|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FLAGRANTE
Presidente do TSE nega que tenha intermediado aproximação entre Fernando Henrique Cardoso e George W. Bush
Já no STF, Jobim cumpriu missão para FHC
COLUNISTA DA FOLHA
O ministro Nelson Jobim, presidente do TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) e membro do STF (Supremo Tribunal Federal), foi indicado pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso em 2000 para
negociar a aproximação de seu
governo com o então recém-eleito presidente norte-americano
George W. Bush.
Na ocasião, Jobim já era ministro do STF. Entre as atribuições
dos magistrados está a de julgar a
legalidade de políticas do governo
e ações do próprio presidente da
República. Jobim nega que tenha
participado da operação.
A revelação foi feita pelo colunista Luís Nassif, da Folha, em coluna publicada em 2 de agosto em
que ele relata os desencontros de
FHC com Bush.
De acordo com o colunista, assim que Bush foi eleito, a operação de aproximação entre os dois
presidentes foi deflagrada. O
meio-campo foi feito pelo empresário Mário Garnero, amigo da família Bush, que negociou com Jobim um encontro entre o presidente americano e FHC.
Segundo o colunista, "a data final [do encontro] foi fechada entre Garnero e Jobim em uma reunião no Plaza Athenée de Paris. A
pedido de Jobim, Bush ligou para
FHC formalizando o convite para
ir à Casa Branca".
A tentativa acabou não dando
certo e o encontro não aconteceu.
Garnero confirma as informações. "Procurei o governo [para
fazer a aproximação de Bush com
FHC]", conta. De acordo com o
empresário, após uma primeira
conversa, FHC indicou Jobim para que prosseguisse com as negociações. Garnero avalia que coube
a Jobim a missão porque o ministro do STF "é amigo meu e é amigo do Fernando Henrique".
Garnero diz que é amigo de Jobim há muitos anos. Em 1997,
uma entidade presidida pelo empresário patrocinou uma viagem
a Mônaco de várias autoridades.
Jobim estava entre os convidados.
No mesmo ano, ele pediu vistas
de um processo em que Garnero
era acusado de estelionato por
operações no mercado financeiro. Na época, Jobim negou interesse na causa e disse que desconhecia o patrocínio da viagem ao
principado.
O processo voltou à pauta do
STF em 1999 e a denúncia criminal foi anulada.
A atitude de Jobim no caso da
aproximação de FHC com Bush é
criticada por juristas. "É fundamental que um magistrado tenha
um distanciamento muito grande
em relação àqueles cujos atos ele
tem a competência de julgar. Isso
é uma promiscuidade", diz o jurista Fábio Konder Comparato.
Para ele, o ideal seria que o STF
fosse instalado em uma cidade fora de Brasília, sede do Executivo,
para que os ministros se mantivessem distantes dos governantes
que eventualmente vão julgar.
"Na Suíça é assim. Já em Brasília, não há convescote ou banquete em que o presidente da República não se encontre com membros dos tribunais superiores para falar mal da vida alheia."
O advogado Dalmo Dallari acha
"um absurdo" o fato de Jobim ser
incumbido pelo presidente de
"uma missão especialíssima" como a de aproximar FHC de Bush.
"O STF é o controlador da legalidade dos atos do executivo. O STF
está no chão", diz.
Jobim é amigo também do presidenciável José Serra, padrinho
de seu casamento.
A proximidade já gerou questionamentos sobre a imparcialidade de Jobim para presidir as
eleições.
(MÔNICA BERGAMO)
Texto Anterior: Candidato defende afastamento de presidente do TSE Próximo Texto: Outro lado: Ministro diz que intermediação não aconteceu Índice
|