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OS OUTROS ENÉAS
Maioria dos deputados eleitos precisou dos votos de legenda para obter vaga na Câmara
Só 33 se elegeram com os próprios votos
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dos 513 deputados eleitos em
seis de outubro, apenas 33 conquistaram as cadeiras da Câmara
com seus próprios votos. Os demais contaram com os votos destinados ao partido ou coligação e
com a matemática eleitoral.
A dinâmica da eleição proporcional redistribui os votos destinados à legenda e aos candidatos
mais bem colocados em benefício dos que tiveram um desempenho aquém do quociente eleitoral -a votação mínima, fixada
por critérios matemáticos, para
eleger um candidato.
Deduz-se desses números que
os deputados eleitos representam apenas 44,23% do eleitorado
-a proporção dos votos recebidos pelos puxadores de voto.
"Isso é até uma evolução, pois
em 1994 os eleitos representavam
23,99% do eleitorado. Em 1998,
[esse número" passou para
33,4% [do eleitorado"", avalia
Antonio Augusto de Queiroz,
analista político e diretor de Documentação do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), que está elaborando um levantamento completo sobre o perfil da nova Câmara.
Para o consultor sindical João
Guilherme Vargas Netto, "a proporção [de 33 eleitos com votos
nominais em um universo de 513
deputados" mostra que os partidos estão fortes e reforça a idéia
de fidelidade partidária".
"Em tese, somente os 33 foram
eleitos com os próprios votos e,
portanto, poderiam dispor da fidelidade partidária. Os demais,
eleitos com os votos dos partidos
e de outros candidatos, a rigor,
não são donos de seus mandatos", diz Vargas Netto.
O entendimento positivo da situação, no entanto, não é unânime. Para Brasílio Sallum Júnior,
professor de sociologia da USP
(Universidade de São Paulo), a
matemática eleitoral, ao reforçar
o poder dos partidos em detrimento dos candidatos, favorece a
eleição de uma "geléia" de congressistas, já que apenas uma minoria de eleitores realmente conhece o deputado que elegeu.
"Fica mais fácil para o Executivo fazer acordos manobrando
essa "geléia", que não é nem conhecida pelo eleitorado. Por isso
que no Brasil não há problemas
de governabilidade, mas de representatividade."
O caso mais marcante entre os
33 puxadores de votos é o do deputado eleito Enéas Carneiros
(Prona), que com seus 1.573.642
votos elegeu outros cinco candidatos. A bancada Enéas inclui o
advogado Ildeu Araújo, que vai
para Brasília com 382 votos. Se
valesse somente o quociente eleitoral, precisaria de 280.297 votos
para ocupar uma das 70 cadeiras
paulistas na Câmara.
Entre os 26 Estados e o DF, 15
unidades da federação não elegeram deputados com votação nominal. Individualmente, a Bahia
tem o maior número de puxadores de votos: 6.
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