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PT SOB SUSPEITA
Mário Maurici de Lima Morais atribui denúncias a interesses eleitorais
Secretário de Governo acusa "massacre" contra petistas
André Sarmento - 20.jun.2002/Folha Imagem
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O secretário de Governo de Santo André, Mário Maurici de Lima Morais, em entrevista na prefeitura |
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a missão de defender a
Prefeitura de Santo André das denúncias de corrupção, Mário
Maurici de Lima Morais, 41, secretário de Governo, vai para o
ataque. Diz que o PT está sendo
"massacrado" por promotores,
pela imprensa e por adversários
políticos. "Em ano eleitoral, há
uma convergência de interesses."
Em uma hora e meia de entrevista à Folha, o secretário repetiu
14 vezes não haver "indícios, provas ou testemunhos consistentes"
que comprovem a denúncia dos
promotores criminais, que acusam a prefeitura, por meio do secretário afastado de Serviços Municipais Klinger Luiz de Oliveira
Sousa, de cobrar propina de empresas de ônibus da cidade.
Como não leu o procedimento
investigatório, que ensejou a denúncia (acusação formal) à Justiça, Morais justificou suas críticas
ao perfil das pessoas ouvidas pela
Promotoria. Criticou primeiro a
família Gabrilli, dona da empresa
de ônibus Expresso Guarará, que
acusou o pagamento de propina à
prefeitura. Depois, o oftalmologista João Francisco Daniel, irmão
do prefeito assassinado Celso Daniel, que afirmou ter ouvido que
parte da propina foi para campanhas eleitorais do PT.
Na entrevista, Morais afirmou
que Luiz Antônio Marrey Filho,
última instância do Ministério
Público de São Paulo, "faltou com
a verdade" ao negar ter conhecimento da investigação promovida por promotores criminais.
Bem articulado e com voz pausada, o secretário não deixou de
responder a nenhuma das perguntas e revidou todas as acusações. Leia trechos da entrevista:
Folha - Contra a Prefeitura de
Santo André há três ações cíveis,
uma penal e pelo menos 50 investigações em andamento. Qual a responsabilidade do PT?
Mário Maurici de Lima Morais -
Acho que há um massacre contra
nós. O Ministério Público está
exorbitando de suas funções. Alguns promotores agem de forma
que beira a irresponsabilidade,
aliás, beira não, atinge a irresponsabilidade. Se um cidadão comum acusasse alguém de um crime, sem documentos, provas ou
testemunhos consistentes, como
foi feita a denúncia criminal, certamente estaria sujeito à lei. Um
promotor pode fazer essas coisas
da maneira mais leviana possível
porque, se processado por danos
morais, quem pagará é o Estado.
Folha - O sr. leu o procedimento
criminal que ensejou a denúncia?
Morais - Não. Pedimos três vezes
para ter acesso, mas não tivemos.
Folha - Se não leu, como afirmar
que não há provas consistentes?
Morais - Não é uma opinião só
minha, é também do ministro
Nelson Jobim [do Supremo Tribunal Federal, que arquivou pedido de inquérito para investigar o
presidente do PT, José Dirceu,
acusado de usar dinheiro de propina em campanhas eleitorais".
Sei que não há provas. Tem o depoimento, por exemplo, de João
Francisco, que não viu e não sabe
de nada, mas que ouviu falar [da
cobrança de propina de empresários e do uso do dinheiro para
campanhas do PT".
Folha - Tem ainda o depoimento
da empresária Rosângela Gabrilli...
Morais - Sim. Foram ouvidos todos os donos de uma empresa
[Expresso Guarará" e uma funcionária dessa empresa. É uma relação, no mínimo, incestuosa, estão
todos do mesmo lado.
Folha - É um complô contra o PT?
Morais - Em ano eleitoral, acho
que há uma convergência de interesses. Isso faz, por exemplo, com
que a imprensa dê mais peso a
questões que não daria em condições normais. Há interesses de
candidaturas colocadas, prontas a
instrumentalizar denúncias contra adversários. Há os promotores
de Santo André que gostam de
holofote. Mas não há denúncias
novas, são coisas que estão rolando há um ano, dois anos.
Folha - Por que o sr. tem afirmado
que há interferência política na
ação dos promotores?
Morais - Vou citar um exemplo.
Como não tivemos acesso ao procedimento criminal do Ministério
Público, o presidente da Câmara
Municipal de São Paulo, José
Eduardo Cardozo (PT), e o advogado Márcio Thomaz Bastos perguntaram ao procurador-geral se
ele sabia de alguma investigação
envolvendo o PT de Santo André.
[Luiz Antônio" Marrey disse que
não tinha conhecimento. Só que,
uma semana antes, o Tribunal de
Contas do Estado nos avisou de
um pedido de Marrey para que os
contratos de Santo André fossem
facilitados aos promotores. Acho
isso, no mínimo, muito estranho.
Folha - Klinger é responsável pela
cobrança de propina?
Morais - Eu não seria responsável se admitisse uma coisa desse
tipo. Conheço Klinger há três
anos, trabalho com ele. É um excelente companheiro e um excelente secretário. Custa acreditar
que ele possa estar envolvido nessas denúncias. Mas ninguém aqui
é idiota. Queremos a investigação,
desde que haja evidência de irregularidade, e não há. Temos os
depoimentos do irmão de Celso
Daniel e da família Gabrilli, cuja
empresa não cumpriu seus deveres contratuais com a prefeitura.
Folha - Que deveres não cumpriu?
Morais - A Expresso Guarará ganhou uma concorrência pública
para construir um corredor tronco-alimentar (avenida de ônibus
cortada por linhas laterais), mas
não concluiu o serviço. A prefeitura cobrou e eles pediram um
prazo maior. Cobrou de novo, e
pediram um segundo prazo. Depois, afirmaram que a empresa
havia gasto cerca de R$ 11 milhões, onde deveria gastar R$ 7
milhões. Montamos uma comissão especial de fiscalização para
averiguar se essa informação (do
gasto excedente) era verdadeira.
Imediatamente, a Guarará entrou
com três mandados de segurança
para desfazer a comissão e para
evitar ser obrigada a entregar seus
relatórios financeiros. A Justiça
negou dois mandados e um ainda
não teve decisão. Por isso, para
mim, essa denúncia tem muito
mais cara de represália.
Folha - O sr. colocaria sua mão no
fogo pela inocência de Klinger, de
Ronan Maria Pinto e de Sérgio Gomes da Silva, todos denunciados
pelo Ministério Público?
Morais - Acho que não existe nenhum motivo no mundo para colocar a mão no fogo por alguém.
Conheço Klinger há três anos.
Nunca vi uma demonstração de
que ele se locupletasse por meio
de seu cargo público. Divergências políticas existem dentro do
partido, o que é normal, mas nunca ninguém o acusou dessas irregularidades. Quanto a Ronan e a
Sérgio, vi essas pessoas somente
uma vez na minha vida, e não
posso falar nada.
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