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Lula não pode dizer que não sabia, diz Brossard
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Paulo Brossard, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, diz que o grampo no telefone do ministro Gilmar Mendes
"é uma coisa inominável":
"Acho que o presidente [Lula]
não pode continuar dizendo
que não sabia das coisas".
FOLHA - Como o sr. recebeu a notícia do suposto grampo no STF?
PAULO BROSSARD - Com tristeza.
Eu me senti, como cidadão, humilhado e envergonhado. Tenho visto muita coisa esdrúxula, pouco recomendável, censurável, e de vez em quando acontecem coisas que não são canônicas. Não tinha lembrança de
coisa parecida, pelo menos no
regime normal, constitucional.
FOLHA - Nem no regime militar?
BROSSARD - É provável que no
tempo do período autoritário o
SNI [Serviço Nacional de Informações] fizesse todas as diabruras. Afinal, era um regime
anômalo. Meu telefone era historicamente censurado. Mas
agora, depois que a Constituição estabelece a garantia da inviolabilidade do sigilo das comunicações telefônicas, saber
que o telefone do presidente do
STF foi violado é espantoso. Se
me contassem, não acreditaria.
FOLHA - Qual é a sua avaliação?
BROSSARD - Quem faz isso faz
qualquer outra coisa. Se o telefone do presidente do mais alto
tribunal da nação não é respeitado, o que será do homem comum? Ninguém pode ter certeza de que seus telefones não estão censurados. Hoje ninguém
pode ter certeza de que não está
sendo atraiçoado. E por quem?
Por alguém que ocupa um alto
cargo na administração da República, que é imediatamente
subordinado à Presidência. É
uma coisa inominável.
FOLHA - Supondo-se que a gravação foi feita por alguém subordinado a essa autoridade...
BROSSARD - Pelo menos é o que
foi dito e, aliás, não negaram.
Foi aberto um inquérito.
FOLHA - Como o sr. viu a iniciativa
do presidente do STF de pedir uma
reunião com o presidente Lula?
BROSSARD - Era o que tinha que
fazer. Esse é um serviço do presidente, para o presidente. Se
um de nós quiser um dado lá
[Abin], não obtém. Há um sigilo
absurdo. Acho que o presidente
[Lula] não pode continuar dizendo que não sabia das coisas.
Ele é a única pessoa que não sabe o que se passa dentro do palácio. Não dá mais para continuar essa falta de seriedade.
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