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AJUSTE PETISTA
Presidente faz declaração em reunião ministerial, após afirmar que "todo mundo é igual", em referência ao "gerente"
Ministros podem reclamar de Dirceu, diz Lula
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"Todo mundo é igual", disse anteontem o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva aos ministros na primeira reunião da equipe no ano,
ao explicar o papel de "gerente"
do ministro-chefe da Casa Civil,
José Dirceu.
Segundo relato de ministros à
Folha, o presidente Lula deixou
claro que Dirceu não será um interventor.
"Quero que vocês não entendam isso [a maior dedicação de
Dirceu ao gerenciamento] como
intromissão indevida. Podem
continuar a se encontrar comigo e
a me telefonar, até para reclamar
do Zé Dirceu", disse Lula, em tom
descontraído.
O presidente afirmou que dividiu as atribuições da Casa Civil,
dando ao deputado federal Aldo
Rebelo a articulação política, para
que Dirceu se concentre na coordenação de ações dos ministérios.
"Quero um gerenciamento
mais ágil. Quero o Zé Dirceu sentado só em cima disso", afirmou o
presidente, sempre de acordo
com a versão de ministros.
Antes, Lula havia dito que o
chefe da Casa Civil estaria mais
disponível para conversas com
ministros e recomendado essa
prática a todos.
Apesar do tom de brincadeira,
os ministros entenderam a declaração de Lula como um recado
para que Dirceu -que terá, sim,
mais poder para coordenar ações
de ministério- não se comporte
como presidente.
Durante a última viagem ao exterior, Lula ficou contrariado com
o estilo "primeiro-ministro" assumido por Dirceu e o enquadrou.
O presidente repetiu na reunião
ministerial que deseja que seu auxiliar "trabalhe mais para dentro
do governo".
Lula disse aos ministros que escolherá alguns projetos prioritários e que deseja "que todos joguem os recursos para valer nesses projetos". "Se não der para fazer tudo, vamos fazer direito o
que for prioridade."
Numa semana marcada por disputas de bastidores entre Dirceu e
o ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda), o presidente disse:
"Não quero ver as divergências
do governo expostas na imprensa. Elas devem ser resolvidas dentro do governo".
Feita essa ressalva, pediu que os
ministros, de forma geral, falem
mais com a imprensa.
Meirelles e Palocci
No início da reunião, Lula passou a palavra para o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, que fez uma exposição para
reiterar o argumento de que está
"contratado" um crescimento de
pelo menos 3,5% do PIB (Produto
Interno Bruto) neste ano.
Repetiu que a taxa de juro real é
a menor praticada no país nos últimos dez anos. "É um vitória que
ninguém pode questionar", disse.
O presidente do BC afirmou que
"o governo não pode titubear" na
hora de usar os juros altos para
combater a inflação e sinalizou
que a taxa básica (Selic) voltará a
cair, sem dar detalhes.
Palocci falou após Meirelles. Repetiu que a pior fase na economia
já passou, mas apontou que "o
Brasil atravessou uma fase delicada" e, por isso, é preciso haver
cautela na condução da política
econômica.
Admitindo efeitos negativos da
turbulência financeira na economia, afirmou que "a vulnerabilidade externa diminuiu" com o rigor fiscal e monetário adotado em
2003 e que seria maior hoje se o
governo não tivesse agido assim.
Citou como exemplo de diminuição dessa vulnerabilidade o alongamento de parte da dívida pública e a troca de títulos com correção cambial por títulos em reais.
Isso faz com que a dívida seja menos afetada por uma eventual valorização do dólar.
Lula interveio algumas vezes
durante as falas de Palocci e Meirelles, sempre demonstrando
apoio aos dois.
Central de compras
Terminada a discussão econômica, o ministro Dirceu explicou
seu novo papel no governo e tratou do contingenciamento (bloqueio de recursos) de R$ 6 bilhões
no Orçamento de 2004.
Falou que o governo pouparia
cortes nos R$ 12 bilhões previstos
para investimentos e que bloquearia R$ 3 bilhões dos gastos de
custeio (manutenção da máquina
pública) e outros R$ 3 bilhões em
emendas parlamentares.
Dirceu afirmou que o governo
deverá, no prazo de alguns meses,
ter uma central de compras para
toda a administração, a fim de
economizar em custeio.
Também disse, assim como o
presidente da República, que o
contingenciamento poderá ser revisto se o crescimento econômico
confirmar receitas para o Orçamento aprovado no Congresso
Nacional.
A reunião terminou com um
jantar. No cardápio, havia peixe,
salada, legumes com queijo e arroz. De bebida, o de sempre: vinho, cerveja, uísque, sucos e refrigerantes.
O encontro foi marcado por um
clima descontraído. De bom humor, o presidente Lula brincou
com todos.
Exemplo: com Miro Teixeira,
que deixou o Ministério das Comunicações pela liderança do governo na Câmara, e com Aldo Rebelo, que saiu deste posto para
ministro da Coordenação Política
e Assuntos Institucionais.
"Trocaram de lugar", afirmou o
presidente.
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