São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004

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CRIME EM CAMPINAS

Roseana Garcia diz que tese da Promotoria é absurda e que morte do prefeito interessava a muita gente

Viúva de Toninho pede apuração federal sobre morte

RICARDO BRANDT
EDITOR DA FOLHA CAMPINAS

Mais de dois anos após o assassinato do prefeito de Campinas Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, sua viúva, a psicóloga Roseana Garcia, faz a última investida para tentar provar que o crime foi encomendado, contrariando as conclusões do Ministério Público Estadual.
A denúncia acatada pela Justiça considera que Toninho foi morto pela quadrilha do seqüestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, durante a fuga de uma tentativa frustrada de seqüestro. O carro do prefeito, em baixa velocidade, teria atrapalhado a fuga.
Toninho foi morto em 10 de setembro de 2001. Há cerca de 15 dias, Roseana foi a Brasília para tentar entregar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um abaixo-assinado com 57 mil assinaturas pedindo a reabertura do caso.

 

Folha - O Ministério Público e a Polícia Civil têm convicção de que o assassinato de Toninho foi casual. Por que você não aceita essa tese?
Roseana Garcia -
Crime casual é uma coisa quase absurda. Essa tese não se sustenta. Não foi feita nem a reconstituição do caso fidedignamente. Fizeram só uma simulação. Estava tudo desfigurado no local. A tese da polícia é de que 2 km antes houve uma tentativa de seqüestro e na fuga ele foi assassinado. Mas estão todos mortos, menos o Andinho, que diz que não estava lá. Li uma notícia e estou preocupada. Dizia que o Andinho articula seqüestros de dentro da cadeia. Ele não tem capacidade para isso. Estou com medo de que ele morra.

Folha - Por quê?
Roseana -
Ele é a única pessoa viva nesse caso e que pode contar por que cometeram o crime. Amanhã pode ter uma rebelião e ele aparecer morto.

Folha - O que a faz crer que o crime foi cometido a mando? A quem interessaria a morte do Toninho?
Roseana -
A muita gente.

Folha - Nomes?
Roseana -
Primeiro que o Antonio, quando foi vice-prefeito da outra vez [1986-1987], fez denúncias de cartas marcadas em licitações e de superfaturamento. Ele denunciou o VLT [Veículo Leve sobre Trilhos, sistema de trens licitado, mas nunca efetivado], que não existe. Foi uma ação popular contra o [Orestes] Quércia, que era o governador, contra a Prefeitura de Campinas e contra uma empreiteira. São milhões de dólares. Também moveu uma ação popular no contrato do lixo na época do Jacó [Bittar, ex-prefeito]. Um shopping iria ser feito aqui em Campinas, no campo de treino do Guarani, e isso foi encaminhado para a CPI do Narcotráfico. O terreno é público. Foi o Toninho que conseguiu impedir a construção do shopping.

Folha - Mas por que a questão do shopping foi levada para à CPI?
Roseana -
Porque é lavagem de dinheiro. O Antonio não deu o alvará de funcionamento a um bingo. Negou duas vezes. Foi assassinado em setembro e, em dezembro, o bingo já funcionava. Tem muita gente feliz nessa cidade.

Folha - A sra. vê relação entre a morte de Toninho e a do prefeito de Santo André Celso Daniel?
Roseana -
Não sei. Num primeiro momento, até achei que podia ter. Não conhecia Santo André, não conhecia Daniel. Mas lá acho que o caso pode ser mais político, pode até esbarrar no PT. Aqui em Campinas não tem essa ligação.

Folha - A sra. vê um interesse político na morte de Toninho?
Roseana -
Narcotráfico envolve empresários e políticos.

Folha - Quais são os pontos falhos da investigação?
Roseana -
O caso teve várias versões. Primeiro foi a dos quatro meninos em duas motos. Foi uma versão da polícia de Campinas. Essa mesma polícia foi a Caraguatatuba [SP] e matou todos os que possivelmente estariam no carro de onde saíram os disparos. Que interesse teriam? Houve outros problemas. A única coisa que une a quadrilha do Andinho ao caso é a suposta ligação entre o tiro dado na tentativa de seqüestro minutos antes e o tiro que matou Antonio.

Folha - Por que a senhora quer uma apuração federal no caso?
Roseana -
Porque a polícia de São Paulo não investigou o crime.


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