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POLÍTICA EXTERNA
Setores industrial e financeiro norte-americanos têm percepções distintas sobre o país, mas "economia real" preocupa
Economia do Brasil gera dúvidas nos EUA
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Na semana em que o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva impulsiona sua política externa em uma
viagem de sete dias à África, a economia brasileira começa a suscitar dúvidas nas empresas norte-americanas e já desperta críticas
na esquerda européia.
É bem verdade que o país continua impressionando o mercado
financeiro norte-americano por
sua capacidade de ter controlado
a inflação e mantido uma forte
economia para pagar os juros de
suas dívidas, externa e interna.
O resultado disso tem sido o aumento da entrada de dinheiro no
mercado financeiro do país e a
queda de quase 4% na cotação do
dólar nos dois últimos meses.
O aparente otimismo com o
Brasil, no entanto, esconde um
mau humor e uma intranquilidade de empresas dos EUA em relação aos rumos da chamada "economia real" do país.
As divergências entre Brasil e
EUA nas negociações da Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas) e o fraco crescimento
da economia brasileira fazem
contrastar as opiniões norte-americanas nos setores financeiro e
empresarial.
Franklin Vargo, vice-presidente
da NAM (National Association of
Manufactures), a maior entidade
empresarial dos EUA, representante de 14 mil empresas, afirma
que as empresas norte-americanas ""continuam preocupadas
com o Brasil".
""Embora a Alca não seja a resposta para tudo, ela traria regras
previsíveis para investimentos
-o que, parece, não vamos ter."
Para Joel Velasco, vice-presidente
da Stonebridge International, que
representa empresas norte-americanas com operações no Brasil,
""não há um investidor do mercado financeiro em Nova York que
hoje fale mal do governo brasileiro. No setor empresarial, porém,
ainda há incertezas em cima de
incertezas".
Velasco afirma que o setor privado americano ainda levará ""algum tempo" para voltar a investir
no Brasil. ""Em áreas estratégicas
como energia, o legado do governo Fernando Henrique Cardoso é
horrível, e o modelo proposto por
Lula, quase estatista."
O mercado financeiro tem outra
percepção. ""Já vemos os primeiros estágios para uma recuperação mais robusta da economia",
diz Felipe Illanes, diretor-adjunto
para o Brasil da corretora Merrill
Lynch, baseada em Nova York.
Na visão do mercado financeiro, o Brasil não poderia estar melhor. Entre janeiro e setembro
deste ano, o país economizou R$
57 bilhões para pagar juros de
suas dívidas. O valor equivale a
5,08% do PIB (Produto Interno
Bruto), acima dos 4,25% do PIB
prometidos ao FMI (Fundo Monetário Internacional).
Mas até mesmo os atuais sinais
de recuperação da economia brasileira são vistos com ressalvas.
Para Miguel Diaz, diretor para a
América do Sul do Centro Internacional de Estudos Estratégicos
de Washington, grande parte da
expectativa de melhora no Brasil
deve-se hoje à recuperação dos
negócios nos EUA -que, no último trimestre, teve seu crescimento mais intenso desde 1984.
Conforme avaliação de Diaz,
"boas doses de investimento só
ocorrerão depois de o país fazer
sua lição de casa". Uma dessas ""lições de casa" é o resultado da reforma tributária que está sendo
votada no Congresso.
Segundo um empresário com
interesses em várias empresas no
Brasil e que prefere não se identificar, o país deverá preservar o
que ele chama de "fome tributária" (uma carga fiscal acima de
35% do PIB) sem atacar a questão
dos custos do setor público.
Frederick Jasperson, diretor para a América Latina do IIE (Institute for International Economics), de Washington, tem uma
visão intermediária.
Para ele, o Brasil ""tem grandes
chances de entrar em um círculo
virtuoso, de estabilidade econômica combinada com ações sociais". ""Mas para chegar lá o país
terá de crescer muito, e o governo
apenas começou a enfrentar os
problemas que tem pela frente."
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