|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FISCO EM CRISE
Leonardo Couto deixa órgão após ter conversas telefônicas com auditor revelados; episódio agrava tensão interna
Gravação faz adjunto se demitir da Receita
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O secretário-adjunto da Receita
Federal Leonardo Couto pediu
exoneração do cargo na sexta-feira, após tomar conhecimento de
gravações feitas pela Polícia Federal de conversa que teve com outro auditor, Flávio Correa, na qual
há ameaças ao corregedor-geral
da Receita, Moacir Leão. A revista
"Época" e a TV Globo divulgaram
as gravações.
Couto se disse vítima de "um
movimento, talvez de pessoas ou
de setores da Receita", para desestabilizar a cúpula da Receita. Três
meses atrás o corregedor Moacir
Leão abriu processo administrativo contra o secretário-adjunto.
Na conversa com Franco Correa, gravada pela Polícia Federal
com autorização judicial, os dois
usaram palavras e expressões fortes contra Leão. Em um dos trechos, Franco Correa reproduziu
para Couto um diálogo que tivera
com um terceiro auditor, Edson
Pedrosa, desafeto confesso de
Moacir Leão, segundo a "Época".
"Para ele [Edson], o cara lá, o corregedor, é um filho da puta, né?
Um cara [...] que é um mal, que
tem que atirar, tem que atirar no
cara, tem que levar um tiro na cabeça", transcreveu a "Época".
O Ministério da Fazenda convocou coletiva de imprensa ontem
para Couto explicar o motivo de
seu pedido de exoneração, que foi
aceito. Disse que deixa o cargo para não comprometer a isenção da
apuração dos fatos. Afirmou também que sua decisão foi tomada
para não prejudicar a imagem da
Receita, do Ministério da Fazenda
nem da Presidência da República.
Couto disse que em nenhum
momento usou a expressão "dar
um tiro na cabeça", que a frase era
do auditor Edson Pedrosa e que
havia sido reproduzida por Franco Correa. Mas Couto também
usou palavras duras, segundo a
transcrição da revista. "Talvez o
Edson não perceba isso, quer dizer, a gente tem o maior interesse
em dar uma porrada no cara
[Leão], não sabe?", disse Couto.
A conversa foi gravada como
parte das investigações feitas pela
Receita e pela Polícia Federal sobre o esquema de corrupção de
funcionários da Receita e do INSS
no Rio que recebiam propina para apagar multas milionárias devidas por empresas.
Couto também supervisionava
a área de Inteligência da Receita.
Moacir Leão identificou correspondência eletrônica de um ex-chefe interino da Inteligência na
qual afirmava ter recebido ordem
de Couto para que a Inteligência
rechaçasse pedidos de investigação da Corregedoria. Por isso,
Leão abriu a ação contra Couto,
que negou ter envolvimento no
caso do esquema de corrupção no
Rio. Disse que qualquer associação nesse sentido é "absurda".
Ele explicou que procurou
Franco Correa para ajudá-lo na
defesa contra o processo, pois o
auditor, além de seu amigo, teria
amplos conhecimentos de direito
e de funcionamento da Receita.
Segundo Couto, a conversa ocorreu quase três meses atrás. "Portanto não tem nada a ver com as
investigações no Rio, que são importantíssimas e têm de ser apuradas até o fim." Afirmou que as
expressões usadas foram no sentido figurado, que jamais qualquer
um deles ameaçaria de morte o
corregedor -que teve sua segurança reforçada após informar
que sofrera ameaças.
Ele não soube dizer quem seriam as pessoas interessadas em
desestabilizar a cúpula da Receita
nem os motivos. Mas disse que o
secretário da Receita, Jorge Rachid, seria o alvo desse movimento. Se disse indignado com a gravação das conversas e afirmou
que a divulgação, além de ilegal,
só poderia ter sido motivada por
interesses "espúrios". O ministro
da Fazenda, Antonio Palocci Filho, nomeou uma comissão de
procuradores da Fazenda para
dar prosseguimento ao processo
administrativo aberto contra
Couto. As gravações feitas pela PF
serão anexadas ao processo.
Disputa
De fato há uma forte disputa hoje na Receita. De um lado está um
grupo que ficou contrariado pelo
fato de Palocci ter mantido toda a
cúpula da Receita que veio da gestão do ex-secretário Everardo
Maciel, a começar por Rachid,
que era o braço direito de Everardo. Desse lado, estariam auditores
ligados ao sindicato da categoria e
o pessoal da Corregedoria. De outro, Rachid e seus adjuntos.
Mas a disputa na Receita envolve outros interesses também.
Desde fevereiro, Moacir Leão
abriu quatro inquéritos para apurar suspeitas de enriquecimento
ilícito e tentativa de atrapalhar o
trabalho da Corregedoria (o caso
de Leonardo Couto).
Um dos inquéritos envolve o
próprio Rachid, que participou de
uma autuação contra a construtura OAS no passado cuja multa
caiu de R$ 1,1 bilhão para R$ 25
milhões. O inquérito apura falhas
na fiscalização da OAS. Outro inquérito apura o enriquecimento
ilícito de Sandro Martins, que até
poucos meses atrás estava lotado
no gabinete de Rachid.
Texto Anterior: Biblioteca Folha: "Senhor das Moscas" é o próximo livro Próximo Texto: Patente: Decreto define a caipirinha bebida nacional Índice
|