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Natal sem Fome
perde doadores
para Fome Zero
DA SUCURSAL DO RIO
A concorrência involuntária do
Fome Zero e a crise econômica reduziram a arrecadação de alimentos para a campanha Natal Sem
Fome, promovida há 10 anos pela
Ação da Cidadania, ONG criada
pelo sociólogo Herbert de Souza,
o Betinho [1935-1997].
Segundo Maurício Andrade,
coordenador da Ação da Cidadania, a campanha recolheu até a semana passada apenas 15% do total obtido no mesmo período de
2002. "O que aconteceu é que os
empresários estão doando menos. Acreditamos que isso se deve
ao marketing em torno do Fome
Zero. Muitos dos nossos parceiros acham que o Estado já está
conseguindo resolver o problema
da fome e estão doando menos.
Queremos fazer um alerta e chamá-los a cumprir com a sua responsabilidade social", afirmou.
Em pouco mais 40 dias de campanha, a ONG arrecadou 850 toneladas, das quais 70 toneladas
em São Paulo. Em 2002, a arrecadação nacional chegou a 6.000 toneladas. Em São Paulo, a arrecadação foi de 400 toneladas. "Se
continuarmos neste ritmo, fecharemos a campanha com a arrecadação de, no máximo, 2.000 toneladas de alimentos", disse ele.
Hoje, a Ação da Cidadania promove a primeira corrida nacional
contra a fome, às 9h, na orla da
zona sul do Rio. O objetivo é chamar a atenção para a campanha.
A Metrô S/A, empresa responsável pela administração do metrô do Rio e uma das maiores doadoras do Natal Sem Fome, confirma a queda na arrecadação. No
ano passado, a empresa arrecadou 20 toneladas de alimentos em
postos espalhados por cinco estações. Deste total, oito toneladas
foram bancadas pela empresa.
Neste ano, a 19 dias do Natal, as
doações chegaram a apenas 1,5
tonelada, mesmo com postos espalhados em 10 estações. "Acho
que há a concorrência do Fome
Zero, sim, mas também a crise
econômica está fazendo com que
as pessoas doem menos, porque
estão sem dinheiro", disse o diretor de Relações Institucionais da
Metrô S.A., Luiz Mário Miranda.
A Telemar, outra tradicional
doadora do Natal Sem Fome,
também teve reduzida a arrecadação de alimentos entre seus funcionários. Segundo Márcia Arletti, gerente do Instituto Telemar,
neste ano já foram doadas 70 toneladas, das quais 50 toneladas
fornecidas pela direção. No ano
passado, foram 144 toneladas.
"As pessoas ouvem falar do Fome Zero e ficam acomodadas,
acham que o governo está resolvendo tudo", disse. Arletti tem esperança de que as doações melhorem nesta semana, quando haverá uma mobilização na empresa.
Segundo Maurício Andrade,
apesar da queda na arrecadação
de alimentos, o número de parceiros continua praticamente igual
ao do ano passado. Até agora, 590
parceiros doaram alimentos. Em
2002, foram 600. O coordenador
da Ação da Cidadania disse que o
Fome Zero está concentrado no
Norte e Nordeste, deixando desassistidas famílias carentes que
vivem em outras regiões do país.
"Os programas sociais do governo atendem apenas a 3 milhões de
famílias. Outras 7 milhões estão
fora da rede social do Estado. É aí
que nós atuamos", disse Andrade.
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