|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NA ANTÁRTIDA
Ministro da Defesa participa da comemoração dos 20 anos do programa brasileiro de pesquisa no pólo Sul
Em dia de corte, Viegas festeja base de R$ 20 mi
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL À ANTÁRTICA
O ministro da Defesa, José Viegas, e os três comandantes das
Forças Armadas participaram anteontem da comemoração dos 20
anos da base brasileira na Antártica, a Estação Comandante Ferraz,
pólo de um programa que custa
ao Brasil perto de R$ 20 milhões
por ano, de diferentes fontes, inclusive militar.
No mesmo dia, o governo anunciava em Brasília -a 5.200 km da
estação- um contingenciamento (bloqueio preventivo) de metade dos R$ 12 bilhões previstos para investimentos neste ano. Viegas soube por jornalistas e reagiu
à notícia como diplomata que é:
"O presidente sabe o que faz. Dias
melhores virão".
Os comandantes Francisco Albuquerque, do Exército, Luiz Carlos Bueno, da Aeronáutica, e Roberto Guimarães Carvalho, da
Marinha, reagiram como militares que são: acham que suas áreas
já estão "no osso", ficaram preocupados, mas não quiseram dar
declarações.
O Orçamento previsto para a
Defesa neste ano é de R$ 28 milhões, e apenas R$ 1,075 milhão é
para investimento. Não há especificação, ainda, se e em que áreas
haverá cortes.
Viegas e os três comandantes
voaram cerca de 9 horas e meia
para chegar à base na Antártica e
previam mais outro tanto para
voltar, ontem, a Brasília. Foram
seis horas no "Sucatão" (o Boeing
707 que serve aos presidentes nas
viagens internacionais) até Punta
Arenas, no extremo sul do Chile.
Depois, mais três horas até a base chilena, Eduardo Frei, num
Hércules C-130 -avião militar de
transportes de tropas, mas adaptado com 22 poltronas de aviões
de carreira. E, enfim, cerca de
meia hora de helicóptero para a
base brasileira.
Foi o dia mais quente deste "verão austral" (entre outubro e março), com um grau negativo na base chilena e aproximadamente 5
graus positivos na brasileira. Com
o sol claro, o mais impressionante
nem foram as bases, mas a natureza, com pequenos blocos de gelo sobre o oceano, cercado por
montanhas nevadas.
A Estação Comandante Ferraz
(oficial de Marinha que foi expert
em oceanografia) fica na baía do
Almirantado, na ilha Rei George,
130 km a oeste a península Antártica. Tem 2.250 m2 de área construída e comporta até 46 pessoas
por vez. São várias pequenas
construções no meio do nada.
Foi inaugurada em 6 de fevereiro de 1984 com oito módulos de
pesquisa. Hoje, tem 64, em três
blocos: atmosfera, terra e vida.
Entre as pesquisas de efeito mais
imediato estão as de clima, camada de ozônio e variações ionosféricas -algumas com dados lançados diariamente para o Brasil.
O Brasil também mantém três
"refúgios" (bases alternativas e
menores) nas ilhas Elefante, Nelson e Rei George. Tem, ainda, o
navio de apoio oceanográfico Ary
Rongel, com dois helicópteros Esquilo (usados pelo ministro e pelos comandantes), laboratórios e
27 pesquisadores.
Na estação há permanentemente dez militares da Marinha, grupos de pesquisadores que variam
de cinco (no inverno austral) a 24
(no verão austral) e pessoal de
apoio (como médico e cozinheiro). A estada dos militares é de
um ano corrido, e eles passam por
severos testes psicológicos antes
da indicação.
"Mas a vida aqui é maravilhosa.
Leio muito, reflito, estudo", contou o chefe da estação, o oficial
Antonio Costa Guilherme, que está de volta ao Rio, onde mora seu
filho de 10 anos. O contato é via
internet, telefone e rádio.
A base também dispõe de mantimentos para 12 meses. Durante
o inverno, há ainda a entrega de
comida por pára-quedas.
Entre os pesquisadores que estão lá nesta época, há três mulheres, todas biólogas. Além de duas
moças da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, de 24 anos, a
veterana Theresinha Absher (que
não revelou a idade), da Universidade Federal do Paraná. Ela estuda os ciclos de vida e a reprodução
dos invertebrados, como moluscos. Há 12 anos freqüenta a base.
Os gastos com pessoal ultrapassam os US$ 2 milhões (cerca de
R$ 6 milhões) por ano, um terço
para a equipe da estação e dois
terços para a do navio. Os pilotos
são treinados na Cordilheira dos
Andes, para pousar no gelo.
Programa Antártico, multiministerial, prevê mais R$ 1,535 milhão na logística neste ano, o Ministério do Meio Ambiente e o
CNPq (Conselho Nacional de
Pesquisas) investem tem torno de
R$ 2 milhões, e a manutenção do
navio e dos helicópteros é estimada em R$ 2,5 milhões.
Além disso, há despesas não
mensuradas, como combustível.
A Petrobras cede algo em torno
de 4 milhões de litros de diferentes tipos de combustível, incluindo um tipo de gasolina especial,
que não congela.
Viegas e os militares fizeram
uma visita rápida às duas bases. E,
apesar da comemoração, se esquivaram de prometer novos recursos para o projeto.
A jornalista Eliane Cantanhêde viajou à
Antártica a convite do Ministério da Defesa
Texto Anterior: Outro lado: Pastas reconhecem dificuldades e aguardam melhora de estrutura Próximo Texto: Ajuste petista: Ministros podem reclamar de Dirceu, diz Lula Índice
|