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Na Europa, aposta é na "alternativa"
MARIA LUIZA ABBOTT
DE LONDRES
Um ano depois da eleição, surgem críticas em setores da esquerda na Europa ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O jornal francês "Libération", em
artigo no início da semana, diz
que o presidente Lula recuperou a
situação econômica, mas retarda
as reformas sociais. Outros setores ainda defendem o governo e
consideram que o projeto do PT
no Brasil pode ser um exemplo
para as esquerdas no mundo.
Para George Monbiot, escritor e
analista político do jornal britânico "The Guardian", "não há dúvidas de que muita gente está decepcionada com Lula" em relação
à sua política econômica. Mas ressalva que o presidente "foi tão
longe quanto poderia ter ido"
com as restrições políticas "incrivelmente difíceis" que enfrenta.
"Essas restrições são impostas
pelos especuladores financeiros e
pelo Fundo Monetário Internacional. E, para mim, o que isso
mostra é que, não importa o
quanto sejam boas as intenções
de um governo, até que se assuma
o controle da política global e da
economia global, os governos podem fazer muito pouco", disse
Monbiot.
O professor Alfredo Valladão,
do Instituto de Estudos Políticos
de Paris, considera que os grupos
de esquerda mais radicais, "que
pensavam que Lula era um radical extremista", estão decepcionados. "Mas a esquerda que tem um
projeto de governo na Europa não
está decepcionada. Vê as dificuldades e acha que Lula está indo
muito bem", disse.
Para Valladão, desde o começo
o governo Lula estava consciente
da realidade e de princípios básicos, como o de que "não se pode
gastar mais do que se arrecada".
Mas ele reconhece que se esperava mais na área social e critica os
ministérios sociais por não apresentarem mais projetos. "Os ministros sociais têm de ter mais
idéias. Sempre falta dinheiro, até
na França, mas é preciso ser mais
criativo, arrojado para fazer políticas sociais", disse.
Solidariedade
Na Espanha, a Izquierda Unida,
que reúne os antigos partidos comunistas, ambientalistas e pacifistas, aprova o governo Lula. Seu
porta-voz, José Francisco Mende,
assegura que a organização não vê
motivos para criticar e que não se
poderia esperar que Lula resolvesse os problemas do país em
um ano. Segundo ele, o projeto do
presidente é a "proposta da esperança" em contraponto ao avanço
da "globalização de caráter muito
capitalista e muito de direita".
"Creio que Lula é capaz de
afiançar um modelo novo para o
século 21. Não serve à velha esquerda dos países comunistas e
nem tampouco à social democracia que teve de fazer uma política
de direita. É necessário uma esquerda transformadora, ecológica, que tenha em conta o ambiente e que governe para a maioria",
disse Mende.
Para ele, Lula pode impor esse
modelo, que serviria de exemplo
para a América Latina e referência
para toda a esquerda, porque tem
apoio e é feito "dentro da realidade e não com propostas utópicas". "São propostas inovadoras,
que às vezes têm algumas contradições, como não poderia ser de
outra forma. Mas são pessoas como Lula que fazem as propostas
que não são nem populistas nem
conservadoras", explicou.
Monbiot, do "Guardian", considera que o caminho que o presidente escolheu, buscando alianças com países pobres ou de renda média, é a alternativa correta
para sair das restrições impostas
pela ordem internacional. O escritor defende que esses países criem
uma forte solidariedade entre si
para enfrentar as restrições.
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