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ESTRATÉGIA
Candidatos conversaram há um mês, quando Ciro se aproximava de petista em pesquisas e tucano tinha apenas 11%
Lula e Serra se encontraram em sigilo em SP
RAYMUNDO COSTA
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Luiz Inácio Lula da Silva e José
Serra tiveram uma conversa sigilosa há um mês. Cenário: o hangar de uma companhia de táxi aéreo no movimentado aeroporto
de Congonhas, em São Paulo, onde os candidatos do PT e do PSDB
à Presidência da República encontraram-se quando o tucano
partia e o petista chegava de compromissos de campanha.
Um encontro casual, juram assessores dos dois lados. "Você
tem tempo para a gente conversar
um pouco", sugeriu Lula, convite
prontamente aceito por Serra. Os
dois trancaram-se numa das duas
salas reservadas do hangar, para o
espanto dos assessores que os
acompanhavam, e conversaram
reservadamente por cerca de 30
minutos. Distantes poucos metros, os dois times permaneceram
calados, após uma troca protocolar de frases e cumprimentos.
A deputada Rita Camata
(PMDB-ES), candidata à Vice-Presidência na chapa do tucano,
estava presente, mas não participou da conversa, da qual Lula e
Serra são as únicas testemunhas.
Foi uma conversa amistosa, que
sugeria uma convergência no futuro. Em 30 dias, o clima mudou
bastante. Agora, Serra e Lula dedicam-se a uma troca de farpas
que tende a se acentuar.
Há um mês, as pesquisas registravam vertiginosa ascensão de
Ciro Gomes (PPS), o que favorecia a discussão intramuros sobre
eventual composição PT-PSDB
no segundo turno da eleição.
Serra, segundo pesquisa do Ibope daquela semana, tinha 11% da
preferência do eleitorado, mesmo
patamar no qual se achava Anthony Garotinho (PSB). No primeiro lugar, Lula tinha 33%, mas
sua posição já não era tão confortável porque Ciro Gomes (PPS),
com 27%, havia reduzido a diferença entre ambos para seis pontos percentuais.
Elogios recíprocos
Tendo uma única carta na mão,
o horário eleitoral gratuito da TV
a partir de 15 de agosto, interessava ao presidenciável do PSDB
manter intactas as pontes com o
petista. Na campanha do tucano,
falava-se em um "ministério importante" para o partido em eventual negociação de apoio para o
segundo turno.
No sonho de Lula, Serra lhe daria aval perante o empresariado
financeiro e industrial de São
Paulo, setor historicamente refratário ao PT e apoiador do tucano.
Mais ou menos na mesma época,
o candidato petista se encontraria
com o banqueiro Olavo Setúbal,
do Itaú, um dos pilares de Serra
na área empresarial.
Na conversa a sós, Serra elogiou
a forma como Lula conduzia sua
campanha presidencial. Disse que
ele, Lula, e o presidente do PT, José Dirceu, haviam mudado a face
do partido, isolando os radicais
que tiveram peso nas campanhas
anteriores da sigla.
O tucano e o petista julgaram
aventureiro o projeto presidencial
de Ciro, que não teria, na visão de
ambos, capacidade de fazer o país
avançar. Para os dois, seria um retrocesso, já que oligarquias, especialmente as do PFL, teriam papel
central num governo Ciro, no
qual o ex-governador Tasso Jereissati (PSDB-CE), considerado
por Serra como sendo um político
de cabeça regional, seria uma espécie de eminência parda.
Serra teria dado sinais de que
apoiaria Lula caso viesse a ficar fora da segunda fase. Auxiliares do
candidato e tucanos de peso, como o presidente do PSDB, José
Aníbal (SP), comentavam reservadamente que Serra já havia tomado uma decisão: votar em Lula
se não conseguisse superar Ciro.
Lula, por sua vez, teria elogiado
a gestão de Serra na Saúde, tomando por base depoimentos de
especialistas do PT na área que reconheciam o sucesso de iniciativas do tucano no ministério.
Na linha de tiro
Uma coisa é certa: ambos manifestaram preocupação com o que
classificaram de principal problema do futuro presidente: sair da
armadilha da vulnerabilidade externa, a maior herança negativa,
crêem, dos anos FHC.
Lula ainda elogiou a forma como o presidente Fernando Henrique Cardoso estava conduzindo a
transição. O petista disse que, ao
contrário de exemplos do passado recente brasileiro, FHC estava
mantendo a compostura, sem recorrer a um uso abusivo da máquina oficial a favor de uma candidatura, ou seja, a de Serra.
Um mês depois, Serra empatou
com Ciro e ameaça tirar o segundo lugar do candidato do PPS.
Uma semana após a conversa no
hangar de Congonhas, Lula estreou seu programa eleitoral com
críticas à área da Saúde. E cada vez
mais tenta carimbar o adversário
tucano como sendo o candidato
do continuísmo.
Serra, por outro lado, tenta calibrar os ataques a Lula. Há pressões internas na campanha por
uma escalada, mas o sentimento
predominante é o de que a crítica
ao petista não deve seguir a mesma fórmula adotada em relação a
Ciro. Ou seja, a pessoa de Lula deve ser preservada, mas as contradições do programa e o "jeito PT
de governar" seriam os alvos. O
que inclui escândalos como o da
Prefeitura de Santo André.
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