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JANIO DE FREITAS
Direitos desumanos
Ninguém ousa questionar nada
do que está convencionado como
direitos humanos, mas é hora, sobretudo para a esquerda que deles foi criadora e é guardiã, de
submetê-los a uma reavaliação
que os descontamine de demagogias e bem-intencionados equívocos.
Há direitos cassando direitos,
quando não a vida. É, sim, um
dos casos extremos de deformação, mas, por isso mesmo, mais
apto a dar melhor visibilidade ao
problema.
Foi preciso que a violência urbana no Rio entrasse em crise
aguda e dois juizes fossem assassinados em São Paulo e Espírito
Santo para que, afinal, fossem
considerados o maior isolamento
de determinados criminosos, de
30 para 360 dias, seu encarceramento distante da área de ação
de criminosa e o agravamento
das penas por crimes contra envolvidos em atividades anticriminais.
Protestos contra as duas primeiras providências logo surgiram da
esquerda e, agora, articula-se
uma reação organizada e mais
extensa. Sempre em nome dos direitos humanos, que seriam feridos pela distância da família, a
suspensão das visitas íntimas, os
efeitos psíquicos da longa incomunicabilidade e outros.
É, porém, de dentro das cadeias
que saem os planos e as ordens
para mais numerosos e mais graves crimes contra a coletividade e
contra inocentes. A corrente de
transmissão da ferocidade se faz
por um meio absurdo: a transformação dos direitos de contato familiar, de visitas íntimas, de encontros irrestritos com advogados
em componentes de crimes. Se a
proximidade da família é usada
para atingir outras famílias, não
é mais um direito de preso, é um
meio de crime oferecido sob o nome falso de direito. Uma concessão dos direitos humanos passa a
ser perversão.
Nesse caso, entre outros constatáveis, os praticantes da generalização extremada de direitos ditos
humanos assumem, por mais que
se considerem de esquerda e humanitários, posições e práticas de
direita. O que estão defendendo
são privilégios que permitem a
uns poucos investir, com seus comandados soltos, contra a população. E fazê-lo impunemente,
porque já estão condenados a dezenas de anos. O que lhes resta
são as barganhas com o poder público, para manter ou alargar os
seus direitos humanos desumanos, que parte da esquerda quer
preservar.
Direitos e humanos, criados por
séculos de bravura humanista,
são o andar pelas ruas, o estar em
ônibus ou carros, o viver nas casas, sem os riscos cruéis que perseguem filhos, pais, mulheres, por
vontade da bandidagem mesmo
que encarcerada.
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