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MÍDIA
Jornalista defende independência da Folha em relação ao governo Lula e isenção e criatividade na cobertura da guerra do Iraque
Ajzenberg inicia seu terceiro mandato como ombudsman
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando se tornou ombudsman
da Folha pela primeira vez, em
março de 2001, o jornalista paulistano Bernardo Ajzenberg, 44, se
propôs a levar adiante um diagnóstico feito na ocasião pela Direção de Redação: "Está na hora de
uma reviravolta no jornal. Vou
me dar a tarefa de impulsioná-la".
Hoje, no início de seu terceiro
mandato, avalia: "Certas coisas
mudaram, mas a reviravolta ainda não ocorreu".
A guinada, de acordo com Ajzenberg, deveria se apoiar em um
tripé. "Tínhamos por meta alcançar uma postura crítica menos retórica e mais técnica, produzir
textos de maior qualidade e selecionar melhor os assuntos que
iríamos publicar."
Para o ombudsman, o jornal ficou, sim, mais seletivo. Em contrapartida, "continua padecendo
de um texto que, na média, é apenas regular e de uma abordagem
crítica muitas vezes superficial".
"A Folha vive uma fase de transição", afirma. "Saiu de onde se
encontrava em 2001, só que ainda
não atingiu o destino almejado."
Para Ajzenberg, uma das barreiras que dificultam alcançar tal objetivo são as contingências econômicas. "A grave crise que afeta a
mídia brasileira obrigou a imprensa a reduzir papel e pessoal.
Isso, no entanto, não pode servir
de desculpa para a ausência de
qualidade e criatividade."
O ombudsman considera que,
neste ano, a Folha tem pelo menos dois grandes desafios. O primeiro: não se posicionar nem
contra o governo de Luiz Inácio
Lula da Silva nem a favor dele.
"Mais do que nunca, o jornal deve
buscar a independência, apoiando o que julga correto e questionando, com dados concretos e
análises qualificadas, o que acha
errado."
O outro: cobrir a provável guerra no Iraque de maneira isenta,
criativa e precisa, sem sucumbir
às dificuldades que os meios de
comunicação, sobretudo nos países periféricos, costumam enfrentar para noticiar episódios dessa
natureza.
Ajzenberg é o sexto ombudsman do jornal desde 1989. Na ocasião, a Folha instituiu o cargo,
inédito na imprensa latino-americana até aquele momento.
O ombudsman encaminha à
Redação as reclamações dos leitores, comenta o desempenho do
jornal em sua coluna de domingo
e redige, todos os dias, uma crítica
interna. Possui mandato de um
ano, renovável por mais dois. Não
pode ser demitido enquanto exerce a função -nem pelo prazo de
seis meses após deixá-la.
Casado, pai de duas filhas, Ajzenberg começou sua carreira em
1976. É também ficcionista e já
lançou cinco romances. O mais
recente, "A Gaiola de Faraday",
saiu pela editora Rocco em 2002.
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