|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Inflação pode forçar aumento maior do mínimo
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A permanência da inflação em
patamares acima dos esperados
para este início do ano tem levado
o governo a reavaliar a idéia de
criar um fato positivo com o
anúncio, em abril, de um salário
mínimo de R$ 240. Para surtir o
efeito desejado, o reajuste pode
ter de ser maior. O motivo, além
de político, é aritmético: com um
reajuste de 20% sobre os R$ 200
atuais, o ganho real -acima da
elevação do custo de vida- do
poder de compra do mínimo corre o risco de ser o mais baixo desde 1997, no primeiro mandato de
Fernando Henrique Cardoso.
Quando o PT se fixou nos R$
240, nas discussões preliminares
para o Orçamento de 2003 no primeiro semestre do ano passado,
pensava-se num aumento real expressivo: naquela época, previa-se uma inflação de 4% em 2003.
Após a vitória de Luiz Inácio Lula
da Silva, o valor -que fora vetado pelo Planalto- voltou à tona.
Tucanos e pefelistas cobraram o
compromisso do PT, que na campanha prometeu dobrar, em termos reais, o valor do mínimo.
O PT preferiu adiar a decisão,
para evitar a politização precoce
da discussão sobre o mínimo (tradicional fonte de desgaste para o
presidente), refrear as cobranças
de sua própria base e permitir a
Lula a chance de dar uma boa notícia mais à frente. Dois fatores
complicam o plano: a inflação de
janeiro e fevereiro superou as previsões, e o governo decidiu elevar
o mínimo em maio, em vez de
abril (como nos últimos três
anos), o que adicionará um mês
de perda do poder de compra.
Para o período de 13 meses entre o último e o próximo reajuste
do mínimo, as projeções do mercado apontam para um IPCA -o
índice que baliza as metas do governo- acumulado de 17%.
Confirmadas essas previsões, os
R$ 240 representariam um ganho
real de irrisórios 2,6%, abaixo da
média de 4,9% apurada nos anos
FHC pelos mesmos critérios. Para
dobrar o valor de compra em
quatro anos, como prometeu Lula, o reajuste médio anual necessário é de 18,9%. Se quisesse seguir essa lógica a partir deste ano,
o governo teria de fixar um mínimo de R$ 278, o que, é claro, não
passa pela cabeça de ninguém.
A própria inflação, porém, pode
viabilizar um valor pouco superior aos R$ 240 -os mais otimistas, como o senador Paulo Paim
(PT-RS), chegam a falar em R$
250. A escalada dos preços tende a
elevar a arrecadação de impostos,
criando alguma folga no caixa.
Após uma reformulação, o Orçamento deste ano passou a prever um mínimo de R$ 234, em vez
dos R$ 211 do projeto enviado ao
Congresso por FHC. Se o reajuste
não passar disso, o mínimo não
terá tido nenhum aumento real.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Janio de Freitas: Uma outra guerra Índice
|