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ELEIÇÕES 2008 / JUSTIÇA ELEITORAL
ENTREVISTA
ODED
GRAJEW
Eleitor deve decidir inelegibilidade de candidato no voto
Empresário defende que ação na Justiça contra político tenha ampla divulgação
Liderado por ex-assessor de Lula, movimento Nossa São Paulo consegue aprovar lei que obriga futuro prefeito a detalhar prazos e propostas
ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL
À frente do movimento Nossa São Paulo, sustentado por
mais de 500 organizações civis,
o empresário Oded Grajew, 63,
ex-assessor e amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
defende cautela na decisão sobre a inelegibilidade de candidatos que respondem a processo na Justiça, mas quer a ampla
divulgação da lista de casos em
que eles são réus para deixar a
decisão a cargo do eleitor.
Idealizador do Fórum Social
Mundial, Grajew está à frente
de uma nova cruzada. O movimento acaba de conseguir a
aprovação na Câmara Municipal de São Paulo de uma lei que
obriga o futuro prefeito a detalhar com índices e prazos o
quanto pretende melhorar em
cada setor. O plano, que já está
sendo copiado em outras cidades do país, dará à sociedade
instrumentos para avaliar o desempenho do prefeito.
Leis como esta, garante Grajew, irão fazer com que os executores pensem em nomear assessores movidos mais por profissionalismo do que por interesses políticos. "Quero obrigar
as pessoas a pensarem em medidas mais radicais", afirma ele.
FOLHA - Como surgiu o movimento Nossa São Paulo?
ODED GRAJEW - A idéia surgiu
com a frustração após as eleições de 2006. A maioria dos novos eleitos tinha programas
sem metas, um discurso vazio.
Vivemos num país com carga
tributária de Primeiro Mundo
e, em contrapartida, serviços de
quinto mundo. Então nasceu a
idéia de criar um movimento
em São Paulo, a maior cidade
do país, onde tudo o que acontece tem repercussão.
FOLHA - Quais os objetivos?
GRAJEW - Ele busca comprometer tanto a sociedade quanto
sucessivos governos com uma
cidade sustentável e justa, produzindo um processo exemplar
para que isso aconteça. O movimento quer introduzir grandes
mudanças no processo político.
Você pergunta qual é o programa do Lula, ou do Alckmin,
ou do [governador José] Serra...
O problema não é localizado
em um partido. É uma falha do
processo político.
FOLHA - Recentemente vocês conseguiram aprovar uma lei que obriga o futuro prefeito de São Paulo a
apresentar um programa de metas
com indicadores. O que isso representa para a cidade?
GRAJEW - Essa lei mostra a força da sociedade. O próximo
prefeito terá que apresentar em
90 dias um plano de metas e objetivos com indicadores numéricos compatível com seu programa eleitoral. Depois terá
que publicar o plano por distrito da cidade, porque cada distrito é uma cidade média brasileira. É uma revolução porque
dá informação à população.
FOLHA - O sr. é a favor de divulgar a
"ficha suja" dos candidatos? Eles deveriam ser impedidos de concorrer?
GRAJEW - A iniciativa de tentar
moralizar a política é muito
boa. Dar informação dos candidatos aos eleitores é importante. Mas há que se tomar alguns
cuidados. Uma condenação em
primeira instância é muito discutível [para tornar o candidato
inelegível]. Há gente sendo
processada por causas justas e
acaba com uma condenação
inicial por questões locais.
Defendo que se informe, junto com o currículo dos candidatos, os processos a que eles respondem. Ao lado da urna, no local de votação. É preciso deixar
o eleitor decidir, com toda a informação disponível.
FOLHA - Em que ponto eles deveriam ser impedidos de concorrer?
GRAJEW - Para a inelegibilidade
do candidato é necessária uma
condenação final. É o que diz a
lei. Sem dúvida, precisamos fazer com que o sistema jurídico
seja mais rápido.
FOLHA - Qual o conselho para
quem está cansado da política?
GRAJEW - Essas pessoas estão
delegando para outros mandarem na vida delas. Se você não
decidir, alguém vai decidir por
você. E as decisões irão influenciar a sua vida.
FOLHA - Votar faz diferença?
GRAJEW - Faz. Mas o que faz diferença é a democracia participativa, onde votar é parte. Mas
significa você participar no
bairro, controlar o poder público, propor, cobrar. Os países
que mais deram certo no mundo são os que aprofundaram a
democracia participativa.
FOLHA - Primeiro o Fórum Social
Mundial, agora o movimento Nossa
São Paulo. O sr. é um utopista?
GRAJEW - Eu traço um cenário
para obrigar as pessoas a pensarem em medidas mais radicais. Quando falo em quadro
político, é para tirar a ilusão das
pessoas de que vamos eleger esse [candidato] que vai salvar a
gente. Ou de que agora, com esse candidato, tudo vai mudar.
A solução tem que ser mais
profunda. É difícil viver no Brasil e não ficar descontente. Precisamos mudar o sistema. Não
é utópico, basta olhar o que
aconteceu no Brasil: Diretas Já,
impeachment do [ex-presidente Fernando] Collor. Por quê?
Porque a sociedade se juntou.
FOLHA - O sr. critica o atual processo de financiamento de campanha.
GRAJEW - No atual processo político brasileiro, é ilusão achar
que a maioria dos candidatos
trabalha para a população. Sua
principal preocupação é dar retorno aos financiadores. O cara
assume com o sistema que tem
hoje e muda os cargos de confiança. Muda por critérios políticos. Não [escolhe] o [ministro] Edison Lobão porque ele é
um "expert" em Minas e Energia. É um uso partidário.
Agora imagine uma empresa
privada funcionando nesse sistema. Em um ano vai à falência.
FOLHA - O sr. acredita na aprovação da reforma política?
GRAJEW - Não se pode esperar
que os políticos mudem o sistema. Não vão dar um tiro no pé e
mudar o sistema pelo qual são
beneficiados. Financiamento
público de campanha não querem. É a pressão da sociedade
que irá mudar. Olhe os casos de
corrupção que estouram. Crise
no Rio Grande do Sul ou o mensalão. Todos têm origem no financiamento de campanhas.
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