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JANIO DE FREITAS
O negócio da negociação
Em discurso muito parecido, pela arrogância e pelo
tom autoritário, com os que cansamos de ouvir e só mereciam ficar esquecidos, Luiz Inácio Lula
da Silva afirmou - entre desnecessidades como "nós vamos ensinar esse país a negociar", "esta
nau tem comandante", e por aí-
que o governo negociou a aprovação da "reforma" tributária sem
praticar "a política do é dando
que se recebe".
Na votação da "reforma" anterior, a previdenciária, o governo
Lula foi salvo por deputados do
PFL e do PSDB, que lhe deram 62
votos e lhe permitiram ultrapassar os 308 mínimos para evitar a
derrota. Agora o governo não
contava com o mesmo apoio do
PSDB e do PFL, reduzido a 39. A
perda de 23 foi suprida pelo
PMDB, que antes dera ao governo 45 votos e agora deu 70.
Por quê? O aliciamento foi feito
à custa, preliminarmente, de dois
ministérios, a serem entregues a
peemedebistas em futuro próximo. Quem se reuniu com o comando peemedebista, para acertar os termos do apoio na votação, foi o próprio Lula.
Mas os ministérios não são nada. As nomeações para outros
cargos da máquina de administração, nos mais variados níveis, é
que são elas. Um único ministério
não faria 70 peemedebistas darem seus votos ao governo, sem a
promessa de que todos serão
agraciados.
Os inúmeros cargos para recompensar os votos peemedebistas são públicos, o que significa,
primeiro, que são pagos; além disso, pagos com dinheiro dos cofres
públicos. Dinheiro que assim se
destina a parentes e agentes eleitorais dos parlamentares em
questão.
Negociações políticas se fazem
em torno de programas de ação e,
nos melhores casos, em torno de
idéias. Aliciamento em cima de
votação e com recompensa não é
negociação. Lula foi especialista
nessa diferença entre negociação
política e negócio político. Tanto
que ele e seu partido fizeram a
primeira muitas vezes no governo
Itamar, mas não entraram na segunda em nenhuma das numerosas oportunidades no governo
Fernando Henrique Cardoso. A
adesão ao método antes condenado não muda a essência e o nome da coisa.
Reação
O governo não deu a explicação
devida pela destituição do presidente do Incra, Marcelo Resende.
O ministro Miguel Rossetto, do
Desenvolvimento (sic) Agrário,
disse alguma coisa meio ridícula
sobre afinação com ou do novo
nomeado, e pronto. O ministro e o
governo não respeitaram a imagem do destituído nem o direito
dos cidadãos de saber o que se
passa no governo, que não é ente
privado.
Marcelo Resende é ligado à Comissão Pastoral da Terra, à qual
Lula pediu, e recebeu, indicações
para o Incra. A demissão de Marcelo Resende expressou a irritação palaciana com a segunda crítica feita pela CNBB ao governo
Lula.
Enfim
Por iniciativa do senador peessedebista Arthur Virgílio, o Senado aprovou a criação da CPI do
loteamento de cargos. Que bom.
Pode ser que assim o governo Lula se ponha em brios e, em resposta, investigue um dos vários casos
cujos inquéritos, na Polícia Federal ou como CPI, o governo Fernando Henrique impediu.
E Arthur Virgílio ainda abriu a
possibilidade de que o governo levante o loteamento de cargos,
sem precedente em número e no
compra-e-vende, durante o governo de que o próprio Arthur
Virgílio foi líder na Câmara.
Cabeça
Deve estar vindo aí uma nova
Teoria dos Números, ou algo
ainda mais fantástico para o futuro da matemática. Indagado
sobre a nova estimativa do
IPEA, entidade do governo, para o crescimento econômico deste ano, de miserável 0,5%, o ministro Antonio Palocci foi categórico: "Números não se comentam".
Pensa que acabou? Pois o
complemento foi à altura: "E
perspectivas são perspectivas".
Quem diria? Mas é melhor
não comentar essas novidades.
Ainda mais diante da originalidade que veio pouco depois: "A
vida é dura. A agenda também".
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