|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Colômbia avalia ação externa contra as Farc
Foro de São Paulo é alvo de estratégia preventiva contra apoio internacional à guerrilha, segundo informe do serviço secreto
Estratégia do governo deve articular, afirma o texto, "setores político, jurídico, diplomático, de inteligência e de contra-inteligência"
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Preocupado com a mobilização das Farc no exterior, o serviço de inteligência da Colômbia sugeriu ao governo de Álvaro Uribe a criação de um grupo
secreto para agir fora das fronteiras do país. O plano, que
consta de um informe reservado obtido com exclusividade
pela Folha, prevê contra-ofensiva regional de Uribe nos frontes político, jurídico, midiático
e de inteligência.
Essa espécie de embrião de
uma "CIA colombiana" teria
como alvo prioritário o Foro de
São Paulo, encontro bianual de
partidos políticos e organizações de esquerda da América
Latina. O Foro foi constituído
em 1990 na capital paulista por
iniciativa do PT.
Para a inteligência, apesar de
enfraquecidas internamente,
as Farc se valem de uma "conjuntura favorável aos governos
de esquerda". Do Foro, segundo a inteligência, emanam as linhas mestras de ação regional
dos setores pró-Farc, que estariam "pressionando organizações sociais e integrantes de
governos de esquerda" para a
criação de um "movimento"
para isolar a Colômbia.
Para reagir a esse suposto
movimento, o "governo colombiano deve promover uma estratégia integral que articule os
setores: político, jurídico, diplomático, acadêmico, de inteligência e contra-inteligência".
"O Ministério das Relações
Exteriores, o Ministério da Defesa e o DAS [Departamento
Administrativo de Segurança]
deveriam avaliar a criação de
um comitê técnico permanente de análise e ação externa",
diz o informe. O objetivo seria
"canalizar de forma oportuna
cursos de ação viáveis e concretos" por meio de "ferramentas"
que assegurem ação integrada
do "fator diplomático e de segurança e defesa nacional".
O documento reservado,
produzido pelo DAS, a inteligência colombiana, está datado
de 7 de abril de 2008. Na análise, as diretrizes contra Uribe
foram traçadas na declaração
aprovada pelo Grupo de Trabalho do Foro, em 24 de março.
"A declaração, com matiz de
condenação, alenta o aparato
internacional das Farc. Promover uma série de denúncias
contra a Colômbia, baseando-se na tese de agressão à soberania equatoriana, será a carta de
navegação de núcleos no México, Equador, Nicarágua e Venezuela", diz o documento, em referência ao ataque colombiano
no Equador que matou o guerrilheiro Raúl Reyes em março.
Segundo a inteligência colombiana, o interesse das Farc
"é estabelecer um cerco político que eventualmente gere medidas militares por parte dos
países do hemisfério".
Renúncia
Fontes do governo disseram
que a iniciativa, já acolhida por
Uribe, estaria por trás da renúncia do chanceler Fernando
Araújo, no mês passado.
Araújo, ex-refém das Farc,
considerou a idéia uma violação do direito internacional e
um risco para as relações diplomáticas da Colômbia com os
países vizinhos. Foi substituído
por Jaime Bermúdez, homem
de confiança de Uribe. Entre as
sugestões da inteligência, está a
de que representantes do governo no exterior evitem comentar sobre atividades contra
as Farc para "não favorecê-las",
alimentando o debate.
Texto Anterior: Janio de Freitas: Só não falta o pagamento Próximo Texto: Governo nega pressão para abrigar ex-padre Índice
|