São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004 |
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ELIO GASPARI A casa da sogra não é aqui
O presidente George Bush está envenenando a relação dos Estados Unidos com o mundo. Seu governo decidiu que a partir de amanhã os estrangeiros que entrarem em território americano serão fotografados e deixarão as impressões digitais num banco de dados (o procedimento será feito sem sujar a mão das pessoas). Ficarão fora da regra os nacionais de 27 países, quase todos europeus. É provável que a medida atinja 25 milhões de pessoas. A nação brasileira já passou pelo constrangimento de saber, em 2001, que seu ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, teve que tirar os sapatos em duas revistas diferentes durante suas viagens aos Estados Unidos (não foi único, a impertinência atingiu o russo e a chilena).
A civilizada aproximação de FFHH e Lula ajudou a expor o tamanho da crise pela qual passa o PSDB. É muito maior que a do PT.Enquanto o príncipe tucano sente-se melhor perto do governo que considera uma prorrogação de seu reinado, o partido divide-se entre a adesão e a falta de rumo. Os tucanos governam os Estados de São Paulo e de Minas Gerais e não têm candidato a prefeito em nenhuma das duas capitais. Uma situação dessas não resulta de uma falta de quadros. É falta de idéias mesmo.
Como parte dos festejos do centenário do nascimento de Candido Portinari, vai aqui uma colaboração para o rastreamento do que ainda possa sobrar de sua biblioteca. Portinari tinha pelo menos uns cinco mil volumes e devia gostar muito deles. Quase toda a biblioteca estava encadernada, com as lombadas em couro marrom, ligeiramente trabalhado com relevos. Tinham as iniciais C.P. Em meados dos anos 60, essa biblioteca apareceu num sebo de segunda categoria do centro do Rio de Janeiro. Todas as páginas que tinham dedicatória estavam arrancadas. Um curioso resolveu desafiar a competência do delinquente que canibalizou a biblioteca e teve a prova: um pequeno volume do poeta italiano Giuseppe Ungaretti dedicado "all'amico" Portinari. De lambuja, levou a preço de banana uma primeira edição de Casa Grande & Senzala, com a dedicatória arrancada.
A indústria da pesca de camarões dos Estados Unidos denunciou seis países exportadores (inclusive o Brasil) acusando-os de venderem suas marcas a preços abaixo do valor de mercado. Uma aula demonstrativa do zelo com que os Estados Unidos defendem os seus interesses. O Congresso americano já deu US$ 35 milhões para socorrer os produtores. O governo do Estado da Louisiana reservou US$ 600 mil para ajudar as empresas a pagar as custas do processo contra os seis países. Ele deve custar mais de US$ 6 milhões. Se alguém propusesse coisa parecida em Brasília a ekipekonômica satanizaria os empresários, dizendo que estão procurando um cartório. A indústria brasileira de criação de camarões tem sete anos de vida, duplica de tamanho a cada três anos e tornou-se a de mais alta produtividade do mundo. Ela rende US$ 240 milhões anuais para a balança comercial. Numa previsão otimista, pode vir a exportar US$ 500 milhões em 2005. Metade das vendas são feitas para os Estados Unidos. História de sucesso de empreendedores nordestinos, ela emprega mão-de-obra de baixa escolaridade, aquela que os sábios condenaram ao desemprego. Por enquanto, a única defesa dos países que produzem camarão em cativeiro veio da associação de compradores dos Estados Unidos. Denunciaram os produtores dizendo que, se eles prevalecerem, o consumidor vai pagar mais caro pelo camarão de cada dia.
Se Saddam Hussein contar o que sabe aos seus interrogadores americanos, pode sobrar para os sábios do programa nuclear brasileiro durante os anos 70. É fato sabido que em 1981 o governo brasileiro vendeu 27 toneladas de pasta de urânio ao programa nuclear iraquiano. Ainda não se conseguiu saber direito a história de uma ilha em Angra dos Reis que teria sido passada a Saddam ou a um de seus protegidos. Era o troco de contratos de engenharia assinados pelo ditador. A Kroll já andou atrás dessa ilha.
Luís Favre, marido da prefeita Marta Suplicy, ganhou um apelido: Conde D'Eu.
Na ponta do lápis, a corrente de esquerda do PT, que somava 10% da militância no Encontro Nacional de 2001, chegará à reunião de 2005 com metade desse tamanho. Isso não se deverá a uma migração. Será consequência da diluição numérica da esquerda militante pelo recrutamento dos comissários José Dirceu e Genoino.
Passados três meses do furto de um bom pedaço do acervo da mapoteca do Itamaraty, não se sabe quem levou o butim, nem onde ele foi parar. Sabe-se, contudo, que a chave da mapoteca já tinha sumido do lugar onde era guardada. Depois reapareceu.
Depois da explosão italiana da matriz da Parmalat, percebe-se que no Brasil ela usa um salto mais alto do que devia.Em 2002 ela protegeu funcionários da Prefeitura de Ribeirão Preto informando ao Tribunal de Contas do Estado que fabricava um produto inexistente na sua linha e no catálogo de vendas: molho de tomate com ervilha.
Com o propósito de ilustrar o debate em torno da instituição de cotas para para permitir a matrícula de negros aprovados no vestibular nas universidades públicas brasileiras, publicam-se abaixo algumas opiniões de políticos ilustres durante os debates daquilo que se denominava no final do século XIX de "questão servil". |
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