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Sob suspeita, Rocha Mattos já ameaçou juízes
DA REPORTAGEM LOCAL
Vivendo uma situação parecida
há 11 anos -quando também foi
investigado por supostas irregularidades envolvendo um processo
judicial, mas não chegou a ser
preso-, o juiz federal João Carlos
da Rocha Mattos, da 4ª Vara Federal, ameaçava denunciar outros
juízes de São Paulo, até por envolvimento com drogas.
"Eles podem até me estragar a
vida, mas eu levo muita gente junto", afirmou Rocha Mattos no ano
de 1992, uma conversa gravada
por ele com um interlocutor identificado apenas como "Henrique". Essa gravação de 11 anos
atrás foi apreendida pela Polícia
Federal no apartamento do juiz,
em São Paulo, com outras cinco
fitas -quatro das quais não teriam interesse para a Operação
Anaconda, segundo a polícia.
Na conversa com "Henrique",
Rocha Mattos conta que conseguiu armazenar material que poderia ser usado contra magistrados que estivessem contra ele. Em
1992, o juiz federal foi afastado do
cargo, para o qual voltou três anos
depois, por supostamente haver
ameaçado, por carta, o então presidente do TRF (Tribunal Regional Federal) de São Paulo, Homar
Cais. Essa foi a gota d"água, mas
Rocha Mattos já vinha sendo
questionado por decisões que teriam beneficiado o ex-governador Orestes Quércia.
"Eu agora vou atacar, vou metralhar, viu? (...) Estou tranquilo.
Porque até consegui levantar
muita coisa de estarrecer, viu? Tô
com muita coisa na mão", diz o
juiz, no telefonema.
Rocha Mattos também comemorava anúncio feito pelo então
presidente da República, Fernando Collor, de que 50 juízes estavam na mira do governo por causa de decisões polêmicas envolvendo cobranças previdenciárias.
"Eu agora não vou nem passar
perto da Justiça para não me contaminar com os colegas corruptos
do Cível", diz Rocha Mattos. Indo
além, para a incredulidade do interlocutor, o juiz diz que colegas
seus estariam envolvidos com uso
de entorpecentes.
"Você sabe que tem aí juiz envolvendo até com tóxico, né?",
acusa Rocha Mattos.
A mesma fita registra uma série
de três telefonemas com ameaças
de morte ao juiz feitas por um
mesmo homem. Não fica claro,
na conversas, qual a razão das
ameaças. Rocha Mattos confronta
o interlocutor. "Eu fui delegado
de fronteira. Não tenho medo de
você, não, viu?", diz o magistrado,
ex-policial federal. "Você não falou que já matou não sei quanta
gente? Então, posso matar também", responde o homem, que
diz conhecer o cotidiano do juiz e
o fato de ele ter "quatro filhos".
"Você é grande mas não é dois.
De repente, você leva um tombo e
cai. Tá entendendo?", ameaça.
"Eu só estou lhe dando um último aviso: toma muito cuidado,
hein", diz o homem.
Na segunda fita que a polícia diz
ser de interesse para as investigações, um homem com forte sotaque italiano conversa com uma
pessoa identificada como policial
federal. É uma gravação de 50 minutos, na qual o homem narra detalhes de uma denúncia feita por
outra pessoa a respeito de um
grande esquema de corrupção no
porto de Santos (SP).
As denúncias envolvem policiais federais, funcionários da Receita Federal, juízes federais e comerciantes da Galeria Pagé, no
centro de São Paulo.
(RV)
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