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ELEIÇÕES 2004/GOVERNO NA TV
Presidente planeja pronunciamento em cadeia nacional à véspera do horário eleitoral
Lula deve usar TV para exaltar "momento do país" e ajudar PT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva deve fazer nesta semana
um pronunciamento oficial em
rádio e TV. A idéia é que o próprio
Lula e os candidatos do PT nas
eleições municipais capitalizem o
"bom momento da economia",
conforme ouviu a Folha no Palácio do Planalto nos últimos dias.
O pronunciamento ocorre dias
antes do início do horário eleitoral na TV, em 17 de agosto, o que
levanta a interrogação sobre um
suposto uso indevido da máquina
governamental à véspera da fase
decisiva da campanha.
Para tentar evitar, ou ao menos
minimizar, essa acusação, o Planalto estuda fazer o pronunciamento o quanto antes. Avalia-se
no governo que indicadores econômicos recentes (aumento da
produção industrial e geração de
empregos) e medidas oficiais (pacote de incentivo tributário a setores da economia) justificam a
convocação de cadeia nacional.
Um dos defensores da intervenção televisiva é o publicitário Duda Mendonça, que fez a campanha do presidente em 2002 e que
cuida de seus pronunciamentos,
além de ser o responsável por cinco candidaturas petistas em capitais (São Paulo, Belo Horizonte,
Recife, Porto Alegre e Curitiba).
Mais: a hora é agora, pensa a cúpula do PT, a fim de tentar tirar
proveito do momento no qual diversos candidatos do partido melhoram suas posições nas pesquisas de intenção de voto.
Em São Paulo, por exemplo, a
prefeita Marta Suplicy, candidata
à reeleição, está tecnicamente empatada com o tucano José Serra
(PSDB). Ela amargou até há pouco tempo um terceiro lugar nas
pesquisas. Em Belo Horizonte, o
prefeito Fernando Pimentel também saiu do segundo lugar para
uma situação de empate técnico
com o líder João Leite (PSB). Reação parecida a favor do PT aconteceu em outras cidades, como
em Recife (PE), por exemplo.
Meirelles e Casseb
Há, porém, outras razões que
motivam o Planalto. O atual bombardeio sobre os presidentes do
Banco Central, Henrique Meirelles, e do Banco do Brasil, Cássio
Casseb, estariam ofuscando a
agenda do crescimento sobre a
qual o governo deseja lançar luz.
Se a oposição continuar a bater
duro, insistindo nas demissões de
Meirelles e de Casseb -o que começou a arrefecer nos últimos
dias-, Lula poderia até fazer
uma espécie de advertência ao
país. Mas não em tom de confronto, diz um interlocutor do presidente. No máximo, pode dizer
que nem a luta política vai minar
o "bom momento da economia".
"Se a economia não estivesse tão
bem, essa crise seria muito
maior", disse Lula em conversas
reservadas ao longo da semana.
Os presidentes do BC e do Banco do Brasil são alvos de reportagens recentes que colocam sob
suspeição a lisura de suas operações patrimoniais.
A última quinta-feira, o dia mais
tenso para Meirelles, quando saiu
reportagem no site da revista "Veja" que abalou o mercado (queda
da Bolsa e altas do dólar e do risco-país), foi o dia em que Lula disse a interlocutores que demitir o
presidente do Banco Central
equivaleria à confissão de um governo administrado por "fracos".
Na sexta-feira, quando o mercado percebeu que Lula decidiu de
fato manter Meirelles, os indicadores econômicos se comportaram bem. A avaliação do governo
é que, sem fatos novos de repercussão grave, a tendência dos casos Meirelles e Casseb é definhar.
Também o debate dos candidatos a prefeito de São Paulo contribuiu para o bom humor de Lula.
A chamada "federalização" das
eleições ocupou um lugar discreto
na dinâmica das discussões.
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