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Para sindicalista, central manterá independência em relação a Lula
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O metalúrgico Luiz Marinho
chega à presidência da CUT (Central Única dos Trabalhadores)
com um desafio: manter a independência da central em relação
ao governo Lula.
Sua indicação ao cargo, feita pelo próprio presidente, foi alvo de
críticas das correntes de esquerda
na central. No comando do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
desde 1996, ele promete "saber
cobrar o governo quando for preciso" e diz que o primeiro embate
será travado na proposta da reforma da Previdência Social.
Leia a seguir trechos de entrevista concedida à Folha.
Folha - O que vai mudar na CUT
com o sr. no comando?
Luiz Marinho - Queremos ampliar a comunicação com os sindicatos filiados e aperfeiçoar nosso
papel com os trabalhadores. A
CUT tem de estar mais próxima
da sociedade e mostrar o que faz.
Folha - Qual vai ser o papel da CUT
no governo Lula, dada a ligação entre a central e o presidente?
Marinho - O vínculo é histórico,
uma vez que ele foi fundador da
CUT. Mas hoje Lula é governo. A
CUT tem a responsabilidade de
ter colaborado com a vitória do
presidente Lula. Mas tem a obrigação de separar essa participação da sua tarefa sindical. Não pode ter uma prática de adesão. Tem
de manter sua independência em
relação ao governo, aos partidos
políticos e a credos religiosos.
Folha - Como a central vai buscar
essa autonomia?
Marinho - É difícil. Mas vamos
apoiar as medidas do governo
que interessam aos trabalhadores
e criticar e fazer manifestações
contra o que não interessa. Se preciso, iremos à greve para cobrar o
governo. A central não pode cair
no isolamento, tem de negociar. A
CUT terá o papel decisivo de se
contrapor a reformas como a da
Previdência. Vamos pressionar
para aprovar mudanças.
Folha - Como a CUT vai agir em relação à reforma da Previdência?
Marinho - Não concordamos
com o conteúdo da proposta do
governo, apesar de defendermos
a necessidade da reforma. Queremos que o governo abra um processo de negociação, envolvendo
o Congresso, e aumente, por
exemplo, o teto estabelecido [de
R$ 2.400] para R$ 4.800. Somos
contra a taxação dos inativos.
Folha - Alguns setores da CUT dizem que a proposta do governo vai
resultar em privatização da Previdência. O sr. concorda?
Marinho - A proposta prevê aposentadoria complementar com
fundo de pensão público, fechado, sem fins lucrativos. Os trabalhadores que recebem acima do
teto teriam direito a um fundo de
pensão público. Dizer que caminha para a privatização é irreal.
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