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REGIME MILITAR
Levantamento não foi divulgado à época
Jango tinha apoio popular ao ser deposto em 64, diz pesquisa Ibope
PAULO REDA
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS
Duas pesquisas feitas pelo Ibope
às vésperas do movimento militar
de 31 de março de 1964, e nunca
divulgadas, mostram que o presidente João Goulart contava com
amplo apoio popular ao ser deposto, apesar da polarização ideológica que o país enfrentava.
Uma das pesquisas, feita pelo
Ibope em três cidades paulistas,
apontava que 15% dos ouvidos
consideravam o governo Jango
ótimo, 30% bom e 24% regular.
Para 16%, a administração Goulart era má ou péssima.
A outra pesquisa do acervo do
Ibope, que entrevistou eleitores
de oito capitais entre os dias 9 e 26
de março de 64, mostra que 49,8%
dos pesquisados admitiam votar
em Jango caso ele pudesse se candidatar à reeleição, contra 41,8%
que rejeitavam a possibilidade.
Esses e outros levantamentos
inéditos estão sendo catalogadas
no Arquivo Edgard Leuenroth, da
Unicamp. A pesquisa que trata especificamente da popularidade de
Jango às vésperas do movimento
militar foi realizada entre os dias
20 e 30 de março de 1964 e ouviu
950 moradores das cidades de São
Paulo, Araraquara e Avaí. Foi feita a pedido da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.
A diretora do Ibope Opinião,
Márcia Cavallari, afirmou que os
critérios aplicados nesses levantamentos da década de 60 são semelhantes à metodologia das pesquisas recentes do instituto e são perfeitamente confiáveis.
Cientistas políticos e historiadores ouvidos pela Folha afirmaram
que os dados são muito relevantes
para discutir as circunstâncias
que levaram ao movimento militar de 64. Segundo a professora do
Departamento de História da
USP Gilda Iokoi, a popularidade
de Jango foi um dos aspectos decisivos para a sua deposição . "Como vivíamos um momento de
grande polarização ideológica, as
forças reacionárias se sentiram
ameaçadas", afirmou.
Para a professora do Centro de
Pesquisa e Documentação da
Fundação Getúlio Vargas Maria
Celina D'Araújo, as pesquisas do
acervo do Ibope são de extrema
importância para a compreensão
dos motivos que levaram ao movimento militar: "Reforça-se a tese de que o golpe de 64 foi um movimento anticomunista e não
contra o governo de Goulart".
Outra pesquisa feita pelo Ibope
no período revela que 59% dos
ouvidos eram a favor das medidas
anunciadas por Jango no histórico comício da Central do Brasil,
no Rio, no dia 13 de março de 64.
As propostas incluíam a desapropriação de terras às margens de
rodovias e ferrovias e o encampamento das refinarias estrangeiras.
O ex-senador Jarbas Passarinho, que na época era chefe do Estado-Maior do Comando Militar
da Amazônia, afirmou que não
conhecia os dados, mas que não
estranha o fato de Jango ser popular às vésperas do 31 de março.
"Desde a década de 50, quando
ocupou o Ministério do Trabalho,
Jango adotou uma série de medidas populistas, que garantiram a
sua boa imagem, principalmente
junto às classes mais pobres."
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