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CAMPO MINADO
Presidente da entidade de produtores rurais vê "grave retrocesso" em possibilidade de revogar MP das terras invadidas
CNA diz ter "medo" de Incra vinculado a MST
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A entrega das superintendências regionais do Incra a apadrinhados dos movimentos sociais
deixou "morrendo de medo" Antônio Ernesto de Salvo, 69, presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura). "Se essas
pessoas não tiverem juízo e colocarem em prática as políticas que
preconizavam antes, haverá um
ambiente de enorme intranquilidade no campo."
Ernesto de Salvo diz estar "torcendo" para que a "filtragem" de
nomes feita por entidades "explosivas" como o MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) não gere "inquietação capaz de quebrar o ritmo de produção agrícola do país".
"Ainda não aconteceu nada",
afirma, cauteloso. "Vamos aguardar. Há poucos anos, ninguém
imaginaria Lula [Luiz Inácio Lula
da Silva" presidente. Muito menos que o PT fosse conduzir a economia do modo como vem conduzindo. Às vezes, sob o peso do
cargo, essas pessoas do Incra resolvam se ater à lei."
Dirigente da CNA há 12 anos,
Ernesto de Salvo reprovou declarações do presidente do Incra,
Marcelo Resende, favoráveis à revogação da medida provisória
que, baixada sob FHC, impede
que terras invadidas sejam desapropriadas. "Talvez o presidente
do Incra devesse ficar calado.
Mas, já que falou, está falado",
disse. "Espero para ver como o
resto do Executivo vai agir, principalmente o presidente Lula."
Para ele, a revogação seria "um
grave retrocesso". De quebra,
"desgastaria enormemente o Lula". Vindo por medida provisória,
"indicará que o governo cedeu
aos movimentos sociais ". Chegando ao Congresso na forma de
projeto de lei, "abrirá uma frente
de batalha desnecessária".
Ernesto de Salvo pergunta:
"Conviria ao governo Lula abrir
uma discussão ideológica no
Congresso numa hora dessas, de
grande inquietação econômica?".
Como produtor rural, ele acha
que não: "O fazendeiro não gosta
de ideologia. Quer segurança para
plantar. Se a coisa caminhar por
esse lado, temo pelo futuro das relações no campo".
Normas
O presidente da CNA esteve
com o ministro Miguel Rossetto
(Desenvolvimento Agrário) antes
do Carnaval. Negociaram a revogação de pontos de uma instrução
normativa do Incra.
O documento foi baixado sob
FHC. Instituiu normas que deixaram sob risco de desapropriação
fazendas de porte médio, antes livres da tesoura do Incra. A CNA
foi à Justiça e obteve liminar (decisão provisória) que vinha travando novas vistorias de terras.
Ministro e dirigente agrícola
puseram-se de acordo. Parte da
instrução normativa será revogada já. Outra parte vai a discussão
num grupo de trabalho bipartite.
A CNA concordou em retirar o
processo judicial. O Incra retomará as vistorias.
Ernesto de Salvo manifestou a
Rossetto o seu temor quanto aos
ventos que sopram à esquerda. "O
ministro disse que não vai haver
ideologia na reforma agrária e que
será respeitada a lei." Sobre a medida provisória das terras invadidas: "Dissemos ao ministro que a
revogação não faria sentido e que
voltaria o ambiente de inquietação. Ele ficou calado".
A respeito das nomeações no
Incra, Ernesto de Salvo nada disse
a Rossetto: "Quem ganha a eleição tem o direito de nomear
quem bem entende".
Ele conta ter manifestado a Rossetto o seu desejo de que "a reforma agrária ande rápido". "Sendo
um sucesso, todo mundo ajuda.
Sendo mero sorvedouro de dinheiro público, uma enganação
para quem está sem emprego e
precisa ganhar a vida, é bom que
isso fique claro logo. Há outras
formas de dar cidadania. Hoje,
tenta-se esconder a miséria. Pega-se o pobre da periferia das cidades
e o joga no interior. Ele fica lá por
um tempo, escondido. Mas o problema continua vivo."
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