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LIXO PAULISTA
Ex-assessor de Palocci e Dirceu critica ação do Ministério Público
Buratti diz que amizades no poder não o beneficiaram
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
O advogado Rogério Buratti nega ter se beneficiado por tráfico de
influência em razão de suas ligações com membros do governo
federal e se diz vítima de uma ambição de promotores pela fama.
Investigado no escândalo Waldomiro Diniz, no caso GTech e
em um suposto esquema de fraudes em licitações públicas pela
empreiteira Leão Leão, Buratti foi
assessor dos ministros Antonio
Palocci Filho (Fazenda) e José
Dirceu e trabalhou também com
o presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP).
O petista diz ter laços de amizade com o chefe de gabinete de Palocci, Juscelino Dourado, mas
afirma não ter relação com o ministro "há muito tempo". Em intercepções feitas pelo Ministério
Público, com autorização da Justiça, Buratti foi flagrado em conversas que apontam que ele ainda
tem influência no governo.
Segundo investigadores que tiveram acesso às gravações, o advogado foi procurado em 26 de
julho pelo executivo Luiz Pacola,
da Leão Leão, para falar sobre "o
negócio de Brasília". Buratti teria
respondido que já havia conversado com "ele" sobre o assunto,
que "ele" estaria em Ribeirão Preto no dia seguinte, e aconselhou o
empresário a "ligar para o chefe-de-gabinete e marcar" audiência.
No dia seguinte Palocci esteve
em Ribeirão participando de um
evento. "Não tenho nenhuma
condição de marcar reunião com
ninguém", afirmou Buratti. Leia a
seguir trechos da entrevista feita
por telefone, anteontem.
Folha - Como o senhor avalia tudo que está acontecendo?
Rogério Buratti - Eu não tenho
nada contra, sinceramente, que
observem, que me acionem. O
que estou combatendo é a absoluta invasão de privacidade que o
Ministério Público de Ribeirão
Preto tem com relação a mim. Para mim existe uma coisa que é
muito forte nesse último processo. Eles aproveitam de uma licitação, de Sertãozinho, quando eles
sabem que eu não estou mais na
Leão, na qual eu não me envolvo.
Eles misturam. Para mim, isso
tem um objetivo específico: como
meu nome foi guindado em nível
nacional em razão do escândalo
Waldomiro Diniz, isso garante a
eles publicidade nacional, na medida que me envolvem numa coisa que está muito claro, no caso de
Sertãozinho, que não tive nenhuma participação.
Folha - Por que o senhor ficou
sem falar por tanto tempo?
Buratti - Eu demorei muito para
falar porque eu achava que enquanto não prestasse esclarecimento na Polícia Federal, num
processo que eu devo explicações,
evidentemente, mencionado
num escândalo nacional de grande repercussão. Eu sei que sou
inocente, não conheço Waldomiro Diniz, sei que não pedi propina
para a GTech, eu sei de tudo, e a
sociedade tem o direito de investigar, legitimamente, de saber como eu fui envolvido. Se o delegado julgar que eu estou envolvido,
ele vai me indiciar, eu vou me defender. Não tem problema.
Agora, não tenho problema em
dizer que estou representando o
Ministério Público porque acho
que está exagerando. A invasão da
Fazenda em Pedregulho, invasão
da casa do contador, invasão da
minha casa, todas essas ações deles não resultaram em nada. Eu fico pensando qual é o próximo
passo, o que eles vão fazer. Se quebrarem meu sigilo bancário e fiscal e não encontrarem nada, o que
será que vão fazer? Eu não consigo entender até onde eles querem
chegar para provar uma coisa que
na cabeça deles perece evidente,
mas na prática não se configura.
Se eles viessem aqui em casa e
achassem um "mundarel" de dinheiro, tirassem aquela foto, virasse outro escândalo da Lunus
[em de março de 2002, a Polícia
Federal fez uma operação de busca e apreensão em empresa da então governadora do Maranhão,
Roseana Sarney, e levou R$ 1,34
milhão], tudo bem. Os caras vão
lá fazem uma coisa meio arbitrária, mas pegam alguma coisa.
Agora, eles fazem as ações, e no
meu caso específico, não conseguem nenhuma prova objetiva.
Essa é a minha indignação.
Folha - Qual é sua ligação com o
Juscelino e com o Palocci?
Buratti - Com o Palocci, há muito tempo não existe...
Folha - ..desde 1994?
Buratti - Não... Em 1994, eu saí
da prefeitura. O Palocci ainda era
prefeito, e prefeito é prefeito. De lá
para cá, eu mantive relações sociais com o Palocci. Encontro em
aeroportos, de vez em quando...
Fizemos aquela cerimônia na prefeitura que sai a foto até hoje.. O
Juscelino é diferente. O Juscelino é
meu afilhado de casamento. Não
encontro ele há bastante tempo,
até por conta desse rolo todo, é difícil de encontrar. Tenho uma relação social estabelecida com o
Juscelino, então, tenho razões para encontrá-lo, tenho relações de
amizade estabelecida. Com o Palocci não tenho nenhuma relação.
Folha - O senhor não se aproveitou dessas amizades para tráfico
de influência?
Buratti - Eu não posso aproveitar... Não existe nenhum interesse
meu de aproveitar. Em todas essas denúncias que apareceram
contra mim, não existe nenhuma
situação objetiva de falar: ele representava... Igual a Folha publicou no domingo, que eu representava na CEF [Caixa Econômica Federal], tudo isso é verdade.
Essa representação levou algum
contrato que levou a empresa a se
favorecer de maneira ilícita? De
maneira lícita não tem problema... Não levou.
Folha - Há gravações entre o senhor e Luiz Pacola em que ele pede
a sua intervenção para intermediar
um encontro.
Buratti - Essa história da fita eu
não vou comentar.
Folha - Mas teve?
Buratti - Imagina, intermediar
conversa de alguém. Não tenho
nenhuma condição de marcar
reunião com ninguém. Em Ribeirão deve ter muita gente que quer
falar com o ministro. Não sou
uma delas e não tenho por que falar isso.
Folha - Gravações feitas pelo Ministério Público apontam um diálogo no qual o senhor combina um
encontro em um aeroporto e diz
que preferia ser chamado de corrupto do que de boiola...
Buratti - Eu sei, aquilo lá eu vi,
mas não consigo identificar. Não
deve ter sido nada de importante... Eu não estou lembrado...
Folha - E senhor sabe quem é a
"charuteira'?
Buratti - Não. Achei engraçado,
mas não tenho noção de quem é.
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