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Ex-dirigente da Cesp diz que dividiu R$ 2 mi
Villas Boas afirma a promotores que recebeu dinheiro da Alstom por consultorias e nega que tenha sido propina destinada a tucanos
Valor, repartido com dois executivos da empresa, foi depositado na conta de uma "offshore" em um banco na Suíça, entre 1998 e 2001
MARIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O engenheiro José Geraldo
Villas Boas, ex-presidente da
Cesp (Companhia Energética
de São Paulo), disse ao Ministério Público que dividiu com outras duas pessoas os 7,6 milhões de francos franceses que
recebeu da Alstom entre 1998 e
2001 por consultorias, segundo
a Folha apurou.
O valor corresponde a
R$ 2,05 milhões (ou US$ 1,4
milhão) quando corrigido pelo
câmbio da época. Villas Boas
disse ter recebido o dinheiro na
Suíça. À época dos pagamentos,
Mario Covas (PSDB) estava à
frente do governo de São Paulo.
Curiosamente, Villas Boas
disse ter ficado com a menor
parte dos R$ 2,05 milhões:
17,5% ou R$ 348,75 mil. O restante foi repartido com o engenheiro franco-brasileiro Jean-Pierre Courtadon, que ficou
com cerca de 25%, e com um
executivo francês chamado M.
Cabane, que abocanhou mais
da metade do valor.
Courtadon era diretor da filial brasileira da Cegelec, empresa que foi comprada pela
Alstom em 1997. Cabane era o
responsável na França pelos
contratos da Cegelec no Brasil.
Promotores suíços que investigam o pagamento de propinas pela Alstom dizem que
contratos de consultoria serviam de escudo legal para repassar comissões a políticos.
O advogado de Villas Boas,
Luiz Guilherme Moreira Porto,
diz que essa versão não se aplica a seu cliente: "Ele ganhou
por um contrato de consultoria
real. Ele não era um Zé ninguém que serviria de biombo
para o pagamento de propina".
Dois documentos de 1997 em
poder do Ministério Público da
Suíça, dos quais a Folha obteve
cópias, mostram que a Alstom
estava disposta a pagar 7,5%
para obter um contrato de
R$ 110 milhões com a Eletropaulo -a suposta propina equivale a R$ 8,25 milhões. Um dos
memorandos da Alstom diz
que esse dinheiro teria três
destinos: iria para "as finanças
do partido", "o tribunal de contas" e "a Secretaria de Energia".
A estratégia da Alstom parece ter dado certo: a Eletropaulo
contratou a empresa em 1998.
Villas Boas, que dirigiu a
Cesp entre junho de 1982 e
março de 1983, contou que recebeu o dinheiro na Suíça porque a Alstom exigia que os pagamentos fossem feitos em
francos franceses. Ao ser questionado pela Folha, Moreira
Porto não soube explicar por
que a empresa não foi aberta na
França se a Alstom queria pagar em francos franceses.
Os valores foram depositados na conta de uma "offshore"
que ele criou para receber da
Alstom, a Taltos. A parte de
Courtadon foi depositada na
conta de uma "offshore" chamada Andros Management.
Segundo o advogado de Villas Boas, seu cliente repassou a
maior parte para Cabane e
Courtadon porque eles o indicaram para fazer a consultoria.
"É o famoso honorário de indicação. Ele não repassou dinheiro para a Eletropaulo ou para
alguém do governo."
A história de Villas Boas pode ser uma estratégia de defesa.
Ao confessar que recebeu fora
do Brasil, ele pode ter confessado crime de evasão. Mas, como
tem mais de 70 anos, não pode
mais ser punido por isso. Outra
aparente estratégia é restringir
o dinheiro repartido à iniciativa privada. Assim, ele tenta
afastar-se das supostas propinas que foram pagas a tucanos
e do crime mais grave -o de lavagem de dinheiro, cuja pena
chega a dez anos de prisão.
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