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CASO SANTO ANDRÉ
Conclusões conflitantes da Polícia Civil e do Ministério Público não eliminam mistérios sobre episódio
Morte de Daniel segue cercada de dúvidas
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Após quase dois anos do assassinato do prefeito de Santo André
Celso Daniel (PT) algumas dúvidas da família sobre as circunstâncias do crime ainda persistem.
O corpo do petista foi encontrado
no dia 20 de janeiro do ano passado, em uma estrada de terra em
Juquitiba (a 78 km de SP), com sete tiros e sinais de tortura.
Desde então, a arma do crime
nunca foi localizada, não é possível afirmar se o prefeito foi morto
no local em que foi encontrado
nem mesmo quem foi o autor dos
disparos. Os depoimentos colhidos pela Polícia Civil e pela Promotoria, de forma independente,
são conflituosos.
Durante sua apuração, o Ministério Público afirmou ter esclarecido algumas das dúvidas apresentadas pela família, como a
questão da falta de sangue em ferimentos encontrados no corpo
de Daniel. A ausência de sangue
poderia indicar que o prefeito teria sido atingido depois de morto,
para despistar as investigações.
Os promotores criminais de
Santo André recorreram ao perito
de medicina legal da USP (Universidade de São Paulo) Daniel
Muñoz para elucidar o mistério.
O perito afirmou que todos os
ferimentos no corpo do petista tinham sinais vitais, ou seja, que
nenhum disparo foi feito depois
da morte. Disse ainda que os tiros
foram disparados com Celso Daniel de frente para o assassino.
Essa conclusão levanta outra
dúvida. Na reconstituição do crime, o adolescente que assumiu os
disparos mostrou que atingiu Daniel pelas costas.
"Nenhuma das versões apresentadas pelos presos bate com o
laudo", afirmou o promotor criminal Roberto Wider Filho.
Continua sendo um enigma a
questão das roupas de Daniel.
Ivone de Santana, namorada do
petista, reconheceu como sendo
do prefeito a calça jeans que ele
vestia quando foi encontrado
morto. Porém, pouco antes de ser
sequestrado, o prefeito foi filmado saindo do restaurante Rubaiyat, em São Paulo, com uma calça
bege social.
Outra dúvida: Daniel foi encontrado com um ferimento provocado por uma bala que ricocheteou e atingiu sua coxa. Entretanto, a calça com a qual foi encontrado não tinha perfuração compatível no tecido.
Ainda com relação aos disparos,
os cartuchos da arma que atingiram o prefeito petista foram encontrados no chão em uma disposição que não coincide com a
reconstituição do crime.
De acordo com o Ministério Público, a elucidação desse fato fica
prejudicada pois não é possível
ter certeza se Daniel morreu no
local onde foi encontrado ou se foi
levado para lá depois.
Sem ajuda
Para os promotores criminais
que investigam o assassinato de
Daniel desde agosto do ano passado -quando os familiares pediram a reabertura do caso-, muitos mistérios não são solucionados porque os seis presos que teriam participado da morte não
colaboram. Eles dizem temer algum tipo de retaliação.
Dionízio de Aquino Severo, por
exemplo, apontado pelo Ministério Público como o elo entre o
empresário Sérgio Gomes da Silva
e a quadrilha da Favela Pantanal,
foi morto na prisão dois dias depois de dizer que tinha informações sobre o sequestro de Daniel.
Para os presos, o destino de Severo foi um aviso, como narraram
aos promotores que os procuraram na cadeia.
Anteontem, Gomes da Silva foi
denunciado pela Promotoria como um dos mandantes do assassinato de Daniel -outras pessoas
também estariam envolvidas no
crime, porém não há provas sólidas contra elas. Por meio de seu
advogado, o empresário nega as
acusações.
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