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TRANSIÇÃO
Palocci é o mais cotado; Mercadante e Dirceu também têm chances
Lula pretende indicar um
petista à pasta da Fazenda
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A intenção do presidente eleito,
Luiz Inácio Lula da Silva, é indicar
um petista para o Ministério da
Fazenda. Hoje, o mais cotado é
Antônio Palocci Filho, coordenador da equipe de transição. Aloizio Mercadante, senador eleito
por São Paulo, e José Dirceu, presidente do PT, também são cotados para a Fazenda. A interlocutores, Lula dá a entender que tem
mais opções petistas do que Palocci, Mercadante e Dirceu.
Segundo a Folha apurou, Lula
quer montar um núcleo duro de
governo muito ligado a ele e formado exclusivamente por petistas. Esse núcleo teria mais três ministérios: Casa Civil, para o qual o
mais cotado é Dirceu, Planejamento, pasta que deverá ser de
Palocci se ele não for para a Fazenda, e Secretaria Geral da Presidência, que pode ser de Luiz Gushiken, um dos mais influentes colaboradores de Lula.
Por conta desse formato de governo que prevê um núcleo duro,
perdeu força a idéia de nomear
para a Fazenda uma pessoa de fora do PT, hipótese aventada antes
da eleição para agradar ao mercado e não totalmente descartada.
O mais provável é que o futuro
presidente do Banco Central seja
de fora do PT e que outras pastas,
como o Ministério do Desenvolvimento, acolham pessoas que se
aproximaram recentemente do
petismo, como o empresário Eugênio Staub.
Montado o núcleo duro, Lula
cumpriria, então, a promessa de
fazer um governo amplo, com
participação de aliados dos meios
políticos e empresariais.
As boas notícias econômicas
pós-eleitorais, com queda do dólar e do risco-país (indicador que
mede a capacidade de uma nação
de honrar compromissos externos), também contribuíram para
diminuir a hipótese de não-petista na Fazenda.
Em conversas reservadas, Lula
diz que o mercado entendeu bem
sua eleição e que o PT deve saber
tirar proveito disso para montar a
equipe que julgar mais adequada.
Os cotados
Palocci é o mais cotado para a
Fazenda devido à boa interlocução que conquistou junto ao empresariado na condição de coordenador do programa de governo
de Lula. Ele deu declarações simpáticas ao mercado, como fazer
em 2003 o superávit primário necessário, até de 5%. E disse que o
PT fará um "ajuste fiscal brabo".
Uma alternativa seria tirar da
Fazenda algumas atribuições e órgãos, levando-os para o Planejamento. Nesse formato, Palocci ficaria no Planejamento e voltaria a
crescer a idéia de nome extra-PT
na Fazenda. No entanto, como o
PT prevê uma fase gradualista de
dois anos para superar a vulnerabilidade externa da economia
herdada de FHC, a Fazenda continuará a ser muito importante,
pois tem a chave do cofre e determina a macroeconomia.
Não faria sentido, crê a cúpula
petista, entregar esse posto a alguém que chegou faz pouco tempo às fileiras lulistas. Palocci, por
exemplo, já concentrou poderes
na equipe de transição, num sinal
claro de que aumentaram suas
atribuições econômicas. Além de
coordenador, negocia diretamente com a Fazenda, o Banco Central e a Presidência.
Em relação a Mercadante, circulam duas versões no PT:
1) Lula não quer tê-lo na Fazenda, por avaliar que ele se expôs
muito nos últimos anos criticando a política econômica e que, se
for para a Fazenda e tiver de adotar medidas que combatia, será
foco constante de cobranças.
O presidente eleito ainda acha
Mercadante bom de discurso, o
que seria fundamental para defendê-lo no Senado, onde ele seria
líder do governo. E há uma terceira razão: Lula julga Palocci mais
habilidoso que Mercadante, que
já comprou briga com alguns economistas do partido.
2) Eleito senador com mais de
10 milhões de votos, Mercadante
seria muito cobrado por abandonar seu mandato por um ministério. Em disputas eleitorais futuras, pagaria esse preço. Daí ele
próprio estar em dúvida quanto à
conveniência de ocupar o posto.
José Dirceu é lembrado para a
Fazenda devido à força que conquistou junto a Lula nos últimos
anos. É o número dois do PT.
Na Fazenda, cercaria-se de uma
equipe respeitada pelo mercado,
num sinal de que a liderança da
economia terá força política para
cumprir as promessas eleitorais
de responsabilidade fiscal, de respeito aos contratos e de cumprimento de metas de inflação.
Como o presidente do PT tem
conduzido com maestria as articulações políticas, Lula tem se inclinado pela opção Palocci ou
Mercadante para a Fazenda. Estes
dois se encontraram na quinta-feira com Armínio Fraga, presidente do Banco Central, e marcaram nova conversa para a próxima quarta-feira.
Se mantiver as intenções que
demonstrou a poucos homens de
confiança nos últimos dias, Lula
se inclinará por um dos três. Essa
escolha dependerá ainda de como
a economia vai se comportar. A
opção PT na Fazenda perderá força se voltarem as complicações
econômicas pré-eleitorais.
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