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Foco
Protógenes é assediado por fãs nas ruas e recebe 3 ofertas para escrever livro
DO ENVIADO A BRASÍLIA
Os telefones não param de
tocar no apartamento do delegado Protógenes Pinheiro
de Queiroz, 49, carioca que há
cinco anos mora em Brasília,
lotado na Diretoria de Inteligência da Polícia Federal. Na
secretária eletrônica de um
de seus celulares, que ele não
atende mais, mensagens de
policiais, promotores, delegados. Três ofertas de editoras
para escrever um livro (nenhuma aceita) e de advogados
para abertura de processos
contra jornais e jornalistas (o
que ele disse que não fará).
Mas a manifestação que
mais sensibilizou esse advogado, ex-procurador municipal de Rio Bonito (RJ), filho
de um terceiro-sargento da
Marinha e de uma enfermeira, foi uma folha de caderno
desenhada por uma criança
de Londrina (PR). O papel foi
deixado no prédio da PF daquela cidade e chegou às
mãos dele pelo malote da polícia. O menino desenhou um
homem e a bandeira do Brasil
e deixou um apelo ao lado do
nome do delegado: "Por favor, não desista!".
Parado com freqüência em
Brasília nos intervalos do curso que faz na Academia de Polícia, para autógrafos e fotos,
Queiroz resolveu tirar a barba
com a qual apareceu, em entrevista coletiva às emissoras
de TV, no dia das prisões da
Operação Satiagraha. Depois
disso o assédio diminuiu, mas
não muito. Segundo ele, as
pessoas lhe agradecem, dizem palavras de apoio.
As manifestações lhe chegam principalmente pelo
blog criado em sua homenagem pelo cunhado com a ajuda de amigos. Ele se diz impressionado com as 859 mensagens postadas até a noite de
sexta e 11 mil acessos diários
desde que o blog entrou no ar,
no sábado retrasado.
O delegado disse que só
agora tem conseguido descansar da investigação mais
longa e desgastante da carreira de quase dez anos na PF.
Nos 15 dias que antecederam
a decretação das prisões, contou ter dormido "nenhuma
noite" e se alimentado quase
sempre com água, biscoito e
café. A rotina lhe provocou,
nos dias posteriores às prisões, lapsos de memória e
problemas na fala.
Leitor do filósofo alemão
Hegel (1770-1831), uma das
influências de Karl Marx
(1818-1883), não se considera
"de esquerda" porque "todos
os rótulos caíram". É católico
devoto de Nossa Senhora
Aparecida e quando vem a
São Paulo, onde morou por
anos, procura assistir às missas no mosteiro de São Bento,
quando os monges entoam
cantos gregorianos. Para ele,
uma renovação da fé.
Na adolescência, no entanto, era e se dizia de esquerda,
tendo participado do movimento estudantil, de passeatas pelas Diretas-Já e da produção de um fanzine apreendido pela ditadura.
Protógenes Queiroz começou na PF logo encarando
uma pedreira, as investigações, no Acre, sobre o deputado Hildebrando Pascoal, acusado de matar desafetos. No
ano seguinte enveredou pela
investigação de crimes financeiros. Entre 2001 e 2006,
prendeu Law Kin Chong,
apontado pela PF como o
maior contrabandista do país.
Seu papel na prisão de
Chong é narrado em algumas
páginas do livro recém-lançado "McMáfia - Crime sem
fronteiras" (Cia das Letras),
do jornalista britânico Misha
Glenny.
(RV)
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