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ESTRATÉGIA
Aparições casuais do presidente eleito diante dos eleitores são o resultado de planejamento político cuidadoso
Gestão petista usará imagem de Lula para se viabilizar
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O capital político pessoal de
Luiz Inácio Lula da Silva está no
centro do projeto que o PT planeja implantar no governo. A imagem positiva de Lula -seja pela
vitória eleitoral, por sua origem
social ou por ambas- deve ser
usada para tentar construir a conciliação político-econômica que o
PT precisa para se viabilizar.
Desde a sua eleição, as aparições
públicas de Lula têm sido um
exemplo de interação direta com
os eleitores. Simbólica foi sua saída do Palácio do Planalto, na terça, quando, contrariando as regras de segurança, Lula desceu do
carro para tocar, abraçar e cumprimentar cerca de 500 pessoas.
Na avaliação do PT, é consenso
de que não só a eleição, mas também a governabilidade é midiática: a forma primordial de comunicação com o eleitor é a imagem
passada pela mídia. O publicitário
Duda Mendonça, responsável pelo marketing de Lula, já comentou com líderes do PT a sua tese: a
avaliação do governo petista, e
consequentemente a campanha
presidencial de 2006, já está em
andamento e errar na comunicação pode ser o fim do governo.
Nessa batalha, o que parece casual revela-se fruto de planejamento cuidadoso. No próprio domingo da eleição, Lula definiu assim sua vitória: "A esperança venceu o medo". O que seria uma boa
frase do candidato mostrou-se já
política de comunicação do novo
governo. No mesmo dia, antes do
pronunciamento, Duda apareceu
em Salvador com uma camiseta
com os mesmos dizeres, comprovando que não havia espontaneidade na sentença do candidato.
O PT encomendou uma primeira pesquisa para avaliar o grau de
expectativa com o governo Lula e
as prioridades do eleitor. O partido pretende que esse acompanhamento por pesquisas seja constante, em trabalho semelhante ao
que a empresa de Antonio Lavareda realizou para o PSDB e para
o governo nos últimos oito anos.
A gestão petista na Prefeitura de
São Paulo já põe em prática essa
estratégia, que levou à criação de
um dos maiores programas de investimentos do município, o que
prevê o total asfaltamento das
mais movimentadas vias urbanas
paulistanas. A reclamação com os
buracos apareceu nas pesquisas
como uma queixa potencialmente forte contra a administração.
Definido por um assessor como
o "maior líder de massas" desde
Getúlio Vargas (1883-1954), Lula
terá de enfrentar críticas antipopulistas. Na semana passada, lembrou o presidente ao declarar:
"Vou cuidar dos pobres como se
fossem nossos filhos. Não é humano as pessoas passarem as privações que passam". Getúlio era
chamado de "o pai dos pobres".
O populismo brasileiro surge
sob o comando de Vargas e os políticos a ele associados, lembra o
sociólogo Octavio Ianni, em "O
Colapso do Populismo no Brasil".
Nele afirma que, ao mesmo
tempo que os governantes atendem parte das reivindicações do
proletariado urbano, vão se elaborando instituições e símbolos
populistas, usados como forma
de manutenção do poder: "O populismo está relacionado tanto
com o consumo em massa como
com o aparecimento da cultura de
massa. Em poucas palavras, o populismo brasileiro é a forma política assumida pela sociedade de
massas do país", escreveu Ianni.
Uma das principais críticas ao
populismo foi feita por Francisco
Weffort, ex-luminar petista e hoje
ministro da Cultura de FHC: "O
populismo implica, em qualquer
de suas formas, uma traição à
massa popular. É, no essencial,
uma política de transição que
conduz ao esmagamento da pequena burguesia pelos grandes
capitais", definiu em "O Populismo na Política Brasileira".
Durante toda a campanha deste
ano, em cada cidade que chegava,
Lula fazia questão de sair do aeroporto passando pelos militantes.
O documentarista João Moreira
Salles, que prepara com Eduardo
Coutinho um filme sobre Lula, relata o que viu em 12 Estados: "O
fenômeno Lula só pode ser bem
compreendido por quem o vê na
rua. Tanto nos eventos oficiais da
campanha presidencial como nos
encontros fortuitos de Lula com
eleitores, a mesma intensidade está lá. Lula não se deixa decifrar pelos jornais ou pela televisão, pelo
menos não plenamente. É preciso
estar perto dele e testemunhar".
O próprio Lula passou a semana
tentando explicar seu comportamento: "Fico mal de sair de uma
atividade qualquer e não pegar na
mão das pessoas, é um hábito político", declarou. "É uma briga entre a minha vontade de abraçar as
pessoas e o ritual exigido de um
presidente. Se eu pudesse, abraçaria e beijaria todo mundo", disse.
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