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Lacerda atribui afastamento da Abin a Jobim
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência)
afastado, o delegado da Polícia
Federal Paulo Lacerda acha
que foi decisiva para sua saída
do cargo a intervenção do ministro Nelson Jobim (Defesa)
na reunião de coordenação do
governo, na última segunda-feira, ao dizer que a agência havia comprado maletas capazes
de fazer escutas telefônicas e
que, portanto, poderia ter sido
efetivamente responsável por
grampear o presidente do STF
(Supremo Tribunal Federal),
ministro Gilmar Mendes.
Desde que deixou o cargo,
Lacerda tem negado que as maletas adquiridas pela Abin sejam capazes de reproduzir conversas telefônicas, como afirmou Jobim na reunião com o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Disse que se trata de um
equipamento defensivo, do
mesmo tipo adquirido por outros órgãos, cujo objetivo é detectar apenas se existem grampos telefônicos ou ambientais
em um determinado local. Chama-se Oscor 5.000.
Quando leu a reportagem publicada pela revista "Veja", que
atribui a um servidor da Abin
um grampo que flagrou uma
conversa entre Gilmar Mendes
e o senador Demóstenes Torres
(DEM-GO), o primeiro ímpeto
de Lacerda foi deixar o cargo na
manhã da segunda-feira. Não
fez isso porque avaliou que seria assinar um recibo de culpa
para a agência. Apostou na investigação que a Polícia Federal fará do caso.
Quando esteve na CPI dos
Grampos, ao ser questionado
sobre reportagens acerca de
grampos ilegais atribuídos pela
"Veja" à Abin, Lacerda afirmou
que, nestes casos, o mais importante é avaliar quem seriam
os interessados em desqualificar uma investigação.
Falava da Operação Satiagraha, que levou à cadeia o banqueiro Daniel Dantas, o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito
de São Paulo Celso Pitta.
Para Lacerda, demonizar a
agência, que cedeu cerca de dez
servidores para trabalhar na
operação, seria um discurso arquitetado pela defesa de Dantas de forma a desqualificar o
trabalho de investigação e permitir que se peça à Justiça a declaração de nulidade do trabalho de quatro anos da PF.
O delegado acha que a prática
de colaboração da Abin com
outros órgãos da administração
pública deveria se tornar corriqueira, como ocorre com a Polícia Federal, o Banco Central, a
Receita Federal, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades
Financeiras), entre outras instituições.
Ele também diz que não pode
falar da Abin como "um primo
leproso" de todos os órgãos da
administração pública, do qual
ninguém pode se aproximar.
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