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CAMPO MINADO
Fazendeiros alegam medo de ações do governo e ampliam estrutura de entidades para evitar invasões em propriedades
Política agrária de Lula "recria" ruralistas
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
O alegado temor dos fazendeiros diante das ações do governo
Luiz Inácio Lula da Silva na questão fundiária causou um boom
nas entidades ruralistas. Além de
um discurso de união de classe, o
efeito tem causado ampliação de
sedes, abertura de escritórios,
contratação de funcionários e
aquisição de equipamentos.
Segundo as lideranças rurais,
houve uma corrida de filiações
para obter respaldo das assessorias jurídicas das entidades em caso de invasão de fazendas. O foco
da estruturação dos ruralistas
-principalmente São Paulo e Paraná-, é o mesmo apontado pela
Polícia Federal como centro dos
conflitos agrários no país.
"É um crescimento vertiginoso,
com a impossibilidade de atendermos a todos, principalmente
nos pedidos de assessoria para os
casos de invasões", disse o presidente da CNA (Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil),
Antônio Ernesto de Salvo.
Os ruralistas dizem que a sinalização de que o governo federal
não cumprirá a medida provisória antiinvasão incentiva as invasões de terra. A reclamação dos
fazendeiros é também contra os
governos estaduais, que, segundo
eles, são "lentos" e "omissos" no
cumprimento de ordens judiciais
de reintegração de posse.
Fora dos holofotes nos últimos
dez anos, a UDR (União Democrática Ruralista) é um exemplo.
A entidade vai abrir neste mês sua
sede nacional em Brasília e inaugurou na semana passada um serviço de filiação pela internet.
Conhecida nacionalmente por
sua atuação lobista durante a Assembléia Nacional Constituinte
(1987-1988), a UDR foi criada em
1985, em Goiás, pelo médico, produtor rural e hoje deputado federal Ronaldo Caiado (PFL-GO).
Foi extinta em 1994 e rearticulada
dois anos depois.
Hoje, em relação a dezembro do
ano passado, o número de filiados
da UDR cresceu 260%, passando
de 2.500 para 9.000 fazendeiros.
"Diante da inoperância do governo e da atuação desses movimentos que se dizem sociais, os
produtores rurais tiveram de se
unir. Ninguém aguenta mais invasão de terra", afirmou Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente
nacional da UDR e proprietário
rural no Pontal, região de maior
conflito agrário em São Paulo.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, de janeiro a agosto deste ano ocorreram
184 invasões, superando o total
registrado de janeiro a dezembro
de 2001 e 2002, com 158 e 103 casos, respectivamente. A assessoria
de imprensa do ministério informou que ninguém comentaria as
críticas dos ruralistas.
"O produtor, diante de uma
sensação de insegurança, está se
politizando. A tendência é que o
número de filiados cresça ainda
mais", disse João Bosco Leal, 49,
presidente do MNP (Movimento
Nacional de Produtores). Do final
do ano passado até hoje, a entidade aponta que triplicaram as visitas em sua página na internet (26
mil para 77 mil) e cresceu em 35%
a quantidade de contribuintes.
"É claro que a eleição de Lula fez
com que as entidades ruralistas se
reorganizassem. Tornou-se uma
necessidade, quando a lei não é
cumprida", disse Aluizio Rezende, da UDPR (União de Defesa de
Propriedades Rurais), que aumentou de 70 para 150 os associados em MG desde janeiro.
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