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"Não há Duda que torne o 7 de Setembro popular"
DA REDAÇÃO
"Não há Duda Mendonça que
transforme o 7 de Setembro numa festa popular", diz o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos
(SP). Ele e José Murilo de Carvalho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), concordam
que os brasileiros não aderem em
massa às comemorações do Dia
da Independência.
Em outros países, é diferente.
Carvalho lembra que, nos EUA, o
4 de Julho tem grande participação dos americanos. "São radicalmente opostas", diz ele sobre as
celebrações daqui e de lá.
Villa menciona as datas nacionais da França e do México. Em
ambas, a identificação da população com o evento também é bem
maior do que no Brasil. Isso se explica, segundo ele, pelo fato de os
episódios que marcaram essas datas terem sido mais fortes do que
o 7 de Setembro brasileiro.
Na França, o 14 de Julho marca a
queda da Bastilha, um símbolo do
regime absolutista derrubado em
1789. No México, a festa é na noite
de 15 para 16 de setembro, quando, em 1810, começou uma guerra
camponesa pela independência,
que só veio, porém, em 1821.
No Brasil, não houve guerra, como nos EUA, ou insurreição popular, como na França e no México. O grito do Ipiranga, diz Villa,
foi um fato fortuito. Houve até
um acordo para que Portugal reconhecesse a independência mediante um pagamento.
Para Villa, outras datas nacionais, como o 15 de Novembro
-Proclamação da República-,
não são festas populares também
porque o respectivo episódio não
teve muita participação do povo.
Carvalho também minimiza a
importância do 7 de Setembro: "É
um episódio muito secundário
dentro do processo de independência". Segundo ele, embora a
independência tenha sido comemorada nas ruas do Rio de Janeiro, a data ficou de certa forma "esquecida" até a época do Estado
Novo (1937-1945, governo de Getúlio Vargas), quando começaram os desfiles militares e os desfiles nas escolas, para os quais,
lembra o professor, "ia um sargento lá nos ensinar o passo".
Durante o regime militar (1964-1985), conta Carvalho, a participação dos estudantes foi reduzida, e o papel das Forças Armadas
se acentuou ainda mais. A festa,
então, "se tornou um desfile militar igualzinho aos da antiga União
Soviética", afirma o professor.
"Fica parecido com o episódio
do Ipiranga, que não tinha povo",
diz. Ele se refere à imagem que o
pintor Pedro Américo fez do grito
no seu quadro "Independência
ou Morte!". Nele, enquanto Dom
Pedro 1º ergue a espada, rodeado
de cavaleiros, um "homem do povo", que conduz um carro de boi,
observa o gesto com ar de quem
não entende o que se passa.
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