|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo afasta cúpula da Abin por causa de grampo
Lula diz que saída temporária de Lacerda é para "assegurar a transparência do inquérito"
Outros dois funcionários da agência foram afastados; Procuradoria acompanhará investigação da Polícia Federal sobre a escuta
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois das cobranças do STF
(Supremo Tribunal Federal) e
do Congresso Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
decidiu ontem à noite afastar
temporariamente o diretor-geral da Abin (Agência Brasileira
de Inteligência), Paulo Lacerda, e subordinados diretos.
Em nota, o Planalto atribuiu
os afastamentos à necessidade
de "assegurar a transparência"
do inquérito sobre a autoria do
grampo que interceptou conversa entre o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres
(DEM-GO). A Polícia Federal
conduzirá as investigações, que
serão acompanhadas pelo Ministério Público Federal. A revista "Veja" responsabilizou a
Abin pela escuta.
Na nota, Lula ressalva outros
dois pontos: 1) pede que o Congresso aprove projeto de lei que
regula e limita as escutas telefônicas; 2) determina que o Ministério da Justiça elabore proposta agravando a responsabilidade administrativa e penal
de autores de grampos ilegais.
A repercussão negativa da divulgação da escuta mobilizou o
dia no Planalto, dividido em
três grandes reuniões. Na primeira, o presidente recebeu a
cúpula do STF, além dos ministros Jorge Armando Felix (Gabinete de Segurança Institucional), Tarso Genro (Justiça),
Nelson Jobim (Defesa) e Franklin Martins (Comunicação).
À tarde, o presidente do Congresso, Garibaldi Alves
(PMDB-RN), e os senadores
Tião Viana (PT-AC) e Demóstenes Torres estiveram no Planalto. Na última reunião do dia,
Lula chamou seus principais
ministros e então decidiu pelo
afastamento da cúpula da Abin.
A Folha apurou que Jobim
foi o mais ardoroso defensor do
afastamento de Lacerda, que
deverá trabalhar no gabinete
do ministro Felix enquanto durar a investigação da PF.
Além de Lacerda, serão afastados José Milton Campana,
diretor-adjunto e número dois
da agência, e Paulo Maurício
(diretor). No lugar de Lacerda
ficará o secretário de Planejamento e Orçamento da Abin,
Wilson Trezza.
Tensão
Pela manhã, Lula chegou a
rejeitar um pedido de demissão
de Lacerda. Mas ao longo do
dia, cedeu ao argumento de que
era preciso dar uma resposta
mais dura à divulgação da escuta. Para diferentes interlocutores, o presidente defendeu Lacerda. Disse que ele havia feito
um bom trabalho na direção da
PF e que não o demitiria para
dar uma satisfação à opinião
pública. No fim do dia, optou
pelo meio-termo: o afastamento temporário.
Apesar de o governo rejeitar
qualquer responsabilidade no
episódio, o dia foi tenso no Planalto. Senadores afirmaram
que o presidente demonstrou
"nervosismo" na conversa da
tarde. Pela manhã, o clima do
encontro começou tenso, com
Gilmar Mendes e ministros do
Supremo cobrando providências do presidente.
O general Felix também colocou o cargo à disposição, mas
o presidente não aceitou. Segundo um ministro que participou dos debates, o governo não
elimina nenhuma hipótese sobre culpados pelo grampo.
Há três linhas de investigação em curso: a que considera o
envolvimento de agentes da
Abin, da Polícia Federal ou da
iniciativa privada. Suspeitas de
que outras autoridades, entre
elas ministros do Executivo,
possam ter sido alvo de escutas
também serão analisadas.
(KENNEDY ALENCAR, ADRIANO CEOLIN,
LETÍCIA SANDER, SIMONE IGLESIAS E
ALAN GRIPP)
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Íntegra: Planalto diz que afastamento visa transparência Índice
|