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São Paulo, domingo, 09 de março de 2003

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MÍDIA

Jornalista defende independência da Folha em relação ao governo Lula e isenção e criatividade na cobertura da guerra do Iraque

Ajzenberg inicia seu terceiro mandato como ombudsman

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando se tornou ombudsman da Folha pela primeira vez, em março de 2001, o jornalista paulistano Bernardo Ajzenberg, 44, se propôs a levar adiante um diagnóstico feito na ocasião pela Direção de Redação: "Está na hora de uma reviravolta no jornal. Vou me dar a tarefa de impulsioná-la".
Hoje, no início de seu terceiro mandato, avalia: "Certas coisas mudaram, mas a reviravolta ainda não ocorreu".
A guinada, de acordo com Ajzenberg, deveria se apoiar em um tripé. "Tínhamos por meta alcançar uma postura crítica menos retórica e mais técnica, produzir textos de maior qualidade e selecionar melhor os assuntos que iríamos publicar."
Para o ombudsman, o jornal ficou, sim, mais seletivo. Em contrapartida, "continua padecendo de um texto que, na média, é apenas regular e de uma abordagem crítica muitas vezes superficial".
"A Folha vive uma fase de transição", afirma. "Saiu de onde se encontrava em 2001, só que ainda não atingiu o destino almejado."
Para Ajzenberg, uma das barreiras que dificultam alcançar tal objetivo são as contingências econômicas. "A grave crise que afeta a mídia brasileira obrigou a imprensa a reduzir papel e pessoal. Isso, no entanto, não pode servir de desculpa para a ausência de qualidade e criatividade."
O ombudsman considera que, neste ano, a Folha tem pelo menos dois grandes desafios. O primeiro: não se posicionar nem contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva nem a favor dele. "Mais do que nunca, o jornal deve buscar a independência, apoiando o que julga correto e questionando, com dados concretos e análises qualificadas, o que acha errado."
O outro: cobrir a provável guerra no Iraque de maneira isenta, criativa e precisa, sem sucumbir às dificuldades que os meios de comunicação, sobretudo nos países periféricos, costumam enfrentar para noticiar episódios dessa natureza.
Ajzenberg é o sexto ombudsman do jornal desde 1989. Na ocasião, a Folha instituiu o cargo, inédito na imprensa latino-americana até aquele momento.
O ombudsman encaminha à Redação as reclamações dos leitores, comenta o desempenho do jornal em sua coluna de domingo e redige, todos os dias, uma crítica interna. Possui mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido enquanto exerce a função -nem pelo prazo de seis meses após deixá-la.
Casado, pai de duas filhas, Ajzenberg começou sua carreira em 1976. É também ficcionista e já lançou cinco romances. O mais recente, "A Gaiola de Faraday", saiu pela editora Rocco em 2002.



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