São Paulo, domingo, 08 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Presidente eleito se reúne com diretor-gerente do Fundo, Horst Köhler

FMI defende autonomia para o BC em encontro com Lula

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
O diretor-gerente do FMI, Horst Köhler, Luiz Inácio Lula da Silva e Antônio Palocci durante encontro ontem num hotel de São Paulo


NEY HAYASHI DA CRUZ
EM SÃO PAULO


FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Horst Köhler, reuniu-se ontem em São Paulo com o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e, ao final do inédito encontro, afirmou que o FMI considera importante que seja concedida ao Banco Central brasileiro, em breve, uma maior autonomia operacional.
Köhler disse que Lula deu mostras que concorda com essa medida, que foi amplamente defendida pelo PT na campanha eleitoral. "Pelo que foi conversado na reunião, eu entendi que o presidente eleito irá apresentar uma proposta sobre a autonomia do Banco Central." Afirmou que Lula "indicou um certo apoio à idéia" de implantar rapidamente a medida.
Na visão do diretor-gerente do Fundo, isso permitiria que a política econômica pudesse ser conduzida sem interferência de pressões políticas. "A autonomia do BC é assunto que merece prioridade", afirmou Köeler.
Ele chamou o petista de "um líder do século 21" e fez vários elogios ao programa Fome Zero, a ser implementado pelo novo governo. "Fiquei bastante impressionado com a visão de Lula no que se refere ao combate à fome e à desigualdade social", disse.
O clima foi bastante diferente dos embates de anos anteriores, em que o PT acusava o Fundo de patrocinar políticas econômcias recessivas. Exatamente um ano atrás, ainda havia resquícios dessa atitude de confronto. Em dezembro de 2001, no encontro petista do Recife, o partido prometeu denunciar "política e juridicamente" o acordo com o Fundo.
Na campanha, porém, o tom se mostrou bem mais suave, com o PT chegando a dar aval público ao novo pacote com a instituição.
Estiveram presentes ao encontro, do lado do FMI, o diretor-assistente do Departamento do Hemisfério Ocidental, Lorenzo Perez, e o representante do Brasil no FMI, Murilo Portugal, além de Köhler. Com Lula, esteve o coordenador da equipe de transição, Antonio Palocci. Os petistas não falaram após o fim da reunião.
Köhler manifestou confiança no novo governo. Ao falar de inflação, afirmou que "isso preocupa o FMI, mas tenho certeza de que preocupa também o senhor Palocci e o presidente eleito".
Köhler não quis fazer comentários em relação a possíveis nomes que possam comandar o BC no governo Lula. "Não cabe ao FMI vir até aqui para dizer sim ou não a esse tipo de assunto". Para ele, porém, não há motivos para que o mercado duvide das bases da política a ser adotada por Lula.
Köhler elogiou as instituições brasileiras, que "hoje são sólidas e democráticas" e "mais confiáveis do que em outros países da América Latina", e a "herança positiva" do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Pouco antes do encontro com o diretor-gerente do FMI, Palocci se reuniu, no mesmo hotel de São Paulo, com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga. Foi a segunda vez em menos de uma semana que os dois se encontraram. Palocci e Fraga não comentaram o teor do encontro.

Defesa
Após o encontro com Köhler, que durou cerca de uma hora e meia, Lula almoçou com o embaixador na Rússia, José Viegas, cotado para ser ministro da Defesa. Também se encontrou com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
No final da tarde, recebeu a visita do primeiro-ministro de Moçambique, Pascoal Mocumbi. Ele é o candidato dos países em desenvolvimento à presidência da OMS (Organização Mundial da Saúde), em eleição que ocorrerá de 20 a 28 de dezembro, em Genebra, na Suíça. Mocumbi, que tem o apoio tanto do presidente Fernando Henrique Cardoso quanto de Lula para disputar o cargo, chegou paramentado com a roupa de gala africana de motivos camuflados, para ser homenageado pelo presidente eleito.



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