|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
As urnas falsas
A descoberta de urnas eletrônicas falsificadas e de componentes completos para montagem de quase uma centena mais,
em Brasília, indica um crime
muito mais inquietante do que leva a crer o descaso - seja deliberado ou não - com que a mídia
de S.Paulo e Rio o tem relegado
ao noticiário mais irrelevante.
Não se sabe quantas urnas foram fabricadas, nem quantas foram distribuídas. A Polícia Federal apenas iniciou a investigação,
depois que a polícia do Distrito
Federal recusou-se a investigar o
caso e mandou que os componentes encontrados fossem postos no
lixo.
As cinco urnas ativas apreendidas tinham um adesivo com a
inscrição "simulador de urna eletrônica". Não se trata, porém, de
atenuante para o que as urnas insinuam. Eis o comentário, sobre o
achado, do coordenador do programa de extensão em Segurança
Computacional da Universidade
de Brasília, Pedro Rezende, ao
"Correio Braziliense": "Com pequeninas adaptações, o programa do simulador é capaz de desviar votos de um candidato para
outro na urna" oficial. Está por
verificar se as urnas falsificadas
não têm já tal adaptação, ou outra igualmente fraudulenta.
Além disso, são numerosos os
indícios de farsa, inclusive com a
ajuda do adesivo, para dar as urnas como material didático, embora ainda assim seja considerado crime. Um desses indícios é,
por exemplo, o esquisito encontro
de uma das urnas na casa de um
trabalhador, à qual a PF chegou
por indicação de uma juíza eleitoral. Disse o morador que um sujeito foi à sua casa oferecendo-se
para ensiná-lo a votar na urna.
Mas por que a deixaria lá, em vez
de levá-la para novas aulas? E por
que o aviso a uma juíza eleitoral
sobre a localização daquela urna,
senão para que a encontrassem
com o adesivo e a história da aula, pretensamente atenuantes?
O procurador eleitoral do DF,
Antônio Carneiro Sobrinho, tem
uma apreciação significativa sobre o achado: "Esse é o caso de falsificação de material eleitoral
mais grave de que já tive notícia".
Pediu à PF que complete as investigações em 15 dias. Caso isso não
aconteça, não será motivo para
que não se cobrem investigações
completas: a falsificação de materiais da Justiça Eleitoral sujeita,
além da pena de até de três anos
de prisão, à perda de mandato.
Mais recente do que a lei eleitoral,
há uma proibição específica de simuladores de urna eletrônica não
oficiais.
O exame preliminar das urnas
apreendidas encontrou, em todas,
o registro de votos para a coligação pluripartidária montada, no
DF, pelo governador e candidato
à reeleição Joaquim Roriz: José
Serra, o próprio Roriz, José Roberto Arruda (o do painel eletrônico
do Senado), Paulo Otávio e Jofran
Frejat.
Muitos especialistas que examinaram, inclusive no exterior, a
urna eletrônica usada no Brasil
consideraram sua segurança insuficiente contra fraudes. Tal insuficiência é agravada pela peculiaridade absurda de que não é
possível a verificação de votos, em
caso de suspeita. E agora se completa a insegurança com o encontro de urnas falsificadas.
Mas o Superior Tribunal Eleitoral está tranquilo, senão indiferente, diante da descoberta. Tanto que ao seu presidente, Nelson
Jobim, não ocorreu mais do que
determinar a um procurador do
tribunal que acompanhe a investigação da PF.
Texto Anterior: Oposição: Grito dos Excluídos reúne 150 mil Próximo Texto: Poder paralelo: Narcotráfico ocupa espaço de atividades econômicas no país Índice
|