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QUESTÃO INDÍGENA
Armados por narcotraficantes do Polígono da Maconha, grupo da etnia truká leva violência às aldeias
Índios viram seguranças do tráfico em PE
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
Narcotraficantes do chamado
Polígono da Maconha, em Pernambuco, armaram um grupo de
índios da etnia truká, que por sua
vez se tornou traficante de drogas,
levando violência às aldeias localizadas na Ilha de Assunção, no
município de Cabrobó (586 km
de Recife).
Os índios traficantes são os responsáveis pela segurança das lavouras ilegais de maconha situadas em ilhotas de difícil acesso do
arquipélago, banhado pelo rio
São Francisco.
No grupo de índios traficantes,
a Polícia Federal já identificou pelos menos dois líderes da organização criminosa.
Segundo o cacique truká Ailson
dos Santos, nos últimos três anos,
mais de seis índios contrários à
ação do tráfico dentro da reserva
-sendo dois no último dia 29-
foram mortos em represálias.
Considerando não-índios, o número de mortes na região por
causa do tráfico chega a cem, de
acordo com o cacique.
Por falta de segurança, diz o líder indígena, crianças deixam de
ir às escolas em períodos crise.
"O grupo de índios está fortemente armado com fuzis, pistolas. Eles têm até armas roubadas
da Polícia Militar", afirma o cacique, que se diz ameaçado de morte (leia texto nesse página).
Fuga da cadeia
De acordo com o superintendente da Polícia Federal de Pernambuco, Wilson Damázio, o índio truká Carlos Jardiel é considerado traficante de alta periculosidade e está foragido da polícia.
"O Jardiel é um dos traficantes
mais procurados na região", disse
o superintendente da PF.
Em 2002, segundo a polícia, o
índio foi preso com 86 kg de maconha, mas conseguiu fugir da cadeia pública de Cabrobó.
"Ele foi resgatado no segundo
semestre da cadeia por um grupo
de índios do grupo. Eles levaram
algumas armas, até fuzis da PM.
Recuperamos numa operação de
desarmamento algumas armas,
mas outras [ele não soube precisar quantas" ainda estão em poder deles], disse Damázio.
Buscas na reserva
Na última semana, a PF fez buscas na reserva atrás de pistas dos
assassinos dos irmãos João Batista e Antônio Roberto Gomes Rodrigues -os dois índios trukás
mortos no sábado retrasado.
João e Antônio foram mortos a
tiros de fuzis e pistolas numa emboscada. Os autores do crime não
foram localizados pela polícia.
Para o vice-presidente do Cimi
(Conselho Indígena Missionário),
Saulo Feitoza, que acompanha o
povo truká desde os anos 80, a
questão da violência do tráfico na
reserva é complexa.
Os índios não estariam mais
conseguindo identificar seus pares que têm conexão com o tráfico. Segundo ele, há conexão até
com a organização criminosa Comando Vermelho, que age no Estado do Rio de Janeiro.
"O cacique [Ailson dos Santos"
consegue identificar índios ligados ao tráfico. O problema são as
forças invisíveis [os líderes do tráfico, que ficam em outros lugares". Quem está dentro da reserva
é refém de um esquema maior,
que tem conexão, inclusive, com
o Comando Vermelho. Os índios
são escravos da droga", afirmou
Feitoza.
Posição da Funai
A Funai (Fundação Nacional do
Índio, órgão responsável no governo federal por estabelece e executa a política indigenista no Brasil) anunciou que vai orientar o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva a introduzir uma política de segurança pública de combate ao
narcotráfico nas aldeias.
O órgão diz ter constatado infiltrações do crime organizado,
além da reserva truká, nas áreas
atikum e pankararú, situadas
também em Cabrobó.
"Temos que agir com rapidez,
antes que a situação ganhe proporção semelhante à de periferias
das grandes cidades, envolvendo
um componente étnico. Não podemos deixar [os índios" à mercê
desse tipo de infiltrações [do narcotráfico", que representa um perigo extremo", disse o presidente
da Funai, Eduardo Almeida.
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