|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Duhalde quer empresários em viagens
ENVIADO ESPECIAL A ABU DHABI
Eduardo Duhalde toma posse
formalmente apenas no dia 16
deste mês, mas já atua na prática
como presidente da Comissão de
Representantes Permanentes do
Mercosul.
A função do ex-presidente argentino será dar caráter de representação institucional mais perene para a associação comercial.
Para ele, os presidentes de países do Mercosul devem levar empresários sempre em suas viagens
internacionais.
É o que acontecerá no ano que
vem, quando o presidente argentino, Néstor Kirchner, visitará a
China, em maio. Haverá na comitiva homens de negócios da Argentina, do Brasil e, a depender do
desejo de Duhalde, também do
Uruguai e do Paraguai.
Para Duhalde, as relações entre
Brasil e Argentina nunca foram
tão boas. Ele fala com frequência
com o presidente brasileiro, Luiz
Inácio Lula da Silva.
No momento, o ex-presidente
argentino está incorporado à delegação do presidente brasileiro
num giro de nove dias a cinco países árabes -Síria, Líbano, Emirados Árabes Unidos (onde se encontram hoje), Egito e Líbia.
O brasileiro faz sempre questão
de tê-lo ao lado nos eventos mais
importantes.
"Serei um mandatário dos presidentes dos países do Mercosul",
afirma Duhalde.
O cargo que vai ocupar dará à
associação comercial, pela primeira vez, um peso político que
jamais teve. Antes, havia decisões
e encaminhamentos nas esparsas
reuniões de cúpula. Depois, os
burocratas tinham dificuldade
para conseguir fazer andar o que
havia sido decidido.
A seguir, entrevista concedida
por Eduardo Duhalde à Folha na
sexta-feira:
Folha - Qual é o significado desta
viagem a países árabes do presidente Lula e do sr., que está integrado à delegação brasileira?
Eduardo Duhalde - Primeiro, tem
o aspecto simbólico. Argentina e
Brasil sabem claramente que essa
relação é necessária. No ano passado, na única viagem grande que
fiz, para a Rússia, convidei empresários brasileiros. Temos uma
idéia comum: a de promover e fazer nossa região conhecida. O
Mercosul.
Além disso, agora estou ansioso
para sair promovendo o Mercosul, inclusive não apenas acompanhando outros presidentes. Mas
acompanhando empresários dos
nossos países, de setores específicos, de alguma atividade, para inter-relacioná-los. Esses encontros
propiciam contatos que podem
resultar em vendas importantes.
Folha - O cargo que foi criado no
Mercosul e que o sr. ocupa tem qual
função exatamente?
Duhalde - Os presidentes rotativos que ocupam o cargo a cada
seis meses não têm tempo para se
ocuparem dessa tarefa. Decidem
coisas e não há quem possa segui-las. Mas eu terei todo o tempo para reunir-me com os Parlamentos
ou com os empresários quando
houver problemas a serem resolvidos. Serei um pouco um mediador, porque, às vezes, há reclamos
legítimos de algum país.
Muitas vezes, um problema não
tem sido resolvido porque falta
tempo para alguém tratar do assunto, e não porque o reclamante
não tenha razão. Os chanceleres
têm muitos outros temas para tratar. Então, tem de haver uma pessoa, que neste caso serei eu, que
estará falando diretamente com
os presidentes para que as decisões sejam seguidas.
O mandato é de dois anos, renováveis. Minha posse oficial é no
dia 16 deste mês, em Montevidéu,
no Uruguai.
Folha - O que o sr. tem conversado com o presidente Lula sobre essa nova atividade que vai desempenhar?
Duhalde - Vamos ter uma reunião no dia 15 de dezembro, antes
da minha posse formal. Falarei
com todos os presidentes do Mercosul. Vou saber com clareza o
que me encomendarão. Serei um
mandatário dos presidentes dos
países do Mercosul.
Terei de saber até onde poderemos chegar no campo da integração. Não tomarei decisões por
conta própria. E tenho a facilidade de falar com todos os presidentes quando for necessário.
Folha - Como estão as relações
entre Argentina e Brasil? Estão
mesmo boas, melhores do que nunca, como se diz?
Duhalde - Creio que estamos no
nosso melhor momento. Na época dos presidentes José Sarney e
Raúl Alfonsin também havia força de vontade. Mas era muito embrionário. Agora, o que vejo, é
uma grande vontade política de
união. Antes não se via isso tão
claramente.
Folha - A que se pode creditar esse fato?
Duhalde - Porque historicamente os nossos países sempre corriam para os Estados Unidos
quando a economia estava frágil.
Agora, entende-se que, apesar das
dificuldades das nossas economias, temos de estar juntos.
Folha - De que forma o governo
argentino pode fazer algo na área
internacional para promover a região?
Duhalde - Está prevista uma visita grande do presidente Néstor
Kirchner na China, em maio do
ano que vem. Dentro do Mercosul, trabalha-se para que empresários de determinados setores,
dos países associados, possam ir
junto. E devem ir não apenas os
da Argentina e do Brasil, mas
também os empresários do Paraguai e do Uruguai.
Folha - Neste giro internacional
pelo mundo árabe o presidente Lula tem sido enfático sobre Iraque e
outros temas correlatos. O sr. acha
que isso é positivo ou que pode
causar algum tipo de constrangimento em relação aos Estados Unidos?
Duhalde - Minha posição é igual
a do presidente Lula. Todos sabem que coincido nisso com ele.
Texto Anterior: Viagem ao Oriente: Lula reúne em Brasília grupo de países em desenvolvimento Próximo Texto: Exterior: Tratamento contra Aids é estratégia de liderança Índice
|