|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NO PLANALTO
Tudo sobre o novo Brasil em uma frase
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Luiz Inácio Lula da Silva na
cadeira de presidente é o
ataque de nervos da velha cordialidade brasileira, é a troca do
cordeiro nu pelo lobo em pele de
Armani, é a desilusão do povo
com o esquerdismo liberal da
direita esclarecida, é a esperança do povo no direitismo social
da esquerda renovada, é o de
mal a pior brigando para converter-se em de pior em mal, é a
ilusão de que onde come 1% podem comer 99%, é a galinha
tentando pôr o Sol, é a aflição
esticando o pescoço para enxergar o que há além do nada, é o
triunfo da fé inculta sobre o medo com PhD, é a troca do diploma que não vê ninguém pela
inexperiência que diz enxergar
todo mundo, é o encanador
pondo Sartre no olho da rua, é o
jóquei cego montando a mula-sem-cabeça, é a noite em que todos os pardos são gatos, é o pois
não gritando pois sim, é o nariz
sem pedigree se metendo onde
não foi chamado, é a disputa
nos pênaltis com bola quadrada, é a crítica reivindicando o
direito aos próprios erros, é a gata borralheira que desafia a síndrome da meia-noite, é o triunfo da percussão sobre o naipe de
cordas, é a tomada da ribalta
pelo espectador, é a fé desvairada do descrente, é o assalto da
senzala à Casa-Grande, é a entrada de serviço convertida em
elevador social, é o que não existe tentando viver antes de desaparecer, é a ante-sala entrando
sem bater, é a cozinheira cuspindo na sopa do patrão, é o
anão na direção do circo, é o
macaco gerenciando a loja de
louças, é o despertar do gigante
adormecido, é o túnel à procura
de uma luz para pôr no seu fim,
é a dentadura em busca da noz
utópica, é a crença na vida antes
da morte, é a tocaia do desespero na encruzilhada da espera
impaciente, é o desespero frustrado das coisas que jamais
acontecem, é a ilusão de que
aquilo que não se tem hoje vale
mais do que o que não se tinha
ontem, é o balé do petismo à beira do abismo tucano, é a caravana de virgens cruzando os
portões de Sodoma e Gomorra, é
um governo tão maravilhosamente perfeito quanto o de
qualquer outro mentiroso, é a
busca de desculpas para os erros
ainda não cometidos, é o sacrifício da convicção em nome da limitação, é a conciliação do excesso com a moderação, é a vaca
sagrada trocando a ideologia
por um par de asas, é a extrema
esquerda domesticada pelo extremo conservadorismo, é o flerte dialético da reação com o reacionarismo, é o futuro radioso
coligado ao passado odioso, é o
encontro das linhas paralelas, é
a comunhão do moralista com o
imoral em torno das imoralidades de sempre, é Noé abrindo a
arca aos ratos, é o hábito que
desfaz o monge, é a sensação de
que não se fazem mais futuros
como antigamente, é a renovação da história por meio da repetição, é amanhã com cara de
ontem, é o São Jorge que se casa
com o dragão antes de salvar a
donzela, é o paradoxo na fronteira da incógnita, é a descoberta de que sempre se pode atacar
o que se defendia e defender o
que se atacava, é o absolutamente contra qualquer coisa
convertido em a favor de tudo, é
a percepção de que o orçamento
é menor do que os ideais, é Paulo Paim na bica de assumir a defesa do salário mínimo possível,
é ACM já cobrando o mínimo
de US$ 100, é a plutocracia se casando com o lúmpen por dinheiro, é a TV Globo de macacão, é
prova de que o dinheiro pode ser
a favor de todas as pessoas durante todo o tempo, é o conluio
para mudar só o suficiente para
não perder o controle, é a defesa
de mudanças drásticas que deixem tudo exatamente como está, é o desagradável convertido
em encantador, é a admissão
compulsória do inadmissível, é
o pacto do abutre com o espantalho, é a mão gorda entregando os anéis, é o privilégio gagá
tirando o Estado moço para
dançar nos porões da ideologia
abandonada, é filme do cinema-novo-velho.
Texto Anterior: Elio Gaspari: Ou escancaram-se as negociações, ou vem aí o Propress Próximo Texto: Financiamento: Lula teve doação irregular de associação na campanha Índice
|