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Tripulação em fuga é levada para campos
DA FOLHA VALE
No dia 7 de dezembro de 1939, o
navio alemão Windhuk ancorou
no porto de Santos fugindo de
embarcações da marinha inglesa.
O Windhuk, uma embarcação
considerada luxuosa, com capacidade para 600 pessoas, estava
com cerca de 250 tripulantes, entre engenheiros, médicos e marinheiros que viajavam da Alemanha com destino à África do Sul.
Os demais passageiros haviam sido deixados na Cidade do Cabo.
Em 1939, embora não houvesse
o posicionamento do Brasil na
guerra, o navio foi apreendido em
Santos, e sua tripulação, proibida
de deixar os portos do país.
Os alemães viveram no navio
até 1942, quando, após o posicionamento do então presidente Getúlio Vargas, contrário ao Eixo,
244 passageiros do Windhuk foram presos e levados para São
Paulo, para a Casa de Detenção,
no Carandiru. O governo brasileiro não podia manter os estrangeiros encarcerados como presos comuns e instalou prisões provisórias em Pirassununga, Bauru e
Ribeirão Preto,
até que fossem
concluídos campos de concentração em Guaratinguetá e Pindamonhangaba.
A maioria dos
tripulantes do navio estava na faixa
dos 20 anos. Ex-babá do Windhuk, Hildegard
Braak, 86, que
chegou a dar à luz
um filho no campo de Pindamonhangaba, afirma que os tripulantes não se revoltaram com a prisão nem pensavam em rebeliões
ou fugas. ""Estávamos bem lá. Para que fugir? Só esperamos, então,
o fim da guerra."
Em Pinda, aos domingos, embora a idéia fosse manter os alemães isolados no campo, os tripulantes recebiam a visita de moradores da cidade, que tinham os
prisioneiros como a principal
atração do município.
Na cidade, o sistema de detenção permitia ainda que os prisioneiros fizessem compras na cidade, sempre acompanhados de soldados armados de fuzis, mas que
acabavam por relaxar a pena e se
uniam aos prisioneiros em confraternizações acompanhadas de
cerveja. Somente em uma oportunidade, os prisioneiros se rebelaram e tentaram fugir do espaço de
Pinda e por isso foram presos na
cadeia pública da cidade.
Em Guaratinguetá, o campo era
mais rígido, e os alemães não tinham contato com os brasileiros.
Os prisioneiros não podiam improvisar a alimentação e comiam
invariavelmente arroz com feijão.
O trabalho nas lavouras começava cedo e terminava à noite.
Apesar do sistema rígido de trabalho, dos 244 tripulantes mantidos em campos de concentração
por três anos, só um voltou à Alemanha com o final da guerra.
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