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PAULO ARANTES:
"Ao prometer consumo, prometem guerra civil"
DA REPORTAGEM LOCAL
Para o professor de filosofia da
USP Paulo Arantes, ao prometer
aumentar o consumo dos pobres,
o governo Lula, ainda que inconscientemente, promove a "barbarização" do país.
"É um convite ao recrudescimento da violência. Prometem o
que não podem entregar", afirmou. "Quando você promete
consumo de massa, está prometendo guerra civil."
No PPA (plano plurianual)
anunciado pelo governo para o
quadriênio 2004-2007, é dito que
se pretende fazer o país crescer a
partir do incremento do consumo
dos mais pobres.
Segundo ele, "o problema é a
maneira pela qual a sociedade é
regulada pela noção de consumo
como condição de acesso à plenitude da vida". "Se você não tem
acesso àqueles bens, você é um
nada. E é a única coisa de que você
dispõe. Trocam-se direitos por
consumo", afirmou.
"Não podem entregar [o que
prometem]. Portanto é um convite ao recrudescimento da violência, e não mais do que isso. É uma
espécie de horda de consumidores fanatizados pela indústria cultural, que se privados daquilo
passam a matar. É claro que estão
falando de boas intenções, que todos tenham eletrodomésticos etc.
Mas quem produz não está pensando nisso. A lógica do produto,
do consumo, da imagem é a lógica da violência e da competição. O
gozo do consumo é que os outros
não tenham aquilo que eu tenho."
Essa lógica maior -"o capitalismo hoje é morte"- orienta, ele
diz, inclusive sua análise sobre a
prisão em que o governo se meteu
ao reafirmar a política macroeconômica de satisfazer as exigências
do mercado, mesmo não acreditando nele.
Segundo Arantes, o governo se
comporta como o consumidor
que sabe que a "grife" é apenas
um nome e, mesmo sabendo disso, continua sentindo necessidade de consumir. "A ideologia está
no fazer, e não na representação",
disse ele na última quinta na USP.
O professor de filosofia criticou
ainda a forma de discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o
que chamou de "espetáculo" das
analogias e metáforas.
"Se eu fosse fazer uma crítica direta ao presidente, diria que isso é
a coisa mais execrável que existe.
Esse congelamento, essa imbecilização da opinião pública, tratada
como débeis mentais, na base
desses provérbios congeladores e
imbecilizadores."
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