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Crise argentina é tema recorrente nos grupos pesquisados
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise na Argentina, um dos temas do programa do pré-candidato José Serra (PSDB) exibido
em março, tem tudo para voltar
ao ar nos próximos comerciais do
governo e da oposição e, adiante,
no horário eleitoral gratuito.
Para fazer tal previsão, basta
constatar a frequência com que o
assunto aparece espontaneamente nos grupos da pesquisa qualitativa do Vox Populi.
Além de disseminada pelos oito
municípios incluídos na amostra,
a preocupação com o país vizinho
não é restrita ao público de maior
escolaridade e renda. Está presente no discurso das classes C e D.
E surge com igual força em outros levantamentos realizados pelo instituto, acrescenta o diretor
Marcos Coimbra. Para ele, não há
dúvida de que as filas e protestos
exibidos pela TV estão gravados
na mente do eleitor. "Pela primeira vez em eleições recentes, um tema genuinamente internacional
influirá na agenda da campanha."
No programa de Serra, credita-se ao rumo tomado pelo governo
federal o fato de o Brasil viver hoje
situação diferente da experimentada pela Argentina. Sugere-se
que mudanças poderiam levar o
país ao mesmo desespero.
O diagnóstico é compartilhado
por uma parcela dos entrevistados -a mesma que enumera benefícios do Plano Real à população mais pobre e que acredita que,
sob FHC, o Brasil passou a ser
"mais respeitado no exterior".
Vale registrar que a qualidade de
"representar bem o país lá fora" é
procurada nos postulantes de
2002 e atribuída ao presidente
mesmo por quem não pretende
votar em seu candidato.
Para muitos, porém, a crise é
apenas motivo de alerta, sem méritos a creditar ao governo.
Coimbra acha prematuro concluir que o fator Argentina venha
a beneficiar o candidato tucano.
"Pode ser assim entre camadas
mais informadas, que identificam
na biografia de Serra atributos para lidar com situação semelhante", diz. "Mas, para a maioria do
eleitorado, ele até o momento é só
ex-ministro da Saúde."
Por ora, prevê o diretor do Vox
Populi, haverá disputa entre os
pré-candidatos para se apresentar
como o mais capacitado a evitar a
"argentinização" do país.
Feita entre 13 e 18 de março, a
pesquisa captou o auge da repercussão do caso que tirou da sucessão Roseana Sarney (PFL) -a
ação policial na empresa da ex-governadora do Maranhão ocorreu no dia 1º daquele mês.
Fatos da vida
O episódio foi o campeão individual de menções no levantamento. Apareceu espontaneamente e gerou debate alentado
nos 18 grupos pesquisados.
Ao lado de "forte decepção", o
relatório descreve a "percepção
unânime de que as denúncias vieram à tona com intenção de derrubar a candidatura".
Ainda que muitos entrevistados
não tenham conseguido expressar com clareza de onde partiram
as denúncias, Coimbra enxerga
nas respostas "a convicção difusa
de que partiram do governo".
Mas o entendimento do público
se distancia do que previram à
época alguns comentaristas, para
os quais a pefelista poderia vir a se
beneficiar da condição de vítima.
A alegada armação não foi condenada nem mesmo pela parcela
minoritária de "viúvos de Roseana" -aqueles que não acompanharam a maioria dos participantes na percepção de que a ex-governadora fez algo errado e que a
julgaram merecedora de "um voto de confiança".
"Não se observa recriminação a
esse ato", diz o relatório sobre o
suposto movimento para derrubar Roseana. "Ele é considerado
fato corriqueiro na política."
Coimbra vai além: "as pessoas
não ligaram porque a denúncia
lhes pareceu verdadeira".
(RLP)
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