor, movimentará algo como US$ 350 bilhões nesta década. As frotas da América Latina estão envelhecendo, e a idéia de produzir Mirage na nova fábrica da Embraer em Gavião Peixoto (SP) para esses consumidores pode pesar na escolha.
No meio da discussão estará a posição dos EUA. O F-16 C/D é considerado um bom avião, mas nada foi oferecido como compensação de política industrial ou comercial. E há o temor sobre a real intenção dos EUA em fornecer mísseis e radares avançados.
Após a análise dos brigadeiros, será feito o relatório final da FAB. Ele será entregue ao Conselho de Defesa Nacional, que é composto pela cúpula dos ministérios da Defesa, Justiça, Fazenda e Relações Exteriores, presidentes do Senado e da Câmara e é encabeçado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Embora nenhum fabricante fale, todas as propostas têm preços semelhantes, entre US$ 800 milhões e US$ 900 milhões -acima do que o edital determinava, e isso pode trazer alguma resistência da equipe econômica. A decisão deverá sair entre os dia 11 e 15.



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