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JANIO DE FREITAS
O ataque
A reação brasileira ao ataque
de um grupo de bancos estrangeiros, limitada a algumas
palavras aveludadas de Fernando Henrique Cardoso e Pedro
Malan, mostra bem o que aqueles
bancos não sabem quando declaram o Brasil sob riscos graves porque Luiz Inácio Lula da Silva lidera e sobe mais nas pesquisas.
A prevalecer o quadro de candidatos que aí está, não dependeria
da eleição de Lula a resposta
apropriada aos especialistas em
especulação internacional reunidos no Morgan Stanley, Merrill
Lynch, ABN Amro e Santander.
José Serra, Ciro Gomes, Enéas e
Anthony Garotinho exibem a
qualidade comum de não ter vínculos com a burocracia financeira
internacional, como Pedro Malan
e Armínio Fraga, nem prepararem apoios externos para suas
ambições internacionais pós-mandato, como Fernando Henrique.
Alegação de que inexistem
meios práticos de defesa dos interesses brasileiros não se sustenta.
Não há elemento técnico nenhum
para fundamentar a conclusão de
que o programa de Lula implica
riscos e ameaças, quanto mais para a recomendação pública de
que os investidores internacionais
sustem as aplicações em papéis
brasileiros - início característico
dos chamados ataques especulativos.
A autoridade analítica daquelas quatro entidades da especulação internacional ficou definitivamente demonstrada no caso
argentino, quando nenhum deles
foi capaz de resguardar à altura
os interesses dos clientes e nem os
seus próprios, por incapazes de
perceber que o país estava contra
a parede desde muito tempo. Dos
quatro, pelo menos os dois americanos levaram sua clientela a prejuízos imensos, ao recomendarem
investimentos na gigante Enron
até o momento da recente explosão falimentar dessa empresa.
A evidência de propósitos inaceitáveis dos quatro bancos reforça-se com a recomendação exatamente oposta à sua, por parte de
pelo menos três outros, o JP Morgan, o Dresdner e o Barclay's. As
análises e as conclusão não precisariam ser idênticas em todo o sistema bancário, mas as implicações da recomendação negativa
são pesadas demais para que se
dispensem cobranças, explicações
e as medidas judiciais cabíveis
(Petrobras, Eletrobrás e outras já
precisaram suspender operações
financeiras importantes).
Se algum jornalista recomendar
a seus leitores que não façam
aplicações, por exemplo, no
Merryll Lynch, ou Stanley Morgan, ou ABN Amro e ou Santander, com o argumento de que seus
erros de orientação a investidores
ou depositantes os fazem inconfiáveis, por certo esse jornalista
passará pela rebordosa previsível
e por outras que o leitor nem costuma imaginar. E, no entanto,
não terá feito em que relação a
uma entidade de negócios privados, com uns poucos milhares de
acionistas, o que esses especialistas em especulação fazem contra
um país de 170 milhões de pessoas.
Mas, em relação ao Brasil, é forçoso reconhecer que fazem porque podem fazê-lo, autorizados
pela certeza de que conhecem o
governo brasileiro.
Problema
O pior PMDB insiste em que o
vice na chapa de José Serra seja
Henrique Alves, do Rio Grande
do Norte. A insistência se deve a
fortes afinidades, não com o programa do candidato à Presidência, mas com o programa que
aqueles peemedebistas fazem para si, se eleito o apoiado pelo
PMDB.
A recusa de Serra, até agora, a
aceitar a indicação, até lembrando outros nomes, já deveria ter levado Henrique Alves a retirar seu
nome, por pudor. Bem, se tal razão não for própria para o personagem, ao menos o seria a contribuição de não tornar mais difícil
a eleição do candidato adotado,
em princípio, pelo PMDB.
Além de não carrear votos nordestinos, a não ser no seu pequeno estado, Henrique Alves vai sujeitar Serra à acusação de fortalecer uma das mais reprováveis oligarquias do Nordeste. E ainda há
o estímulo que, na opinião de
muitos, sua inclusão na chapa
dará ao chamado jornalismo investigativo.
Antecedentes
É melhor anotar que a inflação
já vinha subindo, o desemprego já
havia chegado à monstruosidade
de 20%, as vendas e a produção
de automóveis estão em queda
desde início do ano, os juros já vinham no seu propósito de sufocar
a vida econômica - e nada disso
teve ou tem a ver com eleição, antecedendo a disputa.
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