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SEGUNDA GUERRA
Governo de Getúlio manteve cerca de 3.000 alemães, italianos e japoneses presos, revelam documentos oficiais
Brasil teve campos de concentração em 1942
KEILA RIBEIRO
DA FOLHA VALE
ISABELA SALGUEIRO
DAS REGIONAIS
O Brasil manteve campos de
concentração durante a Segunda
Guerra Mundial (1939-45), revelam documentos oficiais que estavam lacrados pelo governo e que
ajudam a desvendar um período
até aqui obscuro da história.
A partir de 1942, cerca de 3.000
pessoas de origem alemã, italiana
e japonesa foram mantidas em
dez campos de concentração criados em sete Estados brasileiros
(PA, PE, RJ, MG, SP, SC e RS).
Sem nenhuma semelhança com
os campos nazistas, os espaços de
confinamento brasileiros permitiam que os prisioneiros saíssem
para fazer compras na cidade, receber visitas e até tocar em festas.
Um episódio marcante foi a
apreensão do navio alemão Windhuk, que, para fugir da marinha
inglesa, aportou em Santos. Os
tripulantes alemães foram presos
e levados para campos de concentração (leia texto nesta página).
O assunto é tema de uma tese de
doutorado em história social na
USP, defendida pela historiadora
Priscila Ferreira Perazzo em agosto passado, e do livro ""O Canto do
Vento" (tradução de Windhuk),
do jornalista Camões Filho. Está
ainda sendo investigado por vários outros pesquisadores da USP.
Segundo o livro de Camões Filho, depois do fim da guerra, 90%
dos prisioneiros ficaram no país.
Esse período da história brasileira jamais foi incluído nos livros
didáticos porque, até 1996, era
considerado secreto pelo governo, que permitia somente o acesso parcial aos dados. Os arquivos
oficiais foram lacrados com base
em uma lei que proibia consultas
ou pesquisas por 50 anos. Em
1988, o prazo caiu para 30 anos.
"Essa é uma história que está
para ser escrita e foi omitida por
ser inoportuna. Esses arquivos revelam os carrascos de uma fase
desagradável da história política
brasileira", diz a professora da
USP e coordenadora do projeto
Arquivo-Universidade, Maria
Luiza Tucci Carneiro, especialista
em racismo e anti-semitismo.
A criação dessas áreas para prisioneiros ocorreu a partir de agosto de 1942, época em que o Brasil
saiu da neutralidade em relação à
guerra e se posicionou a favor dos
Aliados (EUA, Inglaterra e França). O bloco lutava contra os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). O Brasil era governado por
Getúlio Vargas.
De acordo com Perazzo, autora
da tese intitulada "Prisioneiros de
Guerra. Os Cidadãos do Eixo nos
Campos de Concentração Brasileiros", a perseguição aos imigrantes já existia alguns anos antes da eclosão da guerra. A diferença é que, antes da adesão aos
Aliados, os imigrantes eram vistos como "cidadãos indesejados".
A partir de 1938, alemães, japoneses e italianos começaram a ser
severamente reprimidos no Brasil
por representarem uma ameaça
ao projeto nacional-moderno do
governo, já que tinham ideologias
diferentes das sugeridas no país.
A reclusão nos campos foi praticamente uma precondição para o
apoio do Brasil aos Aliados. A historiadora explica que o tratamento dado aos imigrantes deixou de
ser uma questão nacional para
projetar-se como um dos elementos de negociação no campo da
política internacional.
O Brasil teve sua recompensa
depois da guerra. Enquanto a Europa estava quase destruída, o
país aproveitava um dos períodos
mais promissores no que diz respeito à geração de empregos, provenientes da industrialização com
o apoio do Aliados.
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